Notícia
Dono da Cerâmica de Valadares ameaça "chamar a polícia" e instaurar "processos disciplinares" aos trabalhadores
O presidente da Cerâmica de Valadares espera conseguir amanhã o dinheiro necessário para pagar os dois salários em atraso aos trabalhadores, que mantêm o bloqueio à porta da fábrica, em Gaia.
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Se a operação falhar, Galvão Lucas garante que irá chamar as autoridades policiais para “repor a legalidade nisto tudo”. Leia a entrevista que Lucas concedeu há momento ao Negócios:
Como está a situação na Cerâmica de Valadares? Há novidades?
Estou cansadíssimo, foi um dia muito comprido. Isto é muito complicado quando as coisas estão a ir por determinados caminhos. Não há acordo com aquela gente [os 430 trabalhadores], não abandonam a sua posição enquanto não receberem o ordenado de Dezembro. Dizem que não saem dali da [porta da] empresa, evitando a saída dos camiões, a não ser que nós concordemos com ideias completamente irrealistas: querem que por cada camião que saísse a respectiva receita revertesse para uma conta deles, o que não tem qualquer razão de ser. Isto não é um supermercado. Ninguém paga “ao camião”. Enfim, não faz nenhum sentido.
E agora?
Nós pretendíamos que eles libertassem a frente da empresa, até por uma questão de imagem. Porque estamos a começar a ter problemas com alguns clientes e a ter dificuldades com futuro clientes – já há um ou outro cancelamento de encomendas. Há dificuldades em facturar porque não se consegue fazer sair a mercadoria.
A nossa proposta de pagar o ordenado de Dezembro pressupunha a concretização de um negócio que já se devia ter começado a concretizar. Eles não aceitaram a nossa proposta, pelo que nós também não estamos em condições de a manter. O que, aliás, foi dito aos trabalhadores: a partir do momento que eles não aceitaram a nossa proposta nos termos em que ela foi formulada, nós não a iríamos manter, a não ser que eles abandonassem o comportamento que estão a ter. Não abandonaram, estão lá [a bloquear a entrada da empresa]. Mas estamos ali numa situação – não é de braço-de-ferro, porque no fundo a posição deles não é completamente legal, para não dizer que é uma posição ilegal. No fundo, é uma greve selvagem com o impedimento de entrada e saída de mercadorias, de carros e de pessoas. Mas nós continuamos a tentar ir pelo caminho Pacífico.
O que é que se vai seguir?
Ou nós conseguimos fazê-los concordar de que isto só prejudica a empresa e a eles, até porque aquilo está obviamente a ser conduzido por gente dos sindicatos ao mais alto nível, e, portanto, não há grande abertura para nada...
Onde é que quer chegar?
Quem apareceu na última reunião com os senhores [representantes dos trabalhadores] foi uma senhora chamada Fátima, que é uma conhecida nossa de há uns tempos, das negociações no âmbito do sector da cerâmica, e que é bastante pragmática na sua forma de actuar: propôs que só se deixaria sair os camiões se a receita referente a cada camião revertesse de imediato para os empregados, e que nos perguntou: ‘O que é que vocês fizeram à facturação do ano passado?”, como se nós tivéssemos a facturação em algum sítio.
Ou nós conseguimos concretizar alguma operação, das várias que temos em curso – venda com condições de pagamento que nos permitam liquidar rapidamente esta dívida, e nesta altura eles abandonariam toda e qualquer forma de luta; ou decidimos entrar por outro caminho e fazer com que se cumpra a lei.
Como?
Chamar as autoridades e dizer-lhe que há pessoas que estão a impedir a entrada da empresa.
Chamar a polícia, certo?
Sim, sim, a ideia será essa. A polícia já cá veio duas vezes, e têm instruções superiores para estarem atentos. E foram-nos perguntar sobre se a democraticidade estava a ser posta em causa. E nós dissemos que, para já, não era nossa intenção pedir auxílio às autoridades para intervir.
Concorda que estão numa situação-limite...
Sim...
Alguma coisa terá que acontecer...
Das duas uma: ou nós conseguimos meios para pagar os dois ordenados [referentes a Dezembro e a Janeiro], porque é a exigência que eles fazem, e a partir daí acaba toda esta situação; ou não conseguimos. E se eles não abandonarem esta situação, nós teremos que chamar a polícia para por ordem naquilo e eles regressarem aos seus postos de trabalho. Até porque não foi declarada greve nenhuma, não foi feito nenhum pré-aviso de greve.
Mas os trabalhadores podem decidir não regressar ao trabalho...
