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Santos Pereira: Vítor Gaspar rejeitou cortes às rendas das energéticas para salvaguardar privatização da EDP
Álvaro Santos Pereira afirma que, aquando do seu mandato como ministro da Economia, lutou "contra os lóbis e interesses instalados" e que precisou mesmo do apoio da troika para avançar com políticas alternativas após a rejeição do primeiro pacote por parte das Finanças, lideradas por Vítor Gaspar.
"O ministro das Finanças não concordou [com as medidas propostas] porque não queria que nada pusesse em causa a privatização" da EDP, disse Álvaro Santos Pereira perante a Comissão Parlamentar de Inquérito ao Pagamento de Rendas Excessivas aos Produtores de Eletricidade, esta quinta-feira, 7 de fevereiro. De acordo com o ex-responsável da Economia, a posição das Finanças era a de que "os cortes tinham de ser feitos de outra maneira desde que não afetasse a privatização da empresa", pois "qualquer obstáculo à privatização ia afetar a credibilidade portuguesa nos mercados externos". Uma atitude de "extrema prudência" e "aversão a qualquer tipo de risco", levou Gaspar a fechar esta porta.
Desta feita, a contribuição extraordinária do setor energético, uma "medida constitucional e muito bem recebida no parlamento", e a qual Santos Pereira classifica como "a melhor solução", não avançou.
"Estava convencido que tínhamos perdido batalha e não a guerra, que os cortes eram ainda possíveis por outras vias", conta. Neste sentido, considerou que "o melhor apoio que podia ter na altura era a troika", a quem garante ter pedido apoio, pelo interesse partilhado em cortar as rendas ao setor.
O argumento troika também foi utilizado na negociação com os produtores: "se não concordassem com as nossas propostas, era provável que a troika fosse ainda mais dura com eles", alega ter argumentado. E, "depois de muito barafustarem", terão aceitado. Os cortes chegaram, então, na garantia de potência, cogeração, nas mini-hídricas e eólicas, até terem totalizado os 2,1 mil milhões de euros. "Praticamente o valor a arrecadar com a CESE até 2020", avalia.
Da parte dos produtores, acusa-os não só de terem construído leis de que os próprios beneficiavam – situação que considera particularmente verdadeira no caso do setor da energia, como aponta ainda a existência de "lóbis e interesses instalados" e diz, inclusivamente, ter sido alvo de chantagem.
Quanto à necessidade de efetuar cortes, defende que as rendas e privilégios do setor "podiam ter sido desastrosas para a economia nacional" se não tivéssemos atuado, e que constituíam uma "bomba relógio prestes a rebentar com a economia nacional e orçamentos das famílias".
O Governo de Passos Coelho aprovou em outubro de 2011 a última fase de privatização da EDP, com a venda direta de 21,35% do capital da elétrica aos chineses da China Three Gorges por 3,45 euros por ação, o que se situa acima da atual cotação. O Estado encaixou quase 2,7 mil milhões de euros.
(Notícia atualizada às 18:27)