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Anda tudo à procura de um milhão de euros

Troca de contactos e metas financeiras mais ambiciosas. As start-ups tentam caçar investidores, que tentam caçar start-ups. Entre filas para fazer, comer e ver tudo.

Miguel Baltazar
08 de Novembro de 2016 às 21:43
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Tem pouco mais de um metro de largura. O suficiente para colocar o computador portátil, os panfletos e os cartões de visita. A estreita bancada de madeira, alinhada numa fila de quatro, será o centro de operações de João Almeida, que está no Web Summit para apresentar a investidores e curiosos a City Guru. Desenvolvida há cerca de um ano, a aplicação permite melhorar a experiência dos viajantes fazendo a ligação entre guias locais e turistas.

"Na nossa app, baseada em geolocalização, conseguimos ver quem são os guias que estão à nossa volta, fazer um ‘tour’ e pagar através da aplicação", explica o CEO da start-up portuguesa.

No ano passado, em Dublin, a equipa da City Guru conseguiu um financiamento de 50 mil euros. Este ano, a fasquia está mais elevada: querem um milhão para apostar em marketing global e expandir o negócio. "Uma parte desse valor pode ser conseguido aqui", diz João Almeida que, desde que chegou ao certame, não perdeu tempo à espera da sorte. Até porque, nos negócios, a sorte dá sempre muito trabalho. "Comecei logo a mandar convites a investidores através da app do Web Summit e marquei reuniões. Já temos uma com investidores chineses fora daqui", conta.

Na feira, fazem-se os primeiros contactos com potenciais investidores. Os negócios, muitas vezes acontecem depois. "Mais tarde reunimos e falamos com mais calma. Combinamos um jantar ou uns copos. Há muita coisa que acontece nos bares, isso não é um mito acerca do Web Summit", explica João Almeida.

À procura de um milhão de euros está também Alexandra Ott, co-fundadora da La Femme Projects, uma start-up holandesa que garantiu lugar num dos espaços da feira reservados às empresas em fase Alpha. Nesta categoria, que define as start-ups em fase inicial, inserem-se 60% das que estão presentes no Web Summit deste ano.

Alexandra vai explicando a quem passa pelo seu negócio: uma plataforma de e-commerce dedicada à venda de equipamento desportivo de luxo para mulheres. O objectivo é chamar a atenção do maior número possível de investidores e potenciais parceiros de negócios. Afinal, o Web Summit é uma oportunidade única para fazer "networking". "Queremos criar uma app no futuro. E essa é uma das razões porque estamos aqui. É a melhor maneira de fazer contactos com outras empresas", diz a empreendedora.

Entre as centenas de expositores onde as start-ups apresentam o seu negócio passeiam outras centenas de investidores à procura de uma boa oportunidade para apostar o seu dinheiro. É o caso de Miguel Carvalho, que está pela primeira vez num Web Summit. "Venho ver se encontro uma boa oportunidade de negócio, se vejo potencial", admite. Interesse despertou-lhe uma start-up holandesa, cujo expositor chama a atenção de muitos visitantes. Especialmente homens. Olhando mais de perto, é possível perceber porquê. Os responsáveis distribuem por quem passa pequenos copos com cerveja, para darem a conhecer o seu negócio: uma máquina de cerveja, vendida a 600 dólares, que permite a qualquer pessoa fazer a bebida em casa, com ingredientes encomendados através de uma aplicação. "Porquê comprar cerveja, se podemos fazer em casa?", pergunta Bart van de Kooij, co-fundador da Minibrew, que procura um investimento de 1,5 milhões de euros. "Acreditamos que é completamente possível atingir esse valor aqui".

Pelos três pavilhões da FIL dedicados à exposição das start-ups passam milhares de pessoas, num corropio frenético. Muitas com o objectivo de conhecer as empresas e apreciar as tendências. Outras só de passagem para o Meo Arena onde decorrem as conferências, no palco central. O frenesim só acalma à hora do almoço, onde a zona das roulottes – nos espaços entre os pavilhões – passa a ser a mais concorrida, com filas intermináveis. "O negócio está a correr bem. Mas as nossas expectativas também são muito altas", admite Mónica Henriques, directora comercial do Caco, um restaurante onde toda a comida é servida em bolo do caco. "Esperamos facturar 5 a 6 mil euros por dia". Ali perto, na roulotte Cozinha Tradicional Portuguesa, a clientela é tanta que a picanha já esgotou. "Agora o que sai mais são os hambúrgueres", diz o cozinheiro sem mãos a medir, de olhos postos nos grelhados.

Dentro do pavilhão, há pessoas concentradas em volta de um palco, onde decorre um pitch – uma apresentação curta, de 3 ou 4 minutos, para dar a conhecer uma start-up de forma resumida e apelativa. Foi assim que Bruno Farinha, CEO e fundador da Petable apresentou a sua "app" logo às primeiras horas da manhã. "Acho que correu bem, consegui passar a ideia do que estamos a fazer e o que queremos no futuro", diz o empreendedor, que criou uma aplicação para fazer a ligação entre donos de animais domésticos e clínicas veterinárias. No final de 2015, tinha 30 clínicas clientes e 5 mil utilizadores. Hoje, tem 35 mil utilizadores e cerca de 200 clínicas.

No Web Summit, Bruno Farinha espera especialmente fazer contactos. "Queremos conhecer investidores com quem temos tido contacto por e-mail, porque criar relações é o mais importante que existe neste meio. Queremos também falar com possíveis parceiros. Outras empresas que fazem software que precisamos", explica. Obter financiamento é outro dos propósitos. "Acho possível começar uma relação que daqui a uns meses dê num investimento, sem dúvida". Até porque, sublinha o empreendedor, "os investidores não gostam de investir em pontos, gostam de investir em linhas". "Gostam de nos conhecer ao longo do tempo, onde estávamos e onde estamos agora para entrarem na altura certa", concretiza.

Na plateia, a ouvir o CEO da Petable, esteve o investidor polaco Michal Gregier, que está á caça de oportunidades em Portugal. "Estou à procura de start-ups que estejam em linha com a nossa estratégia de investimento e também à procura de inspiração, de olhar para as tendências, porque investimos em start-ups mas também somos uma start-up building", explica o gestor de desenvolvimento de negócios da To Reforge. "É a primeira vez que estou em Lisboa, e é fantástico. Não conhecemos as oportunidades locais, mas estamos muito encorajados a conhecer mais". 

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