Pois podem, mas se o fizerem serão objecto de procedimento disciplinar. A menos que metam licença. Isto está tudo na lei e qualquer advogado e gestor de recursos humanos sabe tratar disso. Mas nós não queremos ir por aí, porque achamos que isso cria um clima na fábrica, onde trabalham 430 pessoas, que não é nada saudável para o futuro. Mas eu não estou a ver que os trabalhadores recuem, a partir do momento em que os dirigentes sindicais tomaram as posições que tomaram e aparecerem desta forma no processo, não os vejo a recuar nem com vontade disso.
Ainda não sabe se vai conseguir firmar o tal adiantamento para pagar os salários em atraso?
Não. Eu estou no Porto e o meu colega da administração que trata da área comercial está em Lisboa, para tentar, amanhã, no quadro de uma negociação que estava já encaminhada, conseguir o mínimo de condições financeiras para podermos liquidar os salários.
Trata-se do adiantamento por conta de uma encomenda?
Sim, tem que ver com um pagamento adiantado.
De quanto?
Entre 1,5 milhões a 2 milhões de euros, que daria para pagar os dois salários e para repor um mínimo de paz na nossa tesouraria. É uma encomenda de exportação. Mas este clima obviamente que não ajuda às negociações.
É um cliente já antigo?
É um cliente conhecido da empresa.
E qual é a origem do cliente?
É nacional, mas a encomenda de louça sanitária é para exportação. E sobre isso não lhe posso dizer mais nada.
Mas as negociações não estavam bem encaminhadas?
Estavam, mas é claro que, qualquer instituição, ao ver o que está a acontecer nesta empresa, é capaz de se questionar: “Faz algum sentido estar a meter dinheiro do meu bolso e depois será que vou conseguir levantar a mercadoria?” Portanto, temos de criar condições para poder dar esse tipo de garantias. Mas se se pagar os ordenados, o problema fica resolvido, pelo que as garantias ficarão dadas.
Quando é que acha que poderá ter resposta?
No final do dia de amanhã somos capazes de saber se teremos ou não hipótese de concretizar a operação e em que moldes.
E se isso não acontecer, a empresa entrará em insolvência...
Não, isso não...
Mas se a empresa não tem liquidez para pagar salários e os trabalhadores não voltarem ao trabalho...
Nesse caso, o assunto terá que ser tratado pela tal via, que é utilizando a reposição da legalidade, que passa por chamar a polícia; passa por entrar numa via em que as coisas têm de ser vistas à luz da lei vigente que enquadra este tipo de situações. E para isso temos os nossos advogados para tratar dos assuntos. Não vamos obviamente baixar os braços.
O dia de amanhã será então decisivo?
Acho que sim. Se não conseguirmos concretizar a operação não teremos outra igual a esta depois de amanhã. Isto não se consegue de um dia para o outro. Sim ou “sopas”? Se for “sopas”, teremos que repor a legalidade nisto tudo.
Como está a situação na Cerâmica de Valadares? Há novidades?
E agora?
Nós pretendíamos que eles libertassem a frente da empresa, até por uma questão de imagem. Porque estamos a começar a ter problemas com alguns clientes e a ter dificuldades com futuro clientes – já há um ou outro cancelamento de encomendas. Há dificuldades em facturar porque não se consegue fazer sair a mercadoria.
A nossa proposta de pagar o ordenado de Dezembro pressupunha a concretização de um negócio que já se devia ter começado a concretizar. Eles não aceitaram a nossa proposta, pelo que nós também não estamos em condições de a manter. O que, aliás, foi dito aos trabalhadores: a partir do momento que eles não aceitaram a nossa proposta nos termos em que ela foi formulada, nós não a iríamos manter, a não ser que eles abandonassem o comportamento que estão a ter. Não abandonaram, estão lá [a bloquear a entrada da empresa]. Mas estamos ali numa situação – não é de braço-de-ferro, porque no fundo a posição deles não é completamente legal, para não dizer que é uma posição ilegal. No fundo, é uma greve selvagem com o impedimento de entrada e saída de mercadorias, de carros e de pessoas. Mas nós continuamos a tentar ir pelo caminho Pacífico.
O que é que se vai seguir?
Ou nós conseguimos fazê-los concordar de que isto só prejudica a empresa e a eles, até porque aquilo está obviamente a ser conduzido por gente dos sindicatos ao mais alto nível, e, portanto, não há grande abertura para nada...
Onde é que quer chegar?
