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Luís Amaral quer entrar na administração do Dia

O empresário português, que detém 2,18% do grupo espanhol, quer fazer parte do "board" desde que o "chairman" Stephan DuCharme saiu, em setembro do ano passado.

Bruno Simão
01 de Abril de 2024 às 18:33
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O Grupo Dia, que opera em Espanha, Portugal, Brasil e Argentina, enfrenta momentos de tensão. O fundo LetterOne – que é  dono de 77% da cadeia de supermercados espanhola e que está vinculado ao milionário russo Mikhail Fridman – está perante um braço de ferro, depois de a sociedade de investimento portuguesa Western Gate, detida pelo empresário Luís Amaral (na foto), ter enviado nesta segunda-feira uma carta ao conselho de administração da cadeia de supermercados a censurar o grupo por não ter considerado a sua proposta para substituir a recente baixa no "board" após a demissão do ex-presidente Stephan DuCharme, refere o jornal Cinco Dias, que teve acesso à carta.

 

Stephan DuCharme, homem forte do LetterOne em Espanha, abandonou a presidência do conselho de administração do Dia em setembro do ano passado. Nessa altura, a empresa entregou o cargo de "chairman" a um dos seus administradores "dominicais", Benjamin J. Babcock (que já era diretor executivo de finanças corporativas no fundo), tendo integrado também o "board" um outro nome ligado ao LetterOne, Alberto Gavazzi. O administrador "dominical", sublinhe-se, é aquele que faz parte do conselho de administração pela sua condição de acionista da sociedade, sendo também chamado, por vezes, de administrador proprietário.

 

Nessa altura, a administração do Dia ficou com oito membros: dois em nome do fundo (Babcock e Gavazzi), quatro independentes (Gloria Hernández, Jose Wahnton Levy, Vicente Trius eLuisa Delgado) e dois externos (Sergio Dias e Marcelo Maia).

 

Acontece que a Western Gate considera que esta composição do "board" não está suficientemente equilibrada. A sociedade de investimento propos a nomeação de Luís Amaral, pela sua experiência no setor, em empresas como a Unilever e Eurocash (grupo polaco do qual foi CEO, sendo agora presidente do conselho de supervisão), mas diz que este não foi tido em consideração. "Esta falta de transparência e indiferença para com candidatos qualificados suscita sérias dúvidas sobre se o conselho de administração teve realmente em conta a candidatura e se o LetterOne quer melhorar o valor da empresa", refere a carta, citada pelo Cinco Dias.

 

A sociedade de investimento portuguesa critica também o facto de o grupo Dia estar a cotar com desconto face ao setor. A Western Gate aponta o facto de a cadeia de supermercados negociar atualmente com um múltiplo que é de seis vezes o EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações), quando a média o setor está entre 9,3 e 11,8 vezes o EBITDA. Na carta, questiona ainda o que está a ser feito pela administração no sentido de incrementar o valor da empresa, sugerindo o início de reuniões com investidores e "roadshows".

 

"Desde que o LetterOne gere o ‘board’ do Dia, a empresa passou por uma forte revisão em baixa dos resultados [‘profit warning massivo’, diz], uma OPA com desconto sobre o preço em bolsa e com um desconto ainda maior sobre o valor contabilístico, bem como dois aumentos de capital extremamente dilutivos que foram duas tentativas de retirar a empresa de bolsa", sublinha a carta.

 

Recorde-se que o LetterOne lançou uma oferta pública de aquisição sobre o grupo Dia em 2019, quando detinha 29%. Após a OPA – na qual Luís Amaral não quis vender os seus 2,18% –, o fundo ficou com 77% da cadeia de supermercados.

 

Outra das preocupações demonstradas pela Western Gate, aponta o Cinco Dias, tem a ver com a escassa liquidez dos títulos. A sociedade de investimento de Luís Amaral diz que o LetterOne quis tentar tirar o Dia de bolsa já por três vezes, "estrangulando os investidores minoritários e reduzindo a sua cotação".

Neste sentido, a sociedade portuguesa "exige ações para reforçar a liquidez, um pedido que vai ao encontro de uma inquietação recorrente da CNMV (o "polícia" da bolsa espanhola)", destaca ainda o jornal, lembrando que o supervisor do mercado de capitais tem tentado incentivar as cotadas com menos capital circulante a que tomem medidas no sentido de resolver essa debilidade.

 

São estas as questões que a Western Gate quer ver tratadas antes de se convocar a próxima reunião magna do grupo, que deverá acontecer no atual trimestre do ano.

 

O Dia encerrou 2023 com uma rede de 3.956 lojas em Espanha, Argentina e Brasil, além das 994 lojas Clarel em Espanha e 458 lojas Minipreço em Portugal. O grupo, recorde-se, vai vender a cadeia de supermercados Minipreço em Portugal aos franceses da Auchan e espera-se que a operação esteja concluída no primeiro semestre.

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