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FMI faz alerta sobre concentração nas grandes empresas. Limita investimento, inovação e salários

O Fundo Monetário Internacional considera que a concentração de mercado nas grandes empresas pode ter implicações negativas na economia, principalmente no investimento, na inovação, nos salários e na política monetária.

03 de Abril de 2019 às 15:00
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A concentração do poder em grandes empresas aumentou nas economias avançadas nas últimas duas décadas. A conclusão é de um estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) que deixa um alerta: maior concentração do poder pode enfraquecer o investimento, detém a inovação e reduz o rendimento do trabalho. 

O debate público sobre a concentração de mercado tem vindo a intensificar-se, principalmente no que toca às gigantes tecnológicas. Na União Europeia o debate sobre este assunto passa pelo conceito de "campeões europeus", depois da fusão das unidades ferroviárias da francesa Alstom e da alemã Siemens ter sido chumbada pela Direção-Geral da Concorrência.

O objetivo desses "campeões europeus" é criar dimensão que permita competir a nível internacional, nomeadamente face à China, mas a concorrência teme os efeitos negativos que a concentração pode ter nos preços para os consumidores a nível europeu. 

A discussão deste tema levou o FMI a analisar o tema num dos três capítulos analíticos publicado esta quarta-feira, 3 de abril, do World Economic Outlook, que será divulgado na próxima semana nos encontros de Primavera do Fundo. A análise do FMI confirma que, de facto, a concentração do poder de mercado em grandes empresas tem aumentado desde o início do século e que esse fenómeno é mais visível nos Estados Unidos do que na União Europeia.

Um indicador da concentração é que a evolução das margens das empresas que aumentaram perto de 8% desde 2000 nas economias avançadas, mas o mesmo não se verificou nas economias emergentes. O aumento da concentração tem sido generalizado entre as economias avançadas e os vários setores, principalmente nos serviços tecnológicos.

O Fundo considera que, para já, as implicações macroeconómicas são "modestas", mas antecipa que uma maior concentração do poder de mercado pode enfraquecer o investimento, deter a inovação, reduzir a quota do rendimento do trabalho - o peso dos salários no PIB tem vindo a descer e a desigualdade de rendimentos a aumentar - e tornar mais difícil a estabilização da economia por via da política monetária nos períodos de recessão, tal como já sinalizam estes gráficos (peso do capital, do património e dos salários no PIB).
Mas de onde vem esta maior concentração? O FMI diz que neste momento os dados apontam para que isso seja resultado da "seleção natural" e não de políticas que puseram em causa a concorrência. Ou seja, as empresas mais produtivas e mais inovadoras têm vantagens competitivas que concentram em si o poder de mercado. Esse é também o resultado das fusões ou aquisições. 

Ainda assim, o FMI considera que os perigos já identificados desta concentração de mercado "exigem" reformas que mantenham a concorrência "forte". Um dos pontos assinalados é o reforço dos recursos humanos das autoridades da concorrência para investigar potenciais quebras da lei e para obrigar a aplicação de "remédios". No caso particular da tecnologia, a recomendação passa por calibrar as regras da propriedade intelectual de forma a compatibilizar o incentivo à inovação com a difusão tecnológica para benefício da comunidade. 



Uma das preocupação desta análise vem de uma "lição da história económica": as empresas que têm domínio do mercado através de produtos inovadores e práticas de gestão podem tentar bloquear a entrada de concorrentes ao erguer barreiras. O FMI dá o exemplo de mercados onde o sucesso depende do acesso a enormes bases de dados de consumidores, que não é de fácil acessibilidade por parte de novas empresas. 

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