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Bruxelas avisa que é preciso fazer “quadratura do círculo” e aumentar o Orçamento dos 27
Comissão lançou consulta alargada para novo Quadro Financeiro Plurianual após 2028. Só pagar dívida da bazuca, sem reforços no investimento defendidos no plano Draghi, consome um quinto do orçamento anual dos 27.
O próximo quadro financeiro da União Europeia, para o período de 2028 a 2034, não será compatível com manter o nível das atuais contribuições nacionais dos Estados-membros e de recursos próprios, avisa a Comissão Europeia, defendendo que é urgente desde já que os 27 façam avançar as propostas para novas receitas comunitárias apresentadas por Bruxelas no verão de 2023.
Numa comunicação que abre o desenho do próximo Quadro Financeiro Plurianual a consulta, nesta quarta-feira, Bruxelas defende um Orçamento "mais simples, mais focado e com maior impacto", mas também maior do que os pouco mais de 1% do rendimento nacional bruto da conjunto dos membros da União. Desde logo, para suportar a amortização da dívida emitida para financiar a chamada bazuca europeia, o Next Generation EU, que inclui os vários planos de recuperação e resiliência nacionais que estão nesta altura em execução.
"A Europa tem de fazer a quadratura do círculo: não pode haver um Orçamento da UE adequado às nossas ambições e, em particular, garantindo o reembolso do Next Generation EU, e, ao mesmo tempo, contribuições financeiras nacionais estáveis sem introdução de novos recursos próprios. É preciso fazer escolhas", defende a comunicação do executivo europeu, que apresentará dentro de cinco meses, em julho, uma proposta de novo quadro financeiro.
O alerta sobre as novas necessidades de financiamento ocorre depois de já em meados do ano passado a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, ter colocado na mesa dos 27 a discussão sobre um aumento das contribuições dos Estados-membros ou exigência de novos recursos próprios, incluindo a possibilidade de novo endividamento comum, face a estimativas de novos investimentos elevados necessários. Desde logo, no reforço das capacidades de Defesa da UE, perante a ameaça russa e as exigências na NATO, mas também para maior investimento em inovação. O recente relatório Draghi sobre o Futuro da Competitividade Europeia calculou que sejam necessários em torno de 800 mil milhões de euros anuais de investimento, parte dos quais financiados publicamente, com o ex-presidente do Banco Central Europeu a defender a emissão de nova dívida comum pelos 27.
O documento apresentado hoje para consulta lembra também a possibilidade de os Estados-membros terem de elevar o compromisso com investimento em Defesa no quadro da NATO, e que será necessário aumentar o investimento em pesquisa e desenvolvimento, que se mantém ainda abaixo da meta de 3% do PIB do bloco. Também o apoio à Ucrânia, as migrações e fronteiras externas da UE, a preparação para os riscos climáticos e a assistência humanitária, com Bruxelas a pretender reforçar a ação externa, são outras das novas exigências identificadas.
Mas, desde logo, impõe-se a necessidade de suportar o pagamento da bazuca europeia, que se estima que custe 25 a 30 mil milhões de euros anuais em média durante o período do próximo quadro financeiro, representando um quinto dos atuais fundos do orçamento do bloco. "É duas vezes o orçamento anual do (programa) Horizonte Europa, e duas vezes o orçamento total para segurança e defesa no atual orçamento plurianual de sete anos", destaca a Comissão, salientando que, apesar de as emissões de dívida ainda estarem em curso e os juros exigidos irem variando, "em todos os cenários as amortizações vão exigir financiamento significativo no futuro".
Neste quadro, a Comissão apela também a que os Estados-membros façam avançar com urgência a proposta de novos recursos próprios apresentada pelo executivo europeu em junho de 2023. Em discussão está a afetação ao Orçamento da UE de 30% das receitas de emissão de licenças de carbono, 75% das receitas novo mecanismo de ajustamento fronteiriço de carbono, 15% do lucros residuais de grande multinacionais exigidos no primeiro pilar do acordo da OCDE que também introduziu o IRC mínimo, e ainda uma nova taxa de 0,5% das margens de lucro das empresas apuradas em contas nacionais.
"A Comissão apela ao Conselho para que retome o trabalho sobre a questão dos novos recursos próprios com urgência", reflete a comunicação publicada afirmando que manter "o status quo não é opção".
Com a promessa de maior simplificação da miríade de programas comunitários dentro e fora do Orçamento dos 27, as linhas gerais apresentadas por Bruxelas prometem também maior intervenção nacional na afetação dos fundos comunitários. Pretende-se, segundo a comunicação, um plano para cada país com investimentos e reformas-chave, e focado nas prioridades comuns, incluindo as da Coesão, salienta-se num momento em que se discute a possibilidade de os fundos de coesão passarem a ter menor peso nos Orçamento da UE face às novas necessidades de investimento.
Uma das novidades pretendidas por Bruxelas e já apresentada na chamada Bússola para a Competitividade é também a criação de um novo fundo de apoio a sectores estratégicos e tecnologias críticas. O futuro Fundo da Competitividade Europeia poderá não contar com verbas novas, mas o plano é para já que centralize aquelas que estão dispesas em vários programas diferentes de financiamento à inovação.
A comunicação de Bruxelas fala também em reformular o financiamento da ação externa "para que tenha maior impacto e seja mais dirigido" aos parceiros da UE, com maior alinhamento estratégico e contribuindo para a política externa do bloco, e em impor maiores salvaguardas ao cumprimento das regras do Estado de Direito no desembolso dos fundos europeus.