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Administrador da Benfica SAD: "a nossa visão é de médio e de longo prazo"

SAD do Benfica lucrou 44,5 milhões de euros na época passada, o melhor resultado de sempre. Endividamento bancário caiu e o passivo também, mas há vozes que questionam o custo desportivo da venda de jogadores.

Miguel Baltazar/Negócios
19 de Setembro de 2017 às 23:05
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A redução do passivo é para continuar e até acentuar-se, nos próximos anos. Domingos Soares Oliveira, administrador financeiro da Benfica SAD, defende a estratégia do clube, num momento em que, dentro de campo, há várias críticas à equipa. 
 

Estes melhores resultados de sempre não deveriam ter trazido uma maior redução do passivo?

Estes resultados têm uma tradução em termos de activo e de passivo. O que é importante é verificar  qual é a tendência destas duas linhas. O activo cresce, o que significa que, por exemplo, na rubrica de clientes temos um acréscimo de 40 milhões de euros. À medida que esse valor for sendo pago isso permite-nos fazer uma redução do passivo mais acentuada. Não existe uma redução de passivo instantânea depois das vendas que fizemos, mas à medida que forem sendo cobradas vão ter tradução numa redução de passivo mais acentuada.
 
Em termos estratégicos não haverá outro destino para esse dinheiro?

Em termos estratégicos o nosso objectivo é claramente continuar a ter um passivo mais baixo. Queríamos atingir um primeiro marco, que era ter um passivo financeiro inferior ao total de receitas do grupo, o que foi conseguido. O que queremos é que o crescimento das receitas que temos tido possa acentuar essa redução de passivo que temos observado até agora.

"Existe um conjunto de melhorias na nossa relação comercial com a Nos que nos permite
estar satisfeitos com a negociação que foi feita." 
domingos soares oliveira
administrador da Benfica SAD



Consegue perceber o argumento de quem defende que o Benfica para esta época fez uma opção de privilegiar a vertente financeira em possível detrimento da vertente desportiva?

Ouço esse argumento. E sou capaz de rebater esse argumento, mas se tivesse uma componente estritamente emocional era capaz de o acompanhar. E insisto, o nosso negócio é de associativismo, é muito de clubite, muito emocional, portanto, as pessoas tendem a acompanhar o raciocínio de uma estratégia apenas e só em função dos resultados que foram obtidos num período muito curto. A tendência neste momento não é essa. Nós estamos seguros do que fizemos, a aposta clara na formação é importante. Não é exclusiva, como sempre dissemos não é possível trazer jovens jogadores que não sejam devidamente enquadrados para poderem ter sucesso.  Acredito que haja quem ache que poderia ter havido mais investimento, nós acreditamos que é preciso dar oportunidades a jovens jogadores para que eles possam muito rapidamente ter sucesso, porque se não tiverem sucesso aqui vão ter sucesso fora deste mercado. E temos experiências como é o caso do João Cancelo, do Bernardo Silva, do André Gomes. Que pelo facto de não terem tido oportunidades aqui foram brilhar para outros mercados, e não é isso que queremos que aconteça. Queremos que os jovens que estamos a formar com qualidade tenham possibilidade de ter sucesso no Benfica.

O dossiê do contrato com a Nos foi aberto e foi fechado a contento das partes. Não se mexeu no prazo. O que é que melhorou?

Não posso alargar-me relativamente à negociação que foi feita com a Nos. Não foi feito um alargamento do prazo, não mexemos no contrato que temos neste momento de direitos televisivos, os valores são os que publicámos. Mas efectivamente existe um conjunto de melhorias na nossa relação comercial com a Nos que nos permite neste momento estar satisfeitos com a negociação que foi feita, e a Nos também. Neste momento queremos máxima visibilidade para a Nos, que esta volte a ser um parceiro muito significativo de negócio, queremos contribuir – como fazemos com todos os patrocinadores – para que a Nos aumente o seu volume de negócios e queremos que os benfiquistas tenham uma adesão maciça àquilo que é o produto de telecomunicações Nos. Há uma melhoria das condições comerciais que temos acordadas com a Nos.


Como está a questão do "naming" do estádio?

Continuamos a trabalhar no "naming" do estádio. Posso dizer-lhe que ainda na sexta-feira estive a apresentar uma proposta de "naming" do estádio. É uma situação que é extremamente difícil, mas que nós nunca iremos baixar o valor que entendemos que o estádio vale para conseguir fechar um contrato comercial. Estive a falar com um potencial investidor.


Não é preocupante se clubes com mais limitações financeiras possam ter um ano desportivamente mais competitivo do que o Benfica, que não tem essas limitações?

Isso dependerá um pouco daquilo que for a estratégia seguida por cada um e do entendimento que os accionistas, os adeptos, os sócios, tenham relativamente à estratégia que venha a ser seguida. Eu costumo dizer que o facto de termos ganho nestes quatro anos, quer em termos financeiros quer em termos desportivos, não resulta do acaso, não resulta de uma única pessoa, não resulta de um conjunto de jogadores ou de um treinador que seja um mágico. Resulta de uma estratégia que foi definida há cinco anos, implementada com sucesso e que nos permitiu ter esse resultado. E ainda recentemente voltámos a desenhar uma estratégia para os próximos dez anos, que indica uma série de iniciativas e de indicadores que queremos alcançar. Acho que os benfiquistas já compreenderam isso há bastante tempo, que sob a direcção do presidente Luís Filipe Vieira há etapas numa estratégia. Houve uma etapa forte de investimento em infra-estruturas, uma etapa forte de investimento em atletas, uma de investimento naquilo que é a formação e, neste momento, a tendência natural é que onde vamos investir seja cada vez mais na formação e no reforço das infra-estruturas.

Seguindo essa estratégia, é possível  que haja percalços no caminho. Percalços não significa a perda de um campeonato, pode ser  – como parece ser neste momento – que o facto de não termos ganho dois ou três jogos isso ponha efectivamente em causa a estratégia. Eu acredito, pelas conversas que tenho tido, que ninguém anda satisfeito com resultados que sejam menos bons, mas que o racional que efectivamente existe além do emocional em cada benfiquista leva a dizer que esta estratégia é a certa para termos cada vez mais sucesso. O futebol não é uma ciência exacta e, portanto, quem ganha hoje pode não ser quem ganha amanhã. Nós trazemos uma cultura vencedora, queremos manter essa cultura vencedora, acreditamos que a visão e a estratégia é de médio e de longo prazo. Acreditamos que outras pessoas possam ter a tendência de implementar uma estratégia de curto prazo, mas o Benfica teve uma experiência no passado de investimentos numa estratégia de curto prazo que custou muitos anos a resolver. 

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