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Uma rifa no ISCTE que já chegou a Espanha e a Inglaterra

Miguel tinha 1.125 euros e já vai a caminho dos 2,8 milhões. Science4You, uma história de brinquedos científicos que até cresce em Portugal

28 de Maio de 2013 às 10:42
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Miguel Martins | A Sience4You vendeu, em cerca de quatro anos, 350 mil brinquedos que valeram três milhões de euros. 

 

 

Numa aula do ISCTE, o professor rifa 10 projectos para os alunos de gestão darem corpo em parceria com os estudantes de Faculdade de Ciências. Miguel Martins, com 20 anos à época, fica desolado. Sai-lhe um kit de ciência. Um kit de ciência? É isso que muda o mundo (pensou)? Não, não foi. Mas o que parecia um desastre, mudou a vida de Miguel. E o papel que há oito anos tirou de um chapéu, ganhou um nome: Science4You (S4Y). Uma empresa de brinquedos científicos. Tudo com 1.125 euros de investimento inicial, mas que actualmente já tem dois escritórios, um em Espanha e outro em Inglaterra. E exporta para mais oito destinos.


Comecemos por um grande passo em frente, para depois fazer um "flashback". Actualmente, a S4Y quando quer crescer "estrategicamente num mercado" recorre à internacionalização. "Aprendemos a partir de 2010, o ano mais importante da nossa empresa, que essa é a maneira mais eficaz quando um país é importante para nós. É necessário ter uma presença física. Sentimos isso em Espanha, em que no primeiro ano vendemos pouco. Aumentámos muito as vendas desde que temos um escritório", confidencia.


Nem tudo, nesta história, foi mágico como nos brinquedos: a ideia chegou a estar parada depois de acabado o curso de Miguel. O jovem ainda passou pela banca de investimento, até se lançar definitivamente no, até agora, projecto da sua vida. No início foi "vários em um só" : CEO, director comercial, director financeiro, e até fez o design das embalagens dos primeiros brinquedos. "Não sei como se venderam, eram horríveis", lembra entre risos, o empreendedor de 28 anos.


Há sete anos, a história escreveu-se com um "A" de arrojo, mas Miguel acha que é fácil aos jovens fazer o "copy-paste" do seu trajecto.


"Demorei quatro meses a conseguir o dinheiro das capitais de risco [49 mil euros]. Era um miúdo de 21 anos, sem experiência, nem patente. Aliás, tinha quatro meses na banca, o que podia ter sido mau. Até podiam pensar que como antes tinha sucedido, me podia fartar rapidamente", recorda. "Isto não foi tão difícil. É preciso acreditar e fazer", encoraja Miguel.


De toda a gama de brinquedos que a empresa actualmente dispõe, é a réplica de uma torre eólica a mais emblemática. "Sem ela não estaríamos aqui".


A facturação também tem sido sempre a aumentar, desde os 50 mil euros no primeiro ano, em 2008, até aos 1,4 milhões de euros o ano passado. Para 2013, nova meta: dobrar o valor e chegar aos 2,8 milhões. A SY4 está a crescer onde menos parecia possível, dentro de portas. "Mesmo em recessão, há sempre mercado", justifica Miguel Martins.

 

 

 

Perguntas a Miguel Martins, Presidente da Science4you

 

"O problema do empreendedorismo não é falta de dinheiro nas capitais de risco"

 

Quais são as linhas mestras da estratégia a curto prazo?
Queremos crescer no mercado inglês [onde a S4Y tem um escritório]. Se o fizermos com os brinquedos que tenham marca naquela língua, a qual qualquer pessoa consegue compreender, facilmente conseguimos exportar para países com a Índia, a China ou o Japão.


A SY4 está a crescer muito depressa e a duplicar facturação de ano para ano, mesmo no mercado internacional. Como se ajusta a estrutura a este dinamismo?
Um dos problemas era a distância desses locais que agora não é tão grande. Com 30 ou 40 euros estamos em Madrid. Também em Londres está tudo mais oleado, porque metemos sempre lá uma pessoa com a cultura da empresa.


Enfrentaram problemas no início do processo de internacionalização?
Em Espanha, começámos por ter um "country manager" espanhol, e não resultou. Mandámos para lá um português. Não resultou, em primeiro por uma questão de comunicação, que é mais difícil. Não falo muito bem espanhol, mas consigo entender e fazer-me entender. Mas não consegui passar a mensagem, e ele era o número dois da empresa. Ele não conseguiu apanhar a nossa cultura. A grande lição é que quando partimos para esse processo, tem de ser liderado por uma pessoa que entenda a nossa cultura e que a implemente.


Porque não nascem mais ideias empreendedoras no País?
O problema não é da falta de dinheiro nas capitais de risco. Para mim, a falha é o empreendedorismo não ser em nenhuma etapa do nosso percurso universitário uma alternativa ao emprego por conta de outrem.

 

 

 

Ideias-chave


Nasceu nas universidades e é uma marca identitária que agora replica para crescer também fora de Portugal

 

1. Fornecedores são na maioria portugueses
Ao início, foi muito difícil conseguir arranjar fornecedores que quisessem apostar na SY4. Agora 70% do material dos brinquedos provêm de Portugal. Para produções de nicho "entre as cinco e as dez mil unidades", Miguel Martins diz que "é mais barato e a qualidade é melhor". "A China é só para produções de milhões", diz.


2. Mudança de estratégia da fnac dá impulso
A queda da venda de livros e de CD fez com que as grandes cadeias de revenda, como a FNAC, mudassem de estratégia. Colateralmente, a SY4 ganha com a necessidade que as multinacionais têm em diversificar os produtos. Em Portugal, valeu novas encomendas pelo sucesso de vendas dos brinquedos e catapultou a entrada em Espanha.


3. Método de sucesso replicado
A empresa tem um método que aplica a todos os mercados: a parceria. Com as universidades locais para dar credibilidade científica e os museus de Ciência que dão visibilidade ao produto.


4. Jovens mais baratos e mais disponíveis
Miguel Martins diz que a S4Y aposta "muito nos jovens" porque são "mais baratos". E porque "acreditamos que acrescentam algo mais em termos de disponibilidade para a empresa". "É uma grande estratégia nossa", remata.

 

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