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Peixe português com assinatura de chef? Sai mais um
Portugal é um dos países que mais consome peixe no mundo. Das 190 espécies existentes na costa nacional, nem todas chegam às mesas nacionais. Os chefs querem aproveitar o que o mar lhes dá e contrariar a importação de pescado. Sem esquecer a sustentabilidade.
Havia uma lista negra para o jantar de sábado, 15 de Outubro. No Vista Restaurante não entram robalo, carabineiro, espadarte ou bacalhau. Quatro chefs tinham de trabalhar com o "não" do mar. À cozinha só chega o que vem à rede.
Esta é a segunda edição do Mar Adentro, evento organizado pelo Bela Vista Hotel e pela Amuse Bouche. O objectivo: dar a conhecer os produtos nacionais e colocá-los no circuito gastronómico, respeitando a sustentabilidade do sistema marítimo.
"O peixe é a minha paixão, um bem precioso que temos", começa por dizer Pedro Bastos, director-comercial da Nutrifresco, empresa algarvia de comércio de pescado. Nos bastidores do evento, quem o conhece diz que se apaixonou pelo mar em criança. Hoje segue os barcos através do telemóvel e sabe que produtos trazem à lota.
Num mundo onde os grandes da indústria ditam tendências de consumo, algumas espécies podem ficar em risco. Em Portugal, o maior consumidor de peixe da União Europeia e um dos maiores do mundo, grande parte continua a ser importada. Porque não aproveitar, de forma sustentável, as 190 espécies que as águas nacionais têm para oferecer?
"Desta vez vamos dar um pouco mais de sossego ao robalo". Mesmo com as dificuldades sentidas para mobilizar os profissionais do mar a diversificarem a sua pesca e com as regras pouco definidas para o sector em Portugal, Pedro Bastos acredita que é possível. Para isso arranjou quatro aliados neste jantar em Portimão.
Leonel Pereira do São Gabriel, Hugo Nascimento da Peixaria da Esquina, João Oliveira do Vistas e Carlos Fernando do Loco. Com a maioria a representar uma nova geração de profissionais da cozinha, aceitaram o desafio de trabalhar com aquilo que o mar lhes deu. Havia planos para ter ferro-de-engomar, um molusco que se pode encontrar no Algarve, mas não foi possível. "Contactei mais de dez pessoas", exemplifica Pedro Bastos.
Com uma estrela Michelin, Leonel Pereira não teve muitas dúvidas sobre que peixe usar. Este ano comprou carapau amarelo em Olhão e não ficou com dúvidas: "Foi o melhor peixe que comi este ano". Depois juntou a pescada, apresentada como uma alternativa ao bacalhau importado da Noruega. Na carta do São Gabriel tem este peixe desde Março.
Hugo Nascimento, braço direito de Vítor Sobral, brincou com o berbigão. "É selvagem, ao contrário da amêijoa que é cultivada. Como é que uma coisa tão pequena tem uma personalidade tão forte?", pergunta-se. No prato principal, a viagem foi até aos Açores com a bicuda.
Tudo se completa com o chef anfitrião, João Oliveira, a explorar o sabor do cavaco, das cracas e da anchova. Em conjunto, optaram por não ir contra a natureza. Pelo contrário, aproveitá-la e tirar dela o melhor partido. Com o resultado à prova nos pratos – e na boca.