Notícia
"Gigantes" não olham a meios para se manterem "cool"
"Bolsos fundos" de gigantes como Facebook, Google e Apple permitem "comprar feito". Qualquer start-up com uma boa ideia pode ser um "alvo". Mas neste sector, as aquisições não se fazem por ganância, mas sim por medo
Raramente passa uma semana sem que um dos "gigantes" da alta tecnologia invista na aquisição de start-ups que lhe conferem três elementos: uma ideia ou um produto que acreditam conseguir rentabilizar, gente talentosa para juntar às suas fileiras e, "last but not least", clientela. Mas o que "gigantes" como o Facebook, a Google, a Apple e a Yahoo! estão a tentar comprar, acima de tudo, é a sua própria sobrevivência na indústria mais competitiva e de sucesso mais efémero em toda a História.
19 mil milhões de dólares, um valor próximo do produto económico português em um mês. O Facebook esmigalhou em Fevereiro todos os recordes com o valor pago por um serviço de mensagens instantâneas em forte expansão mundial. Muitos "ergueram o sobrolho", incluindo Bill Gates, que disse que "nunca teria pago um valor destes por uma empresa destas". Os investidores não se melindraram e levaram as acções a novos máximos.
Nem todas as aquisições feitas pelas maiores tecnológicas do mundo - norte-americanas, mas não só - têm este valor inédito. A maioria são pequenas aquisições - pequenas na perspectiva do comprador, de algumas dezenas de milhões de dólares. São start-ups com produtos que vêm colmatar uma lacuna no seu serviço ou cuja expansão o "gigante" quer absorver.
Foi o caso da compra, por mil milhões de dólares, do Instagram pelo Facebook. Ou do YouTube pela Google, em 2006. A Google já tinha um serviço de vídeo (o GoogleVideo) que fazia o mesmo que o YouTube. Mas era no YouTube que as pessoas estavam e era para o YouTube que as pessoas se dirigiam. Diz-se que a Google tentou fazer o mesmo com o Facebook, quando este mal tinha saído do dormitório de Harvard em que nasceu. Não houve negócio e, desde então, a Google tentou lançar várias redes sociais para competir com o Facebook, sem sucesso. A propósito, a Yahoo! tentou comprar o Facebook em 2006, por mil milhões de dólares. Hoje vale 170 vezes esse valor.
Na tecnologia, é difícil "correr atrás do prejuízo"
Situações como esta levam as "gigantes", hoje, a não olhar a meios para adquirir novas start-ups cujo produto e experiência querem absorver. Mas sobretudo porque não querer gastar agora pode levar a gastos ainda maiores para "correr atrás do prejuízo". "As gigantes pensam assim: se vemos uma nova tecnologia que achamos que será perene, popular e com a qual podemos fazer dinheiro, vamos fazer tudo para a comprar", diz ao Negócios, Michael Walden, professor de Economia da North Carolina State University.
Michael Walden diz que é com esse intuito que muitas start-ups se formam: crescer em popularidade e vender-se a uma "gigante" ou na bolsa. Por vezes, não têm escolha, para não "morrerem" têm de obter novo financiamento e juntarem-se a uma marca estabelecida. Mas o "medo de morrer" não é exclusivo das start-ups. Muito pelo contrário. "As empresas tecnológicas sabem que estão a lidar com um público com muito pouca lealdade. Hoje estão aqui, amanhã podem não estar", diz o académico.
19 mil milhões pelo WhatsApp é muito? "O valor de algo é aquilo que alguém está disposto a pagar para o comprar", diz Michael Walden, que salienta que "quando estes gigantes compram start-ups não estão a olhar apenas para o preço, estão a olhar para o futuro e têm perfeita noção de que não estão a comprar apenas mais um complemento para o seu negócio, poderão estar a comprar algo que assegura que o seu negócio - todo ele - permanece viável".
Clique na imagem para ampliar |