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CEO da Mondelez: Investidores sem preocupações "morais" sobre permanência na Rússia

CEO da fabricante de chocolates e bolachas, que detém marcas como Milka e Toblerone ou Oreo e Triunfo, garante que os acionistas não têm exercido pressão para que o grupo abandone o mercado russo. Van de Put diz que provavelmente as empresas que se retiraram deixando os ativos a "amigos" de Putin geraram mais dinheiro para os cofres da guerra do que os impostos pagos pela Mondelez a Moscovo.

22 de Fevereiro de 2024 às 11:01
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O CEO da Mondelez, Dirk Van de Put, afirmou que os investidores não têm preocupações de cariz "moral" relativamente ao facto de as empresas continuarem a fazer negócios na Rússia, deixando claro que os acionistas do grupo não têm exercido pressão para que a fabricante de chocolates e bolachas, que detém marcas como Milka e Toblerone ou Oreo e Triunfo, abandone o país, por causa da invasão da Ucrânia, iniciada há dois anos.

"Não creio que [os investidores] se importem moralmente", declarou Dirk Van de Put, em entrevista ao Financial Times (FT). No entanto, ressalvou, "se tiveres um negócio importante na Rússia o impacto na empresa será enorme, e isso abre uma discussão diferente".

A atividade da Mondelez na Rússia contribuiu com 2,8% para as receitas globais da multinacional no ano passado, um valor que traduz uma quebra de 4% face a 2022.

O CEO da Mondelez reconheceu que uma série de fundos na Europa têm levantado algumas questões sobre o negócio, mas deixou claro que "não houve qualquer pedido para o grupo deixar a Rússia por parte de nenhum dos seus investidores". "Não tem havido pressão dos acionistas nem nada que se pareça", garantiu.

Vanguard, BlackRock e Capital Group figuram entre os principais acionistas da Mondelez mas, contactados pelo jornal, recusaram comentar.

De acordo com especialistas ouvidos pelo mesmo jornal, ao abrigo da lei norte-americana, os gestores de ativos devem dar prioridade à entrega de resultados financeiros aos seus investidores - não a preocupações de foro moral, além de que as receitas obtidas pela Mondelez na Rússia ficam abaixo do limiar dos 5%, um patamar considerado como referência para questões materiais.

Não obstante, a dona das bolachas Oreo, à semelhança de outras multinacionais que decidiram manter operações na Rússia, como a Nestlé (dona de marcas como Cerelac, Nesquik ou Kit Kat) ou a Unilever (dona de marcas como a Dove, a Olá ou a Knorr), tem sido alvo de fortes críticas - e mesmo de boicotes - por permanecer naquele mercado e estar assim, na prática, a financiar a guerra na Ucrânia.

Van de Put defendeu, no entanto, a posição da Mondelez de continuar a operar no país, afirmando que as empresas que se retiraram deixaram os seus ativos a "amigos" de Putin e que isso provavelmente gera mais dinheiro para os cofres da guerra de Putin do que os impostos pagos pela Mondelez a Moscovo: "Questiono-me sobre o que aconteceu às empresas que foram vendidas: Quem as comprou e o que estão a fazer com o dinheiro que essas empresas geram? Foram todas para amigos de Putin. Pode apostar que o dinheiro que geram vai para a guerra e é muito mais elevado do que os impostos que pagamos".

A Mondelez tem 2.700 funcionários na Rússia, espalhados por três fábricas, além de empregar, de forma indireta, 10 mil agricultores. Ao FT, Van de Put explicou que o negócio da Mondelez na Rússia opera como uma unidade independente e deu conta de que, no ano passado, vendeu menos proldutos, mas a atividade foi mais lucrativa por causa de ter havido um investimento menor face a 2022.

O FT assinala que o comentário do presidente executivo da Mondelez reflete uma mudança de paradigma na forma como as empresas estrangeiras falam das suas subsidiárias na Rússia, já que depois de invasão, a 24 de fevereiro de 2022, muito pressionadas pela opinião pública (leia-se consumidores), uma série de empresas ocidentais anunciaram a retirada da Rússia, mas na realidade poucas acabaram por a concretizar.

E, agora, com uma grande fatia ainda a operar no país, com poucas hipóteses de sair, os dirigentes começam a ser mais transparentes sobre as razões pelas quais permanecem no país, particularmente depois - nota o FT - de, no verão passado, as subsidiárias russas da Danone e da Carlsberg terem sido tomadas pelo Kremlin e colocadas sob o seu controlo temporário.

A entrevista do CEO da Mondelez aconteceu antes de a gigante francesa Danone ter anunciado que planeia vender o seu negócio na Rússia a um responsável por essa "gestão" ligado ao sobrinho do homem forte da Chechénia, Ramzan Kadyrov, um dos aliados mais próximos de Putin que, aliás, se terá referido a si próprio como "soldado" do presidente russo.

O CEO da Unilever, Hein Schumacher, afirmou, numa comunicação ao mercado, no final do ano passado, que os passos que a multinacional tinha dado para "conter" o seu negócio na Rússia estavam com sucesso a reduzir a sua contribuição fiscal para Moscovo.

"Compreendo que haja apelos para que a nossa empresa deixe o país, pelo que vamos, simplesmente, continuar a analisar as nossas opções", afirmou o presidente executivo da Unilever que, segundo o FT, emprega 3.000 trabalhadores na Rússia, mercado que contribuiu para 1% da faturação global do grupo em 2023.

Ao mesmo jornal, Van de Put assinalou ser claro que Moscovo estava a tentar travar a retirada de empresas ocidentais: "Tentamos não ser conflituosos nem fazer grandes declarações e basicamente apenas prosseguir com o nosso negócio".

"Em ambos os casos [Danone and Carlsberg], eles anunciaram que estavam a vender o seu negócio... Se sais vais ser castigado - isso é óbvio", comentou.
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