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Construtor do pavilhão do Sporting compra Almeida Garrett no Porto

O complexo do antigo colégio foi comprado à Universidade do Porto pela Real Douro, que faz parte do grupo Ferreira e prefere um projecto de habitação do que um novo hotel. A transacção está a agitar as águas políticas na cidade.

Rita Neves Costa / JPN
António Larguesa alarguesa@negocios.pt 18 de Novembro de 2017 às 17:05

A promotora e gestora imobiliária que comprou em hasta pública o antigo colégio Almeida Garrett à Universidade do Porto, por um valor de 6,1 milhões de euros, pertence ao grupo Ferreira, liderado pelo empresário Gaspar Ferreira, que actua sobretudo na área da engenharia e da construção e que tem a Ferreira Build Power como principal braço do negócio.

 

A Real Douro, que integra a área de negócio da promoção e desenvolvimento patrimonial – onde se inclui a imobiliária Norte Golf, promotora do projecto Vale Pisão –, tem sede na Zona Industrial de Tuias, foi constituída em Janeiro de 2003 e registada na Conservatória do Registo Comercial de Marco de Canaveses. De acordo com os dados oficiais, consultados pelo Negócios, tem Catarina Ferreira da Silva como presidente e registou em 2015 vendas de 800 mil euros e lucros de 112 mil euros.

 

Na origem do grupo Ferreira está uma empresa fundada em 1984 para remodelar interiores e produzir peças de carpintaria, caixilharia e paredes amovíveis, que passou no início dos anos 1990 a dedicar-se por completo à construção civil, com a designação Ferreira Construções. Com sede no Porto desde 2009, no ano seguinte adoptou a marca actual e também o grupo foi reestruturado com a criação da "holding" GFH.

 

A sede da Liga de Clubes, as novas instalações da Rádio Renascença e o edifício do terminal de cruzeiros do Porto de Leixões fazem parte do portefólio desta construtora, que em 2009 fez uma "joint venture" com uma empresa local (LIdCO) para projectos imobiliários na Líbia. Um dos últimos projectos entregues pela Ferreira Build Power foi o do pavilhão João Rocha para o Sporting Clube de Portugal, adjudicado em Maio de 2015 depois de a direcção "leonina" suspender o acordo com a Somague, que tinha vencido o concurso.

 

"O Grupo Ferreira, onde se inclui a ‘holding’ GFH, tem projectos imobiliários diversificados, entre habitação, hotelaria, logística e retalho. O projecto residencial mais relevante é o Vale Pisão, havendo outros em início mas ainda não lançados no mercado", elucidou ao Negócios o administrador, Rui D'Ávila, esclarecendo que não será construído um novo hotel naquele complexo de edifícios localizado no centro histórico do Porto.

 

Habitação "mais relevante" que a hotelaria

 

O engenheiro civil, que foi director da Sonae Turismo durante uma década, até entrar em 2013 para a administração desta "holding", detalhou que o grupo "não pretende fazer um hotel porque considerar que aquele local é mais adequado à habitação e [porque] a procura de habitação é, neste momento, mais relevante do que a hotelaria". Segundo o INE, o valor de venda dos alojamentos no Porto cresceu 6% no último ano, ajudada sobretudo pela zona da Baixa, onde os preços dispararam 22%.

Este esclarecimento surge na sequência das dúvidas expressas pelo Bloco de Esquerda sobre o uso que terá este imóvel, que tem entrada pela praça Coronel Pacheco e que está inserido num terreno com uma área total de 8.520 metros quadrados. Também a vereadora da CDU, Ilda Figueiredo, questionou se a autarquia foi contactada para exercer o direito de preferência na aquisição do ex-colégio.

O vereador Manuel Pizarro, eleito pelo PS, já veio defender que a Câmara do Porto deve comprar o imóvel pelo preço oferecido pela empresa vencedora do concurso – o preço base era de 4,768 milhões de euros e houve outras duas propostas mais baixas. O candidato derrotado por Rui Moreira nas últimas autárquicas reclama que "aquele espaço é de enorme importância para a cidade" e defende que deve ser transformado num espaço público.

 

A posição mais correta será a Câmara Municipal do Porto propor-se a adquirir aquele imóvel pelo preço que foi licitado. manuel pizarro, vereador da câmara do porto (ps)

A resposta da autarquia portuense chegou de imediato, informando que "não poderia, mesmo querendo, exercer direito de preferência" no caso do antigo colégio Almeida Garrett, por "não ser um edifício protegido nem estar abrangido por uma Operação de Reabilitação Urbana (ORU)". À Lusa, fonte oficial do Executivo referiu ainda que não tinha dado entrada "nenhum processo, projecto ou pedido de informação prévia" para aquele local.

 

Receitas próprias para reinvestir

 

Este complexo de edifícios não serve as actividades da Universidade do Porto desde 2001, altura em que a Faculdade de Engenharia – que ali manteve alguns dos seus serviços a partir de meados da década de 70 – transferiu todos os seus serviços para as instalações construídas de raiz, que actualmente ocupa no Pólo da Asprela. Nos últimos anos esteve cedido à ACE – Academia Contemporânea do Espectáculo, que provisoriamente manteve ali a suas actividades lectivas até 2015, quando foi concluída a construção da sua sede no Palácio do Bolhão.

 

Ao Negócios, fonte oficial da Universidade do Porto admite que "apesar de terem sido considerados vários cenários para uma possível reutilização" do espaço, concluiu que "a magnitude da intervenção necessária à recuperação do complexo tornaria os valores da operação insuportáveis para a disponibilidade orçamental da instituição, mesmo recorrendo a soluções de financiamento comunitário".

O reitor da Universidade do Porto, Sebastião Feyo de Azevedo, lançou este ano um programa de reabilitação patrimonial avaliado em 45 milhões de euros.
O reitor da Universidade do Porto, Sebastião Feyo de Azevedo, lançou este ano um programa de reabilitação patrimonial avaliado em 45 milhões de euros.

 

 

A instituição de Ensino Superior dirigida por Sebastião Feyo de Azevedo decidiu então colocar em hasta pública a venda ou concessão do espaço, definindo desde logo que a receita obtida seria integralmente reinvestida num programa de reabilitação patrimonial, que inclui faculdades, residências estudantis, cantinas e estruturas desportivas.

 

Só para os próximos dois anos, a academia tem previstas intervenções orçadas em mais de 20 milhões de euros, que vão permitir renovar os edifícios das faculdades de Economia e de Belas Artes, criar novas instalações para a Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação, reabilitar as nove residências universitárias e recuperar o Estádio Universitário.

 

"Dado o subfinanciamento estatal que as instituições de Ensino Superior têm sofrido ao longo dos últimos anos, a quase totalidade deste investimento terá de ser suportado pelas receitas próprias da Universidade do Porto, nos quais se incluem as verbas obtidas em operações de alienação patrimonial, como acontece com o antigo Colégio de Almeida Garrett", conclui a mesma fonte da Universidade do Porto.

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