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Refinaria de lítio da Galp e Northvolt em Setúbal vai atrasar dois anos, para 2028

Em declarações ao Negócios, fonte oficial da Galp confirmou os atrasos mas garantiu que a empresa continua comprometida com o projeto (que poderá criar 1.500 empregos diretos e indiretos). No entanto, alertou que o acesso a fundos nacionais e europeus não está garantido e tem contribuído para os atrasos.

Alexandre Azevedo
12 de Setembro de 2024 às 09:12
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Com uma decisão final de investimento prevista para 2024 (dependente ainda de apoios a fundo perdido a nível nacional ou europeu), o projeto da joint venture Aurora Lithium - formada e 2021 pela petrolífera portuguesa Galp e pela fabricante sueca de baterias elétricas Northvolt - para construir uma refinaria de lítio em Setúbal, deverá avançar só em 2028. Ou seja, dois anos mais tarde do que as previsões iniciais que apontavam para 2026, avançou esta quinta-feira plataforma noticiosa Sifted (que conta com o apoio do Financial Times).   

O investimento estimado na construção desta refinaria é de mais de mil milhões de euros, para uma capacidade inicial de produção anual até 35 mil toneladas de hidróxido de lítio, o suficiente para produzir baterias para equipar mais de 700 mil novos veículos elétricos.

Em declarações ao Negócios, fonte oficial da Galp confirmou os atrasos mas garantiu que a empresa continua comprometida com o projeto (que poderá criar 1.500 empregos diretos e indiretos). No entanto, alertou que o acesso a fundos nacionais e europeus não está garantido e tem contribuído para os atrasos.

"Devido à natureza e complexidade do projeto, continuam a ser desenvolvidas ações (incluindo acesso a fundos nacionais ou europeus que nos permitam competir com outros projetos e que ainda não estão garantidos) e os estudos indispensáveis para a tomada de decisão final de investimento, o que determinou o atraso na execução do projeto", referiu.

Antes de tomar a decisão final de investimento, o consórcio tem de garantir o acesso a fundos nacionais ou europeus "que ainda não estão garantidos", bem como realizar os estudos necessários.

No site do Banco Europeu de Investimento, o projeto da refinaria de Setúbal surge incluído na lista de "projetos a financiar", isto depois da Galp e Northvolt terem submetido uma proposta ao banco, pedindo 850 milhões de euros. Este pedido está "para aprovação" desde fevereiro de 2024, refere o BEI.  

Além disso, a mesma fonte da Galp afirmou também que a incerteza sobre quando o fornecimento de lítio a partir de minas localizadas em Portugal poderá estar disponível também prejudicou os prazos de desenvolvimento do projeto. 

"É também determinante termos confiança sobre a data de início de produção de concentrado de espodumena das minas em Portugal", disse.

Do lado da Northvolt e da Aurora Lithium, as empresas não responderam aos pedidos de esclarecimentos da Sifted, que refere ainda que o último relatório anual da Northvolt não indica uma data para a construção e conclusão do projeto. 
 
No ano passado, a Northvolt estimou que o custo de desenvolvimento da refinaria em Setúbal seria de 700 milhões de euros. Inicialmente, a construção da fábrica deveria ser paga conjuntamente pela Galp e pela Northvolt, mas o fabricante sueco de baterias confirmou que as duas empresas estão em busca de financiamento e apoios da União Europeia.

Ou seja, o objetivo era precisamente garantir financiamento através do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) da União Europeia. No entanto, com este adiamento dos prazos do projeto Aurora, as empresas acabaram por retirar esse pedido de ajuda aos fundos europeus, já que o PRR abrange apenas projetos que entrarão em produção até ao final de 2026.

 
Já este ano, a Galp confirmou ao Negócios  que os investimentos de larga escala que a petrolífera tem na calha para Portugal – 650 milhões para descarbonizar a refinaria de Sines e perto de mil milhões para construir uma refinaria de lítio em Setúbal, com a gigante sueca de baterias elétricas Northvolt – podem estar em risco por causa da elevada carga fiscal no país, já que que "esses projetos dependem de um equilíbrio entre riscos e rentabilidade", tendo em conta os custos de investimento, financiamento e operação, perspetivas de mercado, entre muitos outros.
 
"Esperamos que a pesada tributação que atinge os nossos negócios na península Ibérica não nos impeça de avançar mais depressa na região", alertou a administradora financeira da Galp, Maria João Carioca. 

"O contexto regulamentar e fiscal pode ter, naturalmente, um impacto determinante na avaliação dos riscos, podendo funcionar como acelerador ou travão de uma decisão de investimento", admitiu a petrolífera, confirmando que a decisão final de investimento em relação ao projeto Aurora Lithium, a "joint venture" entre a Galp e a Northvolt para a refinação de lítio, deverá avançar em 2024. "O projeto aponta para que esta decisão possa ser tomada até ao final do corrente ano".

Quanto à possibilidade de o projeto da refinaria de Setúbal acabar por ser desenvolvido noutro país, fontes ouvidas pelo Negócios não confirmaram este cenário. Mas sublinharam que "a Galp e a Northvolt ainda aguardam pela decisão de atribuição de incentivos nacionais e/ou europeus para o projeto", sendo esta uma "peça fundamental para que o projeto seja competitivo internacionalmente".

Até agora, a sueca onseguiu angariar para os seus projetos de fabrico de baterias na Europa 15 mil milhões de dólares em financiamento de empresas como a BlackRock. Mas este ano a empresa tem enfrentado uma série de problemas. Em julho, a BMW cancelou uma encomenda de baterias no valor de dois mil milhões à Northvolt após atrasos na produção.

A empresa anunciou esta semana uma "revisão estratégica" das suas operações, que inclui a venda de uma filial polaca dedicada à construção de sistemas de armazenamento de baterias e o despedimento de alguns dos seus 7.000 trabalhadores.  

Notícia atualizada com declarações da Galp ao Negócios.
 

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