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Bloqueio à recompra de acções dá machadada final a Wall Street
Não bastavam as tensões comerciais entre os EUA e China nem os desaires do sector tecnológico, com Facebook e Amazon à cabeça, e até uma Tesla que não se compadece com as brincadeiras do seu fundador. Hoje, depois de um fim-de-semana prolongado de celebração pascal, e num dia em que os mercados europeus continuaram fechados, as bolsas norte-americanas viram-se perante uma nova dor de cabeça.
O mercado accionista norte-americano está a perder um participante-chave neste arranque do segundo trimestre do ano, que fez Wall Street voltar a afundar. E quem é esse participante? A América corporativa, responde a Bloomberg.
Há razões que o justificam. É que está prestes a arrancar a época de apresentação de resultados do primeiro trimestre, o que impõe um bloqueio à recompra de acções próprias durante cerca de cinco semanas e nas 48 horas posteriores à divulgação das contas. O que explica também o "blackout" de finais de Janeiro/inícios de Fevereiro – altura em que as cotadas do outro lado do Atlântico se preparavam para reportar os números de 2017.
E se esta norma regulatória nem sempre se reflecte com quedas desta dimensão é porque outros factores ajudam a contrabalançar esta ausência nas bolsas de muitas empresas norte-americanas.
Só que, desta vez, estamos perante uma "tempestade perfeita", uma vez que as tensões comerciais entre Washington e Pequim [devido à imposição de tarifas alfandegárias de parte a parte] e as perdas de algumas gigantes tecnológicas e da Tesla estão a pesar fortemente no sentimento dos investidores – numa altura em que, dada a celebração da Páscoa e a acalmia que ainda se sente na Europa, também os volumes de negociação são inferiores ao normal.
Segundo os dados compilados pela S&P Dow Jones, as empresas que integram o índice S&P 500 recompraram o equivalente a cerca de 4 biliões de dólares de acções próprias desde que o "bull market" teve início – fez nove anos no passado dia 9 de Março -, o que demonstra a importância destas recompras.
Na sessão desta segunda-feira, o Dow Jones encerrou a cair 1,91% para 23.643,71 pontos.
Já o Standard & Poor’s 500 recuou 2,24% para se estabelecer nos 2.581,82 pontos, o nível mais baixo desde inícios de Fevereiro.
Por seu lado, o Nasdaq Composite foi o mais penalizado, a afundar 2,74%, para 6.870,12 pontos, numa altura em que grandes empresas do sector continuam a pressionar o índice.
Nasdaq em queda no acumulado do ano
O Dow Jones e o S&P 500 fecharam o acumulado do primeiro trimestre com números vermelhos, mas o Nasdaq Composite, apesar dos recentes desaires, conseguiu ser o único dos três grandes índices de Wall Street com um saldo positivo no acumulado de 2018.
Isso mudou hoje. Com as quedas sofridas nesta sessão, o índice tecnológico já está também em terreno negativo no cômputo do ano, a ceder 1,39%.
Entre os piores desempenhos deste sector contam-se cotadas como o Facebook, que continua a ser penalizado pela informação de que uma empresa de consultoria política utilizou indevidamente os dados de 50 milhões de utilizadores da rede social. Na sessão de hoje, a empresa liderada por Mark Zuckerberg encerrou a cair 2,75% para 155,39 dólares.
Mas não só. A Amazon continua a ser alvo dos ataques do presidente Donald Trump, que acusa a retalhista online de fugir ao pagamento de impostos e de cobrar altos preços no envio de produtos. A empresa fechou assim a mergulhar 5,21% para 1.371,99 dólares.
Trump tem falado em recorrer à legislação antitrust para "perseguir" a Amazon, uma vez que receia que as retalhistas familiares sejam aniquiladas pela empresa liderada por Jeff Bezos, reportou na semana passada o website noticioso Axios citando cinco fontes distintas que disseram ter debatido a questão com o chefe da Casa Branca. No final da semana, uma porta-voz da Casa Branca disse que Trump não estava a planear qualquer acção contra a empresa, mas o presidente continua a fazer marcação cerrada à Amazon.
Recorde-se que Bezos, fundador e chairman da retalhista online, também é proprietário do The Washington Post ganhou um Pulitzer no ano passado devido às suas investigações às doações de Trump para instituições de beneficência. O trabalho jornalístico concluiu que as reivindicações filantrópicas de Trump eram exageradas e muitas vezes não correspondiam a doações para a caridade.
Ainda no sector tecnológico, a Cisco perdeu mais de 4%, a Alphabet [casa-mãe da Google] perto de 2,5%, a Ebay mais de 2% e a Microsoft 3,1%.
A destacar, pela negativa, há ainda a Tesla. A fabricante de veículos eléctricos terminou a ceder 5,13% para 252,48 dólares, isto depois de no fim-de-semana ter anunciado a recolha de 123 mil carros e de ter confirmado que o carro modelo X acidentado nos Estados Unidos, e que provocou a morte do seu condutor, tinha activado o sistema de piloto automático. As acções chegaram a afundar 8% durante a sessão.