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Inteligência Artificial é “o” novo factor de produção

Aprendemos que o capital e o trabalho constituem os factores de produção por excelência que estimulam a economia. Mas também sabemos que, em particular nos últimos 30 anos, o crescimento económico tem deixado muito a desejar ao ponto de se considerar, e aceitar, a estagnação como o “novo normal”. A novidade reside na existência de um novo factor de produção – protagonizado pela Inteligência Artificial – o qual, e de acordo com um relatório lançado esta semana pela Accenture, promete reescrever a história do crescimento económico um pouco por todo o mundo

14 de Novembro de 2016 às 16:00
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Em todo o mundo, as taxas de crescimento do PIB estão a "encolher". Esta contracção caracteriza não só os últimos anos, mas as três últimas décadas. Por outro lado, as principais medidas de eficiência económica encontram-se numa trajectória descendente, tendo em conta as tendências demográficas que apontam para uma população envelhecida e para um abrandamento nas taxas de natalidade, o que acaba por comprometer o crescimento da força laboral no mundo desenvolvido, apresentando-se este em modo de estagnação e até em declínio em alguns países.

Tendo em conta estas tendências pouco auspiciosas, são muitos os analistas que afirmam que a economia estagnada é o "novo normal". E mais pessimista ainda mostra-se o economista Robert Gordon, autor do livro "The Rise and Fall of American Growth" e que retrata, em detalhe, a história do crescimento económico na América, ao mesmo tempo que prevê um futuro pouco brilhante para o mesmo.

Gordan é citado num novo estudo realizado pela Accenture, intitulado "Por que é que a Inteligência Artificial é o futuro do crescimento" e apresentado esta semana durante a Web Summit em Lisboa, e que teve como objecto de análise o impacto da Inteligência Artificial (IA) em 12 economias desenvolvidas.

Gordon, que prevê que o crescimento se mantenha no mesmo passo de tartaruga que tem vindo a caracterizar a economia desde 2004, acredita que os dois últimos séculos das "grandes invenções", como os navios a vapor e o telégrafo, não se irão repetir e que será este défice de inovação, combinado com tendências demográficas desfavoráveis, resultados educativos debilitados e com o aumento das desigualdades de rendimentos, o principal responsável pelo abrandamento do progresso económico.

Mas se o economista norte-americano até poderá ter razão num aspecto – de que estamos a testemunhar o fim do crescimento e da prosperidade tal como os conhecemos – a verdade é que também está a subestimar – e muito – uma importantíssima parte desta (nova) história: o elemento em falta, e como escrevem os autores do relatório produzido pela Accenture, Mark Purdy, responsável pela área de pesquisa do Accenture Institute for High Performance e Paul Daugherty, Chief Technoloy Officer da consultora, é a forma como as novas tecnologias estão a afectar o crescimento na economia. O VER resume o essencial deste estudo, sublinhando a sua clareza – com vários exemplos práticos retratados – e a "ajuda" à compreensão dos motivos subjacentes à necessidade de as empresas, e os seus líderes, levarem muito a sério a inteligência artificial, não como uma "moda futurista", mas sim como uma realidade à qual, e para seu próprio bem, não deverão escapar.

© DR
© DR

Inteligência Artificial enquanto híbrido capital-trabalho

Recordando o bê-a-bá das ciências económicas, sabemos que, tradicionalmente, o capital e o trabalho são os "factores de produção" por excelência que estimulam o crescimento na economia – sendo que o crescimento ocorre quando existe um aumento do stock de capital ou de trabalho, ou quando estes são utilizados de forma mais eficiente. Por seu turno, o crescimento proveniente das inovações e das mudanças tecnológicas na economia é tido em conta na denominada produtividade total dos factores (PTF).

Mas, e como alertam os autores, os economistas sempre pensaram nas novas tecnologias enquanto estímulo para o crescimento, tendo em conta a sua capacidade para melhorar a PTF, o que fez sentido para as tecnologias que nos habituámos a ter até agora. Como sabemos, os grandes progressos tecnológicos ao longo dos últimos 100 anos – a electricidade, os caminhos-de-ferro e as Tecnologias de Informação – apesar de terem dinamizado a produtividade para níveis jamais vistos, não criaram forças de trabalho inteiramente novas.

Mas hoje estamos a testemunhar o levantar voo de um outro conjunto de tecnologias absolutamente transformadoras, e comummente referidas como "Inteligência Artificial", as quais ainda são vistas como similares às invenções tecnológicas do passado. Todavia, questionam os autores do estudo, e se a IA não for apenas outro estímulo para a PTF, mas antes um factor de produção inteiramente novo?

A chave, respondem, reside no facto de se considerar a IA como um híbrido capital-trabalho.

Por um lado, a IA consegue replicar as actividades laborais a uma escala e velocidade quase inimaginável e até realizar algumas tarefas que estão para além das capacidades dos próprios humanos. Adicionalmente, em algumas das suas áreas existe também a possibilidade de "aprenderem" mais rápido do que os humanos, apesar de não o conseguirem fazer de uma forma tão profunda (e ainda bem). O exemplo escolhido pelo estudo da Accenture nesta matéria diz respeito aos "assistentes virtuais" [que estão já a ser utilizados em várias profissões], os quais conseguem rever um milhar de documentos legais em poucos dias, um trabalho que, caso fosse feito por pelo menos três humanos, demoraria cerca de seis meses até estar terminado.

De forma similar, a IA pode também assumir a forma de capital físico enquanto robots ou máquinas inteligentes. E, ao contrário do capital convencional, que integra as máquinas e os edifícios, pode realmente melhorar-se a si mesma com o tempo, graças às suas capacidades de auto-aprendizagem.

Como já anteriormente referido, o estudo em causa analisou e, através de modelos preditivos, o impacto da IA, em 12 economias desenvolvidas, concluindo que se a mesma for considerada como um novo factor de produção e não apenas como um intensificador de produtividade, este poderá ser explosivo. As previsões para as 12 economias, em termos de taxas de crescimento anuais e tendo como base um cenário no qual a IA foi adoptada, poderão ser vistas aqui.

As novas avenidas do crescimento

De acordo com o estudo publicado pela Accenture e se a IA for considerada como um novo factor de produção, o crescimento da economia poderá ser atingido, e expandido, em pelo menos três casos.

Através da denominada "automação inteligente" e criando uma força de trabalho virtual. Complementando e melhorando as competências e as capacidades das forças laborais, bem como o capital físico, já existentes. E, tal como já aconteceu com as tecnologias suas antecessoras, estimular a inovação na economia. E, defendem os autores, com o tempo, todas estas novas "funcionalidades" transformar-se-ão num catalisador para uma transformação estrutural alargada, se as economias utilizarem a IA não só para fazer coisas diferentes, mas para se diferenciarem a si mesmas.


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