Notícia
Em busca de água potável
Abundante em alguns países e escasso noutros, o uso da água ainda é insustentável
04 de Junho de 2012 às 09:00
Agricultura | A actividade agrícola absorve 70% da água doce usada e o consumo deverá aumentar 19% até 2050
Embora haja um elevado grau de incerteza em relação aos efeitos das alterações climáticas, os modelos actuais apontam para o aumento generalizado da temperatura atmosférica. Devido à ocorrência de ondas de calor, são esperados fenómenos hidrológicos extremos, as cheias e secas. Em paralelo, as ondas de calor irão aumentar a evapo-transpiração das planta, e, por consequência, as necessidades de água para a rega e a produção agrícola. A perspectiva não é brilhante.
Mas não é de certeza por falta de água. Qualquer fotografia espacial mostra que cobre a maior parte do nosso planeta. O problema é que apenas 3% dela é água doce disponível para ser consumida pelos actuais 7 mil milhões de seres humanos.
Abundante em alguns países e escasso noutros, este recurso natural, essencial para a sobrevivência humana, é usado intensamente pela agricultura, indústria e actividades domésticas - só que de forma cada vez mais insustentável. É o principal alerta contido num relatório da consultora britânica Maplecroft, que avalia a pressão sobre a procura de água em mais de 160 países.
Mas a população mundial vai aumentar ainda mais. Em 2050 iremos ser 9 mi milhões o que, de acordo com o 4º Relatório da ONU sobre a água no mundo, e em conjunto com as inundações e secas devido às alterações climáticas, irá ameaçar fortemente as recursos hídricos se nada for feito.
"A água doce não está a ser usada de forma sustentável", disse a directora-geral da Unesco, Irina Bokova, em comunicado. "As informações rigorosas ainda não são a regra e a gestão está fragmentada... O futuro é cada vez mais incerto e os riscos vão agravar-se", acrescentou.
Segundo Irina Bokova, o consumo pela agricultura já representa cerca de 70% da água doce usada no mundo e deverá aumentar pelo menos 19% até 2050, quando a população mundial chegar aos nove mil milhões de pessoas.
Uma "revolução silenciosa" decorreu no subsolo, à medida que a quantidade de água extraída dos aquíferos triplicou nos últimos 50 anos, fazendo desaparecer uma barreira contra a seca, diz o relatório da ONU. "As alterações climáticas vão afectar drasticamente a produção de alimentos no Sul da Ásia e no Sul de África, entre hoje e 2030. Em 2070, o stress hídrico também vai afectar a Europa Central e do Sul", acrescenta. Outro relatório, da Organização para a Cooperação Económica e Desenvolvimento (OCDE), estima que a procura mundial de água vai aumentar 55% em 2050, numa altura em que mais de 40% da população mundial viverá em bacias hidrográficas ameaçadas pelo stress hídrico.
Este documento alerta que, com uma reserva de água limitada, os gestores políticos serão obrigados a fazer uma melhor gestão entre a procura para a agricultura, energia, consumo humano e saneamento básico.
Em várias regiões de economias em crescimento como China e Índia, a procura de água supera a oferta. É uma situação que poderá restringir as actividades agrícolas e de outras áreas, limitando potencialmente o crescimento económico. Também está a crescer o receio em relação à capacidade de produzir alimentos suficientes para sustentar a humanidade.
Atenta ao problema, a China está a desenvolver medidas para minimizar os riscos de escassez de água. Uma delas é o desvio da água do rio Iansequião para Pequim através de uma série de canais, para garantir o abastecimento de um quarto das necessidades da cidade até 2014. A Índia, por sua vez, extrai mais água subterrânea do que qualquer outro país do mundo. Em média, 56% dela é usada na agricultura. Mas esse valor pode subir para 90%, devido às alterações climáticas. Como um dos maiores produtores de arroz, trigo, batata e cana-de-açúcar em todo o mundo, o uso continuado insustentável de fornecimento de água subterrânea pode contribuir para a redução das colheitas agrícolas, com implicações desastrosas para o preço dos alimentos.
Em algumas zonas do país, já há iniciativas para melhorar o acesso à água e garantir a sua disponibilidade às populações, como acontece com o exemplo de Bangalore, que pode ser lido na página 8. Mas tudo o que for feito será positivo, até porque ainda há muito caminho a percorrer.
Em números
O ponto da situação
1. Em 2025 as necessidades de água irão crescer 50% nos países em desenvolvimento e 18% nos países desenvolvidos.
2. A Organização Mundial de Saúde anunciou recentemente que 89% da população mundial já tem acesso a água potável, cumprindo, em 2010, uma das metas dos Objectivos do Milénio, para 2015.
3. Mas mais de um sexto da população mundial ainda não tem acesso suficiente a água potável para suprir todas as suas necessidades de beber, cozinhar e lavar.
4. O Objectivo de Desenvolvimento do Milénio (ODM) relativo ao saneamento básico não será cumprido até 2015. As projecções indicam que, em 2050, 1,4 mil milhões de pessoas não terão ainda acesso a saneamento básico.
