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As implicações do “default” de Moçambique na bolsa portuguesa

Moçambique anunciou que não irá pagar a taxa de cupão de uma obrigação, o que levará o país a entrar em incumprimento. Quais os impactos nas cotadas portuguesas expostas a essa economia?

A construtora apresenta uma carteira de encomendas 'muito interessante', com um forte peso em África (54%) e na América Latina (40%). O CaixaBI, que tem uma recomendação de 'reduzir' para a cotada, diz que os esforços da Mota-Engil para expandir no exterior 'devem assegurar oportunidades de crescimento robustas'.
17 de Janeiro de 2017 às 15:43
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Moçambique vai falhar o pagamento de uma taxa de cupão de 59,7 milhões de dólares, referente a uma obrigação de 726,5 milhões de dólares com maturidade em 2023. Os analistas do BPI enumeram várias empresas da bolsa portuguesa com exposição ao país e analisam quais os impactos que a entrada em "default" de Moçambique pode ter.

Uma das acções em que os analistas do BPI chamam a atenção é a Mota-Engil. Segundo o banco, gera 12% do EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) em Moçambique. No entanto, o BPI refere, numa nota a investidores, que "de acordo com o grupo, a maioria dos clientes da Mota-Engil no país são privados e que os contratos públicos que estão a ser executados já estão pré-financiados diminuindo os riscos associados à situação da dívida do país".

Outra das cotadas que tem apostado em Moçambique é a Navigator. No início de 2016, a empresa sinalizou que iria reforçar o investimento no projecto de desenvolvimento florestal em Moçambique, de 2,12 mil milhões para 2,77 mil milhões de euros. Mas após a descoberta de que o país tinha dívida escondida e do corte de apoio do FMI a Navigator sinalizou uma reavaliação desse investimento.

"Segundo notícias recentes a empresa está a reavaliar este investimento considerando as incertezas políticas e económicas no país", realçam os analistas do BPI. Apontam ainda que no primeiro semestre a empresa teve de amortizar 18 milhões no valor dos activos no país.

Bancos com exposição, mas "relativamente pequena"

Outro dos sectores com presença em Moçambique é a banca. Mas os analistas do banco consideram que "as exposições são relativamente pequenas". O BPI refere que "o BCP e a Caixa Geral de Depósitos são os nomes com maior exposição ao terem participações maioritárias em subsidiárias locais". Já o BPI e o Novo Banco têm exposição através de participações abaixo de 50% em bancos locais que são contabilizadas como equivalência patrimonial.

Para o BCP, os analistas referem que "a exposição directa ao soberano é relativamente pequena (300 milhões de euros)". Além disso, o banco liderado por Nuno Amado detém 66,7% do moçambicano Millennium BIM, posição que tem um valor contabilístico de 196 milhões de euros. Este mercado contribuiu com 25 milhões de euros para os resultados líquidos do BCP nos primeiros seis meses de 2016.

Para a CGD, que detém 52,1% do BCI, o contributo foi de sete milhões de euros. Para o BPI, que tem também uma posição de 30% neste banco, Moçambique ajudou o lucro com três milhões de euros. Já o Novo Banco, que detém 40% do Moza Banco, viu o negócio em Moçambique afectar os resultados em oito milhões de euros, no primeiro semestre de 2016.

Projecto da Galp é importante para as finanças moçambicanas

Também a Galp tem apostado em Moçambique. A petrolífera tem uma participação de 10% na área 4 na da bacia de Rovuma, num consórcio de que fazem parte a italiana Eni e a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos. O investimento nesta área já foi aprovado pelas administrações da Eni e da Galp, após ter sido alcançado um acordo coma BP para se fazer um contrato de aquisição de gás natural por 20 anos.

Os analistas do BPI referem que "a decisão final do investimento é esperada para 2017 e requer tanto o fecho financeiro como a aprovação pelo governo moçambicano das condições". No entanto, os analistas do banco realçam que "o financiamento do projecto de Rovuma não está dependente do estado moçambicano apesar de a actual situação aumentos a percepção de risco".

O BPI considera ainda que dada a situação financeira de Moçambique, "o desenvolvimento do projecto torna-se mais crítica para as finanças moçambicanas, o que pode ser um factor para uma boa relação com o consórcio". 

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