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"Vai ter de haver injeção de dinheiros públicos na indústria jornalística no seu todo"
Gonçalo Moura Martins e António Ramalho consideram o Plano de Ação para a Comunicação Social insuficiente para tornar sustentável o modelo de negócio das empresas de media, afetado pela mudança de hábitos de consumo e pelas grandes plataformas digitais. Novo episódio do podcast Partida de Xadrez vai para o ar esta segunda-feira.
"É imperioso criar mecanismos alternativos de financiamento da indústria jornalística, por mais que a esta não lhe agrade", defende Gonçalo Moura Martins no 20.º episódio do podcast Partida de Xadrez, que vai para o ar esta segunda-feira no site do Negócios e nas principais plataformas.
As mudanças nos hábitos de consumo de informação e as plataformas digitais internacionais puseram em causa "irremediavelmente" o modelo de negócio das empresas de comunicação social, mas as 30 medidas do plano de ação apresentado pelo Governo não serão suficientes "para conseguir inverter a situação".
Por essa razão, o gestor defende que, até que seja possível criar um mecanismo de repartição adequada das receitas entre as grandes plataformas e os produtores de conteúdos, "o Estado deverá criar sistemas de financiamento complementar e alternativo de forma a preservar a pluralidade, liberdade e sustentabilidade desta indústria". É que se esse é um bem público, "ele tem que ser pago pelo Estado, se não puder ser pago por mais ninguém".
António Ramalho elogia o Plano de Ação para a Comunicação Social por ter trazido o tema para a praça pública, numa altura de degradação "muito rápida" dos resultados das empresas de comunicação social. Considera as medidas uma resposta "bem intencionada", mas com uma coerência "frágil".
Em seu entender, "o Governo, e bem, considera que este setor está fortemente debilitado e os jornalistas demasiado precarizados" e que "a comunicação social merece uma atenção própria para assegurar sustentabilidade, independência e pluralismo".
Para o gestor, "o que justifica que este setor seja tratado de forma diferente é a produção de conteúdos, a capacidade de termos jornalistas a refletir, a escrutinar, a entender, a dar opinião. Esse é o valor que temos que preservar na sociedade".
É isso, diz, que justifica "o esforço público no quadro do financiamento, nem que seja temporário", ainda que acredite que terá de acontecer por muito tempo.
Moura Martins não tem dúvidas que "vai ter de haver uma injeção de dinheiros públicos na indústria jornalística no seu todo". De que forma? Em seu entender, pela via fiscal será ineficiente e também não acontecerá pela entrada no capital das empresas. "Tem de haver alguma forma de subsidiação", afirma, frisando que "não vai ser possível continuarmos a ter uma comunicação social deprimida, falida, em dificuldade, porque isso é pior do que não a ter".
António Ramalho recorda, por seu lado, que neste momento a confiança nos media em Portugal ainda apresenta 61%, enquanto na Europa já só está nos 42%, para defender que "a grande urgência é como ajustamos o modelo de negócio que dê resposta a esta necessidade de não o fazer falir enquanto ainda tem níveis de credibilidade suficientes".