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Calçado português volta a dar cartas em Milão. Presença na feira aumentou, mas ainda longe do que era

Setor português regressa ao certame internacional para apresentar as tendências da próxima estação Primavera-Verão 2023. Perspetivas para este ano são “excelentes”, mas APICCAPS garante que empresas terão de ter capacidade de resposta para fazer face ao cenário económico que se avizinha.

Matthew Lloyd/Bloomberg
17 de Setembro de 2022 às 19:30
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Cerca de 41 empresas rumam este domingo à MICAM, que decorre em Milão de 18 a 21 de setembro, para apresentar as grandes tendências para a próxima estação, depois de o setor ter registado o melhor desempenho de sempre no primeiro semestre deste ano. De janeiro a junho, Portugal exportou 40 milhões de pares de calçado, o que representa um crescimento de 22% face ao ano anterior. O valor ascendeu aos 957 milhões de euros, mais 27,5% que em 2021.

Apesar de a presença na feira ter aumentado face à última edição – em que foram 35 -, está muito aquém daquilo que em tempos foi. "A presença na feira aumentou de grosso modo 10% relativamente à última, mas está ainda longe do que era há sete ou oito anos. Houve também uma quebra muito significativa por via da pandemia", afirma Paulo Gonçalves, porta-voz da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS).

Receios quanto à evolução dos negócios e o facto de se ter acabado por tornar  "uma feira mais europeia" levou uma percentagem muito expressiva de empresas a ainda não ter regressado. "Uma feira como esta habitualmente recebe clientes de todo o mundo, mas nos últimos dois anos tornou-se uma feira mais europeia. Asiáticos, americanos e até os russos deixaram de vir, e isso tem algum impacto para o nosso setor", afirma Paulo Gonçalves, realçando que na última década a aposta do setor é na procura de novos mercados.

"Achamos que a partir do próximo ano vamos ter aqui um fôlego em matéria de promoção comercial externa, temos a expectativa que o Governo rapidamente liberte o novo pacote de apoio a promoção externa – esta semana anunciado", salienta.

Apesar da desistência por parte de muitas empresas, a APICCAPS insiste que a presença nestes certames – assim como a aposta noutras formas de promoção – é essencial para combater as adversidades que se avizinham.

"Sabemos que os negócios vão ficar mais complexos e exigirão das empresas uma capacidade de resposta diferente. Só com reforço do investimento será possível no próximos anos continuar com bons resultados. Sem uma dinâmica promocional arrojada dificilmente conseguiremos conquistar novos clientes", continua, lembrando que muitos dos clientes tradicionais desapareceram nos últimos três anos.

"Estamos a falar de milhares e milhares de lojas que desapareceram nos últimos três anos. Só na Alemanha, França e Reino Unidos terão fechado cinco mil lojas. Portanto, ou temos a capacidade de substituir esses clientes por outros e vamos à procura de novos mercados, ou o futuro imediato do nosso setor estará condicionado", assegura.

Comprar menos, mas melhor

Nesta edição, objetivo do setor português passa também por se afirmar enquanto referência na sustentabilidade e desmitificar o uso de couro.

"Achamos que reunimos as condições para que Portugal seja a grande referência internacional no desenvolvimento de soluções sustentáveis. No futuro os consumidores vão ser confrontados com esta realidade: comprar menos calçado, mas de melhor qualidade. Queremos que os nossos sapatos sejam melhores, mais duradouros e amigos do ambiente para que no limite o cliente internacional quando tenha que fazer uma escolha, esteja disponível para pagar um preço mais elevado por um par de sapatos, mas que este dure vários anos e até possa passar de pais para filhos".

Mas na sustentabilidade há lugar para o couro, garante. "Vamos fazer a apologia do calçado em couro porque entendemos que é preferível comprar menos, mas de grande qualidade e o couro é a melhor matéria-prima que existe no mercado: é abundante, ao contrário do que pensam ou dizem, e é matéria-prima natural, reaproveitamos o que sobra da indústria alimentar, não andamos a matar vaquinhas para fazer sapatos. Reaproveitamos aquilo que de outra forma ia para aterros e era altamente nefasto para o meio ambiente", conclui.


A jornalista viajou para Milão a convite da Appicaps

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