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Visão: Decanos da família atacam Salgado no inquérito na Suíça (act.)

O regulador suíço já ouviu José Manuel Espírito Santo e António Ricciardi que acusaram Salgado de centralizador. António Ricciardi disse mesmo que o BES não pediu ajuda porque não queria o Banco de Portugal no banco.

Miguel Baltazar/Negócios
Negócios 01 de Outubro de 2015 às 11:04
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O supervisor do mercado financeiro suíço (FINMA) já ouviu José Manuel Espírito Santo, primo de Ricardo Salgado, e António Ricciardi, pai de José Maria Ricciardi (presidente do ex-BESI, agora Haitong Bank) e tio de Salgado.

A Visão conta o que declararam esses dois elementos da família quando interrogados pelo regulador suíço, a quem não pouparam Ricardo Salgado. Segundo a revista desta quinta-feira, 1 de Outubro, os suíços querem saber tudo: das relações familiares à forma como era conduzido o GES. 

"Salgado centralizava tudo", declarou Ricciardi, a quem os suíços confrontaram: não deveria António