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Vistos “gold”: chineses vêm para arrendar, angolanos para morar
Durante o Salão Imobiliário de Lisboa, o Negócios falou com representantes do sector imobiliário na China, França, Brasil e Angola e procurou traçar um perfil dos investidores internacionais.
O "negócio da China" à distância de um bilhete dourado
"A maioria só quer o visto ‘gold’", define Zhu Zhanhong, conselheiro do presidente da APEMIP para assuntos do Oriente. Os investidores chineses vêem para Portugal à procura de investimentos rentáveis no ramo imobiliário: os imóveis são arrendados a outras pessoas.
Uma das vantagens de Portugal face a outros países prende-se com o facto de o investidor "só precisar de passar aqui sete dias" para obtenção da autorização de residência – os "compromissos" no país natal a isso obrigam.
Só uma fatia muito reduzida de chineses opta, efectivamente, por viver em Portugal. Zhanhong admite que é "moda" sair da China nesta fase. A febre das autorizações de residência para fins de investimento pode, por isso, abrandar.
Os chineses são os maiores investidores em Portugal, representando 80% dos vistos emitidos.
Franceses pedem mais ligações áreas
A pressão fiscal dos últimos anos levou muitos franceses a sair do país nos últimos dois anos, conta Alain Deffoux do Syndicat Nationel des Professionnels de l’Immobilier. Integrados no Regime de Tributação de Residentes Não Habituais, os franceses são os terceiros maiores investidores no imobiliário nacional.
A "fiscalidade vantajosa" não foi o único atractivo: a tranquilidade do país ajudou. "Este é um momento interessante: os preços aqui são muito interessantes para os franceses", admite Deffoux.
Ainda assim o responsável defende que "Portugal deve desenvolver as ligações [aéreas] a França", não só através das companhias "low cost". Porto e Faro podiam beneficiar do investimento, confessa.
"Se as vantagens fiscais acabarem, acho que os franceses vão continuar a vir para o país", conclui perante as potencialidades de Portugal.
O samba a um ritmo crescente
"É uma grande sacada". Assim define Waldemir Bezerra, do Conselho Federal de Corretores de Imóveis, o programa dos vistos "gold". O Brasil tem vindo a afirmar-se, cada vez mais, como um dos maiores investidores no imobiliário português.
Se a facilidade do idioma e a proximidade cultural são atractivos, "a porta de entrada para a Europa" assume-se como factor fulcral.
A maioria vem para "diversificar o investimento" face ao Brasil. Estão sobretudo na casa dos 40 ou 50 anos e procuram regiões em Lisboa onde a taxa de retorno seja "maior para fins de arrendamento". "A faixa mais madura vem para ter aqui o seu apartamento", conta.
Bezerra admite que é preciso "trabalhar mais o marketing e a divulgação do destino Portugal", perante o desconhecimento do programa dos vistos "gold" no país irmão.
Angolanos com "olho" no mercado
Qualidade de vida, estabilidade, proximidade cultural, segurança. São os ingredientes definidos por Evaristo Manuel, da Associação dos Profissionais Imobiliários de Angola, para investir em Portugal.
"A intenção do cidadão angolano é mais para acomodação. Os activos de investimento são poucos", admite. O investimento: fazem-no nas empresas.
Os angolanos que procuram estabelecer residência em Portugal através dos vistos "gold" são, de uma forma geral, "de classe média" e "abaixo dos 40 anos". Os que investem em activos estão num patamar etário superior.
Lisboa, Cascais e Oeiras são os locais predilectos. "Não têm muita paixão pelo Algarve", confessa Manuel.
Questionado sobre o impacto do eventual fim dos vistos "gold" no investimento angolano, o responsável não tem dúvidas: "os benefícios nunca vão acabar, vão é diminuir".
Os angolanos estão "de olho" nos grandes negócios imobiliários no país, em especial no turismo. Para já, admite que "nenhuma empresa se mostrou disponível" para a compra de activos como a Herdade da Comporta ou os empreendimentos Lusotur em Vilamoura. "O mercado está desperto, está de olho nisso. Se a oferta for boa nunca é demais", conclui.