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Jerónimo Martins disposta a "sacrificar" lucros, mas subida de preços será inevitável
Pedro Soares dos Santos garante que a Jerónimo Martins está pronta para "sacrificar" lucros para manter os preços acessíveis, mas deixa claro que o grupo não pode absorver sozinho todo o impacto da escalada dos custos.
Apesar de estar disposta a "sacrificar" as margens de lucro, para que minimizar o efeito junto dos consumidores, dos crescentes custos dos fatores de produção, a Jerónimo Martins adverte que não pode absorver todo o impacto.
O grupo "está preparado para mitigar e para poder equilibrar o que pode passar ao consumidor e o que é que vai ter que absorver ela mesma, mesmo que isso implique talvez a revisão de alguma lucratividade", declarou, esta sexta-feira, o presidente, Pedro Soares dos Santos, em conferência de imprensa, um dia depois da apresentação dos resultados relativos ao exercício financeiro de 2021.
"Hoje vivemos, talvez pela primeira vez nos últimos 25 anos uma grande incerteza sobre o futuro das operações, sobre como é que vamos gerir esta inflação, este aumento de custos, este aumento de incerteza sobretudo o que possa vir a acontecer e de todas as políticas que possam vir a ser decididas quer na europa, quer a Leste sobre este conflito", assinalou o líder da Jerónimo Martins.
Relativamente às operações em Portugal - onde detém o Pingo Doce e o Recheio, que representam sensivelmente um quarto do negócio da Jerónimo Martins - Pedro Soares dos Santos optou por manter "muito reservadas" as projeções em termos de faturação, atendendo à "demasiada incerteza" em torno dos impactos da inflação.
"Sei por exemplo que em tudo o que é 'commodities', a inflação é muito superior a tudo o que se está a dizer neste momento no mercado: quando pensa que o mercado tem uma inflação de 10%, olha para os cereais e tem 40 e 50%", sustentou, dando também o caso do óleo que "aumentou 60%", o que tem "um impacto brutal nas famílias".
O grande desafio das próximas semanas, diz Pedro Soares dos Santos, será determinar, em linha com o que se verificar em termos de aumentos de custos, qual será a medida da intervenção do grupo na contenção da subida dos preços junto do consumidor: "Agora, o que é nós, Jerónimo Martins, vamos tentar absorver e o que vamos ter de passar (...) este é que vai ser o exercício das próximas quatro ou cinco semanas".
Há, no entanto, um dado adquirido. "Nós não vamos ficar com tudo", declarou.
"Estamos prontos para os sacríficios que tivermos de fazer porque, nesta fase, não há nada como proteger o fundamento dos nossos negócios que é o nosso consumidor", declarou, esta sexta-feira, o presidente do grupo.
A Jerónimo Martins fechou o ano passado com lucros líquidos de 463 milhões de euros, um aumento de 48,3% face a 2020. Um resultado que supera, aliás, o período pré-pandemia, já que, em 2019, tinha obtido resultados líquidos de 433 milhões de euros.
Para 2022, embora seja cedo para "compreender todas as consequências" da invasão da Rússia, a Jerónimo Martins aponta que, "entretanto, o rápido aumento da inflação dos produtos alimentares, da energia e dos transportes, é intensificado pelo conflito militar e por crescentes limitações sentidas nas cadeias de abastecimento internacionais", ao qual se junta "uma visível depreciação das moedas da Europa de Leste, nomeadamente do zloty".
Apesar das incógnitas, a Jerónimo Martins tem previsto aumentar o investimento dos 650 milhões de euros em 2021 para 850 milhões em 2022, dos quais 175 milhões serão canalizados para Portugal.