Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Governo quer intervir no preço dos combustíveis

Matos Fernandes quer que o Executivo possa ter mão nas margens para evitar “subidas duvidosas” dos preços. Gasolineiras dizem que decreto-lei viola “regras básicas do mercado livre” e que Governo quer “desviar atenções”. Impostos são a grande fatia da fatura final.

O ministro João Matos Fernandes quer ajudar as empresas com impacto da subida nos custos energéticos.
Ministro do Ambiente propôs um decreto-lei que permite ao Governo controlar subida das margens das gasolineiras sobre o preço dos combustíveis. André Kosters/Lusa
  • ...

O Governo quer pôr mão nas margens que as gasolineiras ganham com os preços dos combustíveis, numa altura em que estão em máximos de vários anos. O ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, anunciou que vai propor um decreto-lei que permitirá ao Executivo atuar sobre estas margens de comercialização, de forma a evitar “subidas duvidosas”. Face a esta ameaça, as gasolineiras criticam, atirando responsabilidade, pelos preços elevados, para os impostos aplicados pelo Estado.

Matos Fernandes explicou pretender, com esta proposta, fazer com que o “mercado dos combustíveis reflita os seus verdadeiros custos”. E explicou no Parlamento: “Ou seja, quando se verifique uma descida, a mesma seja sentida e apropriada pelos consumidores, ao invés de apropriada pelas margens de comercialização.”

Esta vontade do Governo surge depois de publicado, no mesmo dia, o relatório da ENSE - Entidade Nacional para o Setor Energético, que revela uma subida destas margens. Entre o final de 2019 e junho deste ano, realça, as gasolineiras arrecadaram, em termos brutos, mais 36,62% (6,9 cêntimos) na gasolina e 5,08% (1 cêntimo) no gasóleo. Agora, no último mês do semestre de 2021, por cada litro consumido nos postos de abastecimento, a marca em questão fica com 27 cêntimos no caso da gasolina e 21 cêntimos no gasóleo.

Numa audição parlamentar que se realizou esta quarta-feira, por videoconferência, Matos Fernandes frisou ainda que a intervenção do Executivo seria temporária e “o mais limitada possível”.

Para gasolineiras, Governo quer “desviar atenções”

A Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas (Apetro) e a Associação Nacional de revendedores de Combustíveis (Anarec) mostram-se surpreendidas com as declarações de Matos Fernandes.

A Apetro diz ao Negócios que “não há razão nenhuma que justifique a intervenção do Governo. Isto são regras básicas de um mercado livre”, acrescentando que “esta análise [da ENSE] não corresponde à realidade, porque é impossível que sejam estes pequenos valores que tenham assim tanta influência no preço final”. Já a Anarec anuncia em comunicado que o Governo quer “desviar a atenção do consumidor da verdadeira razão de o preço ser tão elevado”.

Grande fatia são impostos

De acordo com os dados da Apetro, quase dois terços do preço que cada português paga pelos combustíveis correspondem a impostos. Muito mais, por exemplo, do que a própria cotação da matéria-prima.

O porta-voz desta associação lembra que, ao mesmo tempo que as referidas margens subiam, aumentava também o imposto sobre a taxa de carbono. No mesmo período analisado pela ENSE (entre 2019 e 2021), enquanto a margem do gasóleo subiu 1 cêntimo, a taxa de carbono aumentou 2,8 cêntimos.

Entre janeiro e abril deste ano, o Estado português terá arrecadado qualquer coisa como 942,3 milhões de euros através dos dois maiores impostos cobrados na fatura dos portuguesas: o IVA - Imposto sobre Valor Acrescentado e o ISP - Imposto sobre Produtos Petrolíferos. As contas do Negócios mostram que este valor corresponde a 61,62% de todo o dinheiro que foi gasto pelos portugueses a abastecer os veículos no mesmo período em análise.

Só referente ao ISP, o Estado terá arrecadado um total de 590,5 milhões de euros até abril deste ano. Um número que corresponde a 17,36% dos 3,4 mil milhões de euros que o Executivo espera acumular até ao final de 2021, conforme o inscrito no Orçamento do Estado. Mas se os valores do ISP continuarem na média mensal até agora registada (cerca de 147,6 milhões de euros), o Estado vai chegar a dezembro com 1,77 mil milhões de euros nos cofres, um número que fica 48% aquém do estipulado no Orçamento.

Preços em máximos de vários anos

Na mesma audição, Matos Fernandes sublinhou a parte do relatório da ENSE, em que referia que os preços estavam em máximos de dois anos considerando todos os combustíveis. Já segundo dados da DGEG, o preço atual do gasóleo simples está em máximos de 2013 (oito anos) e o preço da gasolina estará em máximos de 2012 (nove anos). Esta semana, cada litro de gasóleo custa 1,454 euros e de gasolina 1,667 euros, sendo que este ano aumentaram 15% e 18%, respetivamente.

Por esta altura, também o preço do Brent, que serve de referência para Portugal, está em máximos de dois anos e meio. A cotação do barril subiu mais recentemente, depois de a OPEP+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) não ter alcançado um acordo de produção. 



Ver comentários
Saber mais João Pedro Matos Fernandes Apetro ENSE Anarec ISP energia gasóleo gasolina preços
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio