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Cluster do calçado achata pandemia com exportações recorde de 2.347 milhões
Portugal vendeu ao estrangeiro 76 milhões de pares em 2022, num valor histórico que superou os dois mil milhões de euros, mais 13,8% face a 2019, enquanto o de componentes para calçado faturou 65 milhões e o setor de artigos de pele e marroquinaria 273 milhões.
Todos os segmentos da "Indústria mais sexy da Europa" registaram, no ano passado, recordes nas exportações, superando a pandemia de salto alto.
"O cluster do calçado e artigos de pele exportou, em 2022, 2.347 milhões de euros, um novo máximo histórico. Relativamente ao período homologo do anterior, assinala-se um crescimento de 22,2%", avança a associação do setor (APICCAPS), esta quinta-feira, 9 de Fevereiro, em comunicado.
Pela primeira vez, o calçado português ultrapassou os dois mil milhões de euros (2.009 milhões) nas exportações, valor que corresponde à venda de 76 milhões de pares – mais 20,2% em valor e 10,5% em quantidade do que no ano passado, respectivamente.
Comparativamente a 2019, ano pré-pandemia, o valor do calçado exportado aumentou 13,8%
Por países de destino, "Portugal está a crescer em praticamente todos os mercados mais relevantes, como Alemanha (mais 11,7% para 433 milhões de euros), França (mais 15% para 384 milhões) e Países Baixos (mais 25% para 306 milhões)", destaca a APICCAPS, realçando, também, as vendas para países extracomunitários, que já ascendem a 20% (392 milhões de euros) do total exportado .
"Uma década antes, em 2012, os mercados extracomunitários significavam apenas 9% do total exportado", realça a associação liderada por Luís Onofre, observando que "o Brexit contribuiu decididamente para esses números, mas não justifica por si só este salto expressivo", enquanto, no espaço de uma década, as exportações para os Estados Unidos passaram de 19 para 114 milhões de euros, num crescimento de 52% só em 2022.
Por outro lado, o preço médio do calçado exportado situou-se nos 26,40 euros em 2022, o que representa um crescimento de 8,7% face ao ano anterior.
"O ano de 2022 foi de afirmação do calçado português nos mercados internacionais, para onde se destina mais de 95% da produção do setor", afirma o porta-voz da APICCAPS.
Ainda assim, explica Paulo Gonçalves, "foi um ano mais complexo do que os números à primeira vista faziam adivinhar, uma vez que aos efeitos da pandemia e à guerra da Ucrânia se associaram outros fatores de incerteza, em especial a escassez de mão-de-obra qualificada, o aumento acentuado da inflação e seus reflexos na política monetária, a emergência de novos canais de distribuição, a afirmação de novos concorrentes, as alterações nas preferências dos consumidores, as incertezas sobre a evolução do consumo e a disrupção nas cadeias de abastecimento internacionais".
Componentes para calçado a artigos de pele disparam
Também o setor de artigos de pele e marroquinaria atingiram em 2022 um novo máximo histórico nas exportações, que cresceram 37,4% para 273 milhões de euros, com França (mais 99% para 86 milhões) e Espanha (mais 34,2% para 70 milhões) a serem "determinantes para esse registo".
Também com um bom desempenho nos mercados externos está o setor de componentes para calçado.
Já as exportações do setor de componentes para calçado aumentaram 30,2% para 65 milhões de euros. "O segmento ‘solas e saltos’, em particular, assinala um crescimento de 20% para 32 milhões de euros", realça a APICCAPS.
Neste setor, os grandes destaques vão para os crescimentos na Alemanha (mais 13% para 16 milhões de euros), França (mais 40% para 11 milhões) e Espanha (mais 16% para 9 milhões de euros).
Conjuntura abranda em 2023
Fechado o ano de 2022 em alta, a fileira do calçado está apreensiva com o abrandamento económico generalizado.
"A evolução da conjuntura da indústria portuguesa de calçado dá sinais de abrandamento", lê-se no último boletim de conjuntura da APICCAPS,
Com efeito, "as empresas continuam a considerar o estado dos negócios positivo, mas a percentagem das que o consideram melhor do que um ano antes diminuiu", salienta o documento, elaborado em parceria com o Centro de Estudos e Economia Aplicada da Universidade Católica do Porto.
De uma maneira geral, "as empresas de maior dimensão e com maior orientação exportadora fazem uma apreciação da situação mais favorável do que as restantes".
Ainda segundo este boletim, no quarto trimestre do ano a produção e o emprego ainda evoluíram positivamente, mas a carteira de encomendas teve "uma evolução menos favorável do que em trimestres anteriores", enquanto a tendência para subida dos preços atenuou, quer em Portugal quer nos mercados externos.
Já a percentagem de empresas que afirmam debater-se com escassez de encomendas está a aumentar, "mas as preocupações empresariais são ainda lideradas pelo preço das matérias-primas e pela escassez de mão-de-obra qualificada".
Refletindo a evolução da carteira de encomendas, "as previsões dos inquiridos apontam para uma ligeira diminuição da produção, no início de 2023, e uma estabilização do estado dos negócios num nível satisfatório".
"O ano de 2023 será particularmente exigente para as empresas exportadoras", prevê o porta-voz da APICCAPS, "face a um enquadramento macroeconómico internacional de alguma contenção".
"Importa por isso reforçar a atividade de promoção externa do setor, para que seja possível potenciar novas janelas de oportunidade", remata Paulo Gonçalves.
(Notícia atualizada às 13:48)