Notícia
Quem é Guo Guangchang, o "chairman" da Fosun que foi detido
Veja o perfil do "chairman" do grupo chinês Fosun, que tem interesses em várias companhias em Portugal. Guo Guangchang foi considerado pelo Negócios o 30.º mais poderoso da economia portuguesa.
11 de Dezembro de 2015 às 15:50
Bilhete de identidade
Guo Guangchang, 48 anos
Cargo: "Chairman" do grupo Fosun
Naturalidade: Dongyang (Zhejiang), China
Formação: Licenciado em Filosofia pela Universidade Fudan. Tem também um MBA na mesma Universidade
A marca de 2015: A aquisição da Fidelidade e da ES Saúde. Na corrida à compra do Novo Banco
Para Guo Guangchang o tai chi, a histórica arte marcial chinesa onde os praticantes buscam a harmonia entre as forças opostas do yin e do yang, é a melhor forma de encontrar o balanço perfeito para a Fosun. Foi o fundador do grupo Alibaba, Jack Ma, que lhe mostrou as virtualidades do tai chi, e desde então o líder da Fosun aplica-o à estratégia de crescimento da sua empresa.
Em Portugal a sua entrada foi fulgurante: adquiriu a Fidelidade e a ES Saúde e é um dos fortes candidatos ao Novo Banco. Além disso pretende aumentar a sua teia de interesses em Portugal, sobretudo nas áreas de lazer e media. Ou seja, a Fosun veio para ficar e para ter um lugar preponderante na economia portuguesa. Um porto franco seguro, agora que a Fosun se expande para outros continentes, impulsionada por uma capacidade financeira impressionante.
A Fosun tornou-se uma investidora temível, com activos a rondar os 50 mil milhões de dólares. A lista de milionários da Bloomberg coloca Guo como o oitavo mais rico da China, com uma fortuna avaliada em 5,7 mil milhões. Tudo deriva da estratégia da Fosun, diferente da de empresas estatais que actuam fora. Enquanto estas compram sobretudo recursos energéticos, a liderada por Guo especializou-se em marcas e empresas financeiras e tecnológicas. Embora comece a diversificar, como é exemplo a ES Saúde ou o Club Med. Os focos agora são áreas onde a pujante classe média chinesa se reveja: saúde, turismo, educação e internet. Guo é explícito: "Vamos casar o crescimento da China com os recursos globais."
O estudante, que em 1987 ganhava 30 yuan (4,8 dólares) por mês para suportar parte dos custos de estudar na Universidade Fudan de Xangai, tornou-se figura global. O seu modelo de negócio bebeu-o num homem de outra geração: Warren Buffett. A Fosun compra empresas financeiras e seguradoras para suportar financiamento de longo prazo que possa usar para investir em marcas de consumo e outros negócios. Desde 2010 essa estratégia é mais visível: comprou a torre do JP Morgan em Nova Iorque, o prestigiado Club Med francês e a alfaiataria italiana Raffaele Caruso. Na Universidade Fudan, Guo desenvolveu o seu interesse na filosofia. Depois de se licenciar, trabalhou no departamento da Juventude Comunista da Universidade durante três anos. Em 1992, quando Deng Xiaoping abriu as portas a um "capitalismo chinês", Guo viu a oportunidade. Chegou a dizer: "Se Deng não tivesse distribuído a terra aos camponeses, nunca teríamos tido suficiente comida." Mais: sem as reformas de Deng "nunca teria ido para a Universidade e nunca tinha existido a Fosun".
Com um grupo de amigos, avançou. Começaram a empresa com 38 mil yuan. Em 2002, a Fosun investiu numa das primeiras privatizações, a de uma loja turística de Xangai que era do governo local. Inspiraram-se em modelos como o do homem mais rico da Ásia, Li Ka-shing, para investir fora de portas. O modelo de Buffett era perfeito para o financiamento a longo prazo. Seguradoras de Xi'na e de Hong Kong foram os alvos seguintes nessa estratégia. A pouco e pouco foi conseguindo adquirir posições minoritárias no exterior. A Fidelidade garantiu também à Fosun a capacidade financeira para avançar para outros objectivos, como a compra de acções da Alibaba quando se cotou na bolsa americana (o que admitiu ao Financial Times) ou mesmo na bolsa de Xangai, como foi noticiado. Marcas com repercussões na China também eram alvos visíveis. O Club Med foi exemplar: planeia abrir cinco "resorts" na China. A portuguesa ES Saúde é também exemplo de um modelo que quer exportar para a China.
Sendo um grupo privado, a Fosun não deixa de estar ligada indirectamente ao labiríntico sistema de "capitalismo numa sociedade de partido único". Milionários fazem parte de um grupo de conselheiros integrados no Congresso do Partido Comunista através da Conferência Política Consultiva que integra membros da sociedade. Guo Guangchang faz parte do grupo e, quando Xi Jinping foi eleito presidente, foi um dos empresários escutado por este. Guo pediu maior liberalização económica e menos impostos.
Segundo Guo, "tudo parte do coração, e sentir o coração dos outros é a mais importante doutrina do Budismo. Nos negócios isso significa ver as coisas através dos olhos dos outros. Penso que fazer negócios é como praticar o Budismo." É essa estratégia que move Guo. A sua presença em Portugal já é muito forte. E, acredita-se, ainda irá crescer mais.