Quem apareceu na última reunião com os senhores [representantes dos trabalhadores] foi uma senhora chamada Fátima, que é uma conhecida nossa de há uns tempos, das negociações no âmbito do sector da cerâmica, e que é bastante pragmática na sua forma de actuar: propôs que só se deixaria sair os camiões se a receita referente a cada camião revertesse de imediato para os empregados, e que nos perguntou: ‘O que é que vocês fizeram à facturação do ano passado?”, como se nós tivéssemos a facturação em algum sítio.
Ou nós conseguimos concretizar alguma operação, das várias que temos em curso – venda com condições de pagamento que nos permitam liquidar rapidamente esta dívida, e nesta altura eles abandonariam toda e qualquer forma de luta; ou decidimos entrar por outro caminho e fazer com que se cumpra a lei.
Como?
Chamar as autoridades e dizer-lhe que há pessoas que estão a impedir a entrada da empresa.
Chamar a polícia, certo?
Sim, sim, a ideia será essa. A polícia já cá veio duas vezes, e têm instruções superiores para estarem atentos. E foram-nos perguntar sobre se a democraticidade estava a ser posta em causa. E nós dissemos que, para já, não era nossa intenção pedir auxílio às autoridades para intervir.
Concorda que estão numa situação-limite...
Sim...
Alguma coisa terá que acontecer...
Das duas uma: ou nós conseguimos meios para pagar os dois ordenados [referentes a Dezembro e a Janeiro], porque é a exigência que eles fazem, e a partir daí acaba toda esta situação; ou não conseguimos. E se eles não abandonarem esta situação, nós teremos que chamar a polícia para por ordem naquilo e eles regressarem aos seus postos de trabalho. Até porque não foi declarada greve nenhuma, não foi feito nenhum pré-aviso de greve.
Mas os trabalhadores podem decidir não regressar ao trabalho...
Pois podem, mas se o fizerem serão objecto de procedimento disciplinar. A menos que metam licença. Isto está tudo na lei e qualquer advogado e gestor de recursos humanos sabe tratar disso. Mas nós não queremos ir por aí, porque achamos que isso cria um clima na fábrica, onde trabalham 430 pessoas, que não é nada saudável para o futuro. Mas eu não estou a ver que os trabalhadores recuem, a partir do momento em que os dirigentes sindicais tomaram as posições que tomaram e aparecerem desta forma no processo, não os vejo a recuar nem com vontade disso.
Ainda não sabe se vai conseguir firmar o tal adiantamento para pagar os salários em atraso?
Não. Eu estou no Porto e o meu colega da administração que trata da área comercial está em Lisboa, para tentar, amanhã, no quadro de uma negociação que estava já encaminhada, conseguir o mínimo de condições financeiras para podermos liquidar os salários.
Trata-se do adiantamento por conta de uma encomenda?
Sim, tem que ver com um pagamento adiantado.
De quanto?
Entre 1,5 milhões a 2 milhões de euros, que daria para pagar os dois salários e para repor um mínimo de paz na nossa tesouraria. É uma encomenda de exportação. Mas este clima obviamente que não ajuda às negociações.
É um cliente já antigo?
É um cliente conhecido da empresa.
E qual é a origem do cliente?
É nacional, mas a encomenda de louça sanitária é para exportação. E sobre isso não lhe posso dizer mais nada.
Mas as negociações não estavam bem encaminhadas?
Estavam, mas é claro que, qualquer instituição, ao ver o que está a acontecer nesta empresa, é capaz de se questionar: “Faz algum sentido estar a meter dinheiro do meu bolso e depois será que vou conseguir levantar a mercadoria?” Portanto, temos de criar condições para poder dar esse tipo de garantias. Mas se se pagar os ordenados, o problema fica resolvido, pelo que as garantias ficarão dadas.
Quando é que acha que poderá ter resposta?
No final do dia de amanhã somos capazes de saber se teremos ou não hipótese de concretizar a operação e em que moldes.
E se isso não acontecer, a empresa entrará em insolvência...
Não, isso não...
Mas se a empresa não tem liquidez para pagar salários e os trabalhadores não voltarem ao trabalho...
Nesse caso, o assunto terá que ser tratado pela tal via, que é utilizando a reposição da legalidade, que passa por chamar a polícia; passa por entrar numa via em que as coisas têm de ser vistas à luz da lei vigente que enquadra este tipo de situações. E para isso temos os nossos advogados para tratar dos assuntos. Não vamos obviamente baixar os braços.
O dia de amanhã será então decisivo?
Acho que sim. Se não conseguirmos concretizar a operação não teremos outra igual a esta depois de amanhã. Isto não se consegue de um dia para o outro. Sim ou “sopas”? Se for “sopas”, teremos que repor a legalidade nisto tudo.