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"Lóbi da energia é dos mais fortes em Portugal", diz Álvaro Santos Pereira
Em entrevista ao jornal Público, o ex-ministro da Economia diz que é preciso prosseguir com os cortes nas rendas excessivas de que o sector da energia beneficia. Trata-se de um dos lóbis mais poderosos em Portugal, com forte ligação ao poder político.
Com uma forte ligação ao poder político, o lóbi da energia foi e continua a ser fortíssimo, e é uma influência nefasta no nosso País. O entendimento é de Álvaro Santos Pereira, ex-ministro da Economia, que, em entrevista ao Público, defende que é preciso ir mais longe no corte das rendas excessivas de que o sector da energia ainda beneficia.
Não querendo comentar directamente a investigação do Ministério Público à EDP, Álvaro Santos Pereira, o ministro independente de Passos Coelho que seria substituído pelo democrata-cristão Pires de Lima, defende ao Público que é preciso não reverter o que já foi feito no sector da energia e até ir mais longe, já que os consumidores continuam a ser prejudicados com os contratos que o Estado firmou com as empresas.
Ossectores da energia "foram protegidos durante demasiado tempo, criaram lóbis fortíssimos, com ligação ao poder político, e que tiveram uma influência nefasta no nosso País". Foram no passado e continuam a sê-lo, já que este é ainda "um dos lóbis mais fortes que temos em Portugal".
O ex-ministro da Economia, agora na OCDE, aponta vários caminhos para a redução dos privilégios no sector, desde um corte nos CMEC (os custos de manutenção do equilíbrio contratual, que parecem ser o foco da investigação judicial), passando por reduções nas garantias de potência, ou pela criação de um mercado mais concorrencial - a este propósito, considera que as interligações a Espanha e França são fundamentais.
Álvaro Santos Pereira reclama créditos para o seu período de governação, dizendo que cortou 3,5 mil milhões de euros de rendas na energia, coisa que nunca antes tinha acontecido. E adianta que, quando saiu, escreveu uma carta ao primeiro-ministro dizendo-lhe que "tínhamos identificado mais 1,5 mil milhões de euros de rendas na energia que era preciso cortar e eles aplicaram uma contribuição ao sector".
"O que é preciso é continuar a identificar se há mais rendas ou não", porque no fim, quem perde é o consumidor.
As declarações do ex-ministro da Economia surgem numa altura em que o Ministério Público já constituiu sete arguidos numa investigação aos contratos celebrados entre o Estado e a EDP. São eles António Mexia (EDP), João Manso Neto (EDP Renováveis), João Conceição (REN). Pedro Furtado (REN), Rui Cartaxo (Novo Banco, na REN até 2014), Pedro Rezende (AT Kearney Portugal, ex-REN) e Jorge Ribeirinho Machado (EDP).