5. Uma criança morre a cada 20 segundos devido a más condições sanitárias. Há 1,5 milhões de mortes anuais que podem ser evitadas.
Embora haja um elevado grau de incerteza em relação aos efeitos das alterações climáticas, os modelos actuais apontam para o aumento generalizado da temperatura atmosférica. Devido à ocorrência de ondas de calor, são esperados fenómenos hidrológicos extremos, as cheias e secas. Em paralelo, as ondas de calor irão aumentar a evapo-transpiração das planta, e, por consequência, as necessidades de água para a rega e a produção agrícola. A perspectiva não é brilhante.
Abundante em alguns países e escasso noutros, este recurso natural, essencial para a sobrevivência humana, é usado intensamente pela agricultura, indústria e actividades domésticas - só que de forma cada vez mais insustentável. É o principal alerta contido num relatório da consultora britânica Maplecroft, que avalia a pressão sobre a procura de água em mais de 160 países.
Mas a população mundial vai aumentar ainda mais. Em 2050 iremos ser 9 mi milhões o que, de acordo com o 4º Relatório da ONU sobre a água no mundo, e em conjunto com as inundações e secas devido às alterações climáticas, irá ameaçar fortemente as recursos hídricos se nada for feito.
"A água doce não está a ser usada de forma sustentável", disse a directora-geral da Unesco, Irina Bokova, em comunicado. "As informações rigorosas ainda não são a regra e a gestão está fragmentada... O futuro é cada vez mais incerto e os riscos vão agravar-se", acrescentou.
Segundo Irina Bokova, o consumo pela agricultura já representa cerca de 70% da água doce usada no mundo e deverá aumentar pelo menos 19% até 2050, quando a população mundial chegar aos nove mil milhões de pessoas.
Uma "revolução silenciosa" decorreu no subsolo, à medida que a quantidade de água extraída dos aquíferos triplicou nos últimos 50 anos, fazendo desaparecer uma barreira contra a seca, diz o relatório da ONU. "As alterações climáticas vão afectar drasticamente a produção de alimentos no Sul da Ásia e no Sul de África, entre hoje e 2030. Em 2070, o stress hídrico também vai afectar a Europa Central e do Sul", acrescenta. Outro relatório, da Organização para a Cooperação Económica e Desenvolvimento (OCDE), estima que a procura mundial de água vai aumentar 55% em 2050, numa altura em que mais de 40% da população mundial viverá em bacias hidrográficas ameaçadas pelo stress hídrico.
Este documento alerta que, com uma reserva de água limitada, os gestores políticos serão obrigados a fazer uma melhor gestão entre a procura para a agricultura, energia, consumo humano e saneamento básico.
Em várias regiões de economias em crescimento como China e Índia, a procura de água supera a oferta. É uma situação que poderá restringir as actividades agrícolas e de outras áreas, limitando potencialmente o crescimento económico. Também está a crescer o receio em relação à capacidade de produzir alimentos suficientes para sustentar a humanidade.
Atenta ao problema, a China está a desenvolver medidas para minimizar os riscos de escassez de água. Uma delas é o desvio da água do rio Iansequião para Pequim através de uma série de canais, para garantir o abastecimento de um quarto das necessidades da cidade até 2014. A Índia, por sua vez, extrai mais água subterrânea do que qualquer outro país do mundo. Em média, 56% dela é usada na agricultura. Mas esse valor pode subir para 90%, devido às alterações climáticas. Como um dos maiores produtores de arroz, trigo, batata e cana-de-açúcar em todo o mundo, o uso continuado insustentável de fornecimento de água subterrânea pode contribuir para a redução das colheitas agrícolas, com implicações desastrosas para o preço dos alimentos.
Em algumas zonas do país, já há iniciativas para melhorar o acesso à água e garantir a sua disponibilidade às populações, como acontece com o exemplo de Bangalore, que pode ser lido na página 8. Mas tudo o que for feito será positivo, até porque ainda há muito caminho a percorrer.
Em números
O ponto da situação
1. Em 2025 as necessidades de água irão crescer 50% nos países em desenvolvimento e 18% nos países desenvolvidos.
2. A Organização Mundial de Saúde anunciou recentemente que 89% da população mundial já tem acesso a água potável, cumprindo, em 2010, uma das metas dos Objectivos do Milénio, para 2015.
3. Mas mais de um sexto da população mundial ainda não tem acesso suficiente a água potável para suprir todas as suas necessidades de beber, cozinhar e lavar.
4. O Objectivo de Desenvolvimento do Milénio (ODM) relativo ao saneamento básico não será cumprido até 2015. As projecções indicam que, em 2050, 1,4 mil milhões de pessoas não terão ainda acesso a saneamento básico.
5. Uma criança morre a cada 20 segundos devido a más condições sanitárias. Há 1,5 milhões de mortes anuais que podem ser evitadas.