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Relações da china com os poderes empresariais em portugal
A Fosun é das empresas chineses mais activas nas compras em Portugal. Depois da Fidelidade "atacou", e ganhou, a ES Saúde, já convertida em Luz Saúde. Mas o investimento mais visível foi mesmo a compra da EDP pela China Three Gorges. Em todos os processos houve apoios de assessores nacionais.
(notícia publicada originalmente a 6 de Agosto de 2015, no âmbito de Os Mais Poderosos da Economia Portuguesa)
Guo Guangchang, 48 anos
Cargo: "Chairman" do grupo Fosun
Naturalidade: Dongyang (Zhejiang), China
Formação: Licenciado em Filosofia pela Universidade Fudan. Tem também um MBA na mesma Universidade
A marca de 2015: A aquisição da Fidelidade e da ES Saúde. Na corrida à compra do Novo Banco
Em Portugal a sua entrada foi fulgurante: adquiriu a Fidelidade e a ES Saúde e é um dos fortes candidatos ao Novo Banco. Além disso pretende aumentar a sua teia de interesses em Portugal, sobretudo nas áreas de lazer e media. Ou seja, a Fosun veio para ficar e para ter um lugar preponderante na economia portuguesa. Um porto franco seguro, agora que a Fosun se expande para outros continentes, impulsionada por uma capacidade financeira impressionante.
A Fosun tornou-se uma investidora temível, com activos a rondar os 50 mil milhões de dólares. A lista de milionários da Bloomberg coloca Guo como o oitavo mais rico da China, com uma fortuna avaliada em 5,7 mil milhões. Tudo deriva da estratégia da Fosun, diferente da de empresas estatais que actuam fora. Enquanto estas compram sobretudo recursos energéticos, a liderada por Guo especializou-se em marcas e empresas financeiras e tecnológicas. Embora comece a diversificar, como é exemplo a ES Saúde ou o Club Med. Os focos agora são áreas onde a pujante classe média chinesa se reveja: saúde, turismo, educação e internet. Guo é explícito: "Vamos casar o crescimento da China com os recursos globais."
O estudante, que em 1987 ganhava 30 yuan (4,8 dólares) por mês para suportar parte dos custos de estudar na Universidade Fudan de Xangai, tornou-se figura global. O seu modelo de negócio bebeu-o num homem de outra geração: Warren Buffett. A Fosun compra empresas financeiras e seguradoras para suportar financiamento de longo prazo que possa usar para investir em marcas de consumo e outros negócios. Desde 2010 essa estratégia é mais visível: comprou a torre do JP Morgan em Nova Iorque, o prestigiado Club Med francês e a alfaiataria italiana Raffaele Caruso. Na Universidade Fudan, Guo desenvolveu o seu interesse na filosofia. Depois de se licenciar, trabalhou no departamento da Juventude Comunista da Universidade durante três anos. Em 1992, quando Deng Xiaoping abriu as portas a um "capitalismo chinês", Guo viu a oportunidade. Chegou a dizer: "Se Deng não tivesse distribuído a terra aos camponeses, nunca teríamos tido suficiente comida." Mais: sem as reformas de Deng "nunca teria ido para a Universidade e nunca tinha existido a Fosun".
Com um grupo de amigos, avançou. Começaram a empresa com 38 mil yuan. Em 2002, a Fosun investiu numa das primeiras privatizações, a de uma loja turística de Xangai que era do governo local. Inspiraram-se em modelos como o do homem mais rico da Ásia, Li Ka-shing, para investir fora de portas. O modelo de Buffett era perfeito para o financiamento a longo prazo. Seguradoras de Xi'na e de Hong Kong foram os alvos seguintes nessa estratégia. A pouco e pouco foi conseguindo adquirir posições minoritárias no exterior. A Fidelidade garantiu também à Fosun a capacidade financeira para avançar para outros objectivos, como a compra de acções da Alibaba quando se cotou na bolsa americana (o que admitiu ao Financial Times) ou mesmo na bolsa de Xangai, como foi noticiado. Marcas com repercussões na China também eram alvos visíveis. O Club Med foi exemplar: planeia abrir cinco "resorts" na China. A portuguesa ES Saúde é também exemplo de um modelo que quer exportar para a China.
Sendo um grupo privado, a Fosun não deixa de estar ligada indirectamente ao labiríntico sistema de "capitalismo numa sociedade de partido único". Milionários fazem parte de um grupo de conselheiros integrados no Congresso do Partido Comunista através da Conferência Política Consultiva que integra membros da sociedade. Guo Guangchang faz parte do grupo e, quando Xi Jinping foi eleito presidente, foi um dos empresários escutado por este. Guo pediu maior liberalização económica e menos impostos.
Segundo Guo, "tudo parte do coração, e sentir o coração dos outros é a mais importante doutrina do Budismo. Nos negócios isso significa ver as coisas através dos olhos dos outros. Penso que fazer negócios é como praticar o Budismo." É essa estratégia que move Guo. A sua presença em Portugal já é muito forte. E, acredita-se, ainda irá crescer mais.
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Relações da china com os poderes empresariais em portugal
A Fosun é das empresas chineses mais activas nas compras em Portugal. Depois da Fidelidade "atacou", e ganhou, a ES Saúde, já convertida em Luz Saúde. Mas o investimento mais visível foi mesmo a compra da EDP pela China Three Gorges. Em todos os processos houve apoios de assessores nacionais.
(notícia publicada originalmente a 6 de Agosto de 2015, no âmbito de Os Mais Poderosos da Economia Portuguesa)