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Criptomoedas: Minerar bitcoins é rentável?

A menos que tenha uma central elétrica na Sibéria, não compensa. Saiba como funciona a mineração e os custos que comporta.

07 de Abril de 2020 às 12:23
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Esqueça a imagem de um mineiro com capacete e uma picareta na mão. De forma simplificada, "mineiros" de criptomoedas são pessoas que fazem funcionar, por exemplo, a rede bitcoin, e são recompensadas por isso com moedas virtuais. Esta atividade foi muito rentável no passado. Hoje, é questionável se compensa, pelo menos para o comum dos mortais.

Mas expliquemos do início. Sempre que ocorre uma transação de bitcoins, a pessoa que faz o pagamento "assina" a operação com uma chave privada, um código que só ela tem. Para que esta transação seja válida, é necessário resolver um puzzle criptográfico, que comprova que a chave privada "encaixa".

Só dessa forma a operação é autenticada.

A informação é comunicada à rede bitcoin, que a acrescenta à blockchain, uma espécie de livro de registo que contém o histórico da criptomoeda.

Ou seja, o papel dos mineiros é encontrar uma sequência que torne um bloco de transações de bitcoins compatível com o bloco anterior. Para isso, o computador precisa de efetuar milhares de cálculos por segundo para encontrar a combinação perfeita. Para os incentivar a encontrar a solução e acrescentar um novo bloco à blockchain, é-lhes atribuída uma pequena quantidade de bitcoins. E de onde vem o termo "mineiro"? Este trabalho intensivo de computação, recompensado por novas unidades de criptomoedas, foi comparado à mineração para extrair pedras ou metais preciosos. E o termo ficou. De notar que nem todas as criptomoedas funcionam com este sistema (designado "proof of work").

A nossa análise neste artigo aplica-se apenas à bitcoin e a criptomoedas com um modelo semelhante.

Lei não proíbe mineração

As criptomoedas continuam a ser uma área cinzenta na maioria dos países, e ainda mais em Portugal. A lei não proíbe que se façam trocas de criptomoedas ou "mineração", mas também não confere a estes "ativos digitais" qualquer estatuto em concreto.

Do ponto de vista fiscal, a venda de bitcoins não é, segundo a Autoridade Tributária, "tributável em IRS face ao ordenamento fiscal português, designadamente no âmbito da categoria E (capitais) ou G (mais-valias)". Mas, se as transações forem feitas no âmbito da atividade profissional ou empresarial, então, sim, é preciso declarar esses rendimentos e pagar o respetivo imposto. Neste caso, o contribuinte será tributado na categoria B.

Equipamento necessário

Em teoria, qualquer pessoa pode minerar bitcoins, desde que tenha um computador com uma grande capacidade de processamento (hardware) e um programa informático (cliente), ou um smartphone com uma aplicação para minerar criptomoedas.

Um exemplo de "cliente" é o Bitcoin Core, disponibilizado no site bitcoin.org. Mais não é do que uma evolução do código inicialmente proposto por Satoshi Nakamoto, o alegado criador desta criptomoeda. Mas, como a bitcoin se caracteriza pela descentralização e ausência de regras, não existe um "cliente" único.

Há que ter em conta que o algoritmo desta moeda virtual ajusta a dificuldade do puzzle à medida que o poder da rede aumenta. Por outras palavras, quanto mais capacidade de mineração houver, mais difícil será minerar bitcoins.

Esta dificuldade criou uma espécie de corrida a equipamento informático com grande capacidade de processamento. Inicialmente, eram usados os processadores (CPU) dos computadores pessoais. Depois, passou-se para as placas gráficas, dado que os GPU (Graphics Processing Unit) eram mais adequados à tarefa. Atualmente, para minerar bitcoins, é necessário dispor de equipamento na forma de sistemas de chips ASIC (Application Specific Integrated Circuit) desenhados especificamente para processar o algoritmo da bitcoin.

O mais conhecido produtor destes equipamentos é a empresa chinesa Bitmain, que criou a linha de sistemas Antminer. No mercado, começam, porém, a surgir alguns rivais.

Para alimentar instalações gigantescas, que têm milhares destes aparelhos, é preciso muita energia elétrica. Por exemplo, em outubro, a Bitmain anunciou a construção, no Texas, de uma instalação de mineração de criptomoedas, com uma capacidade inicial de 25 megawatts (MW). O objetivo é chegar aos 50 MW, o equivalente ao consumo elétrico de 180 mil a 360 mil portugueses (considerando os últimos dados da Pordata para consumo doméstico per capita).

A escolha do Texas não foi inocente. Este estado norte-americano tem a eletricidade barata, quando comparada com outras localizações. Pelos mesmos motivos, a maior parte dos equipamentos opera na China, devido ao baixo preço da energia. Também a Rússia tem algumas operações de monta, devido ao clima frio que a caracteriza. Para o equipamento operar na máxima eficiência é necessário impedir que sobreaqueça.

Vale a pena minerar criptomoedas menos conhecidas?

Para um consumidor com um computador pessoal já não é rentável minerar bitcoins, ou outras das principais criptomoedas, há vários anos. Demora muito tempo e consome demasiada energia.

Pode, no entanto, minerar criptomoedas menos conhecidas. Quanto menor o poder de computação dedicado a cada moeda, mais rentável será tentar minerar com equipamento comum. Com o objetivo de democratizar a mineração, algumas criptomoedas anunciam algoritmos desenhados para serem resistentes a ASIC.


73,12
TW/h
É a energia gasta anualmente pela rede bitcoin, o equivalente ao consumo de toda a Áustria.

313
kg de CO2
É o que é gerado na validação de cada transação.

7,08
Dólares
É quanto custava em janeiro uma transação na rede bitcoin.


Há, no entanto, uma desvantagem óbvia: se os fundamentos económicos da bitcoin já são questionáveis, os das criptomoedas menos conhecidas são praticamente inexistentes. Com eventuais exceções para uma ou outra, com características distintivas e aplicações específicas, trata-se de especulação no seu grau mais puro.

Não recomendamos, por isso, qualquer moeda virtual em particular para minerar. É como procurar uma agulha num palheiro, dado que estão constantemente a surgir novas, envoltas em promessas irrealistas de constituírem uma revolução tecnológica. As tentativas de manipulação do mercado, para inflacionar os preços, são comuns.

Em suma, é duvidoso de que valha a pena manter um computador ligado propositadamente para este fim.

O que claramente não recomendamos é que invista as suas poupanças na compra de criptomoedas e, muito menos, nas mais obscuras. Ainda assim, pode consultar o nosso conversor de moedas virtuais em www.deco.proteste.pt/ investe/ferramentas/conversor-moedasvirtuais.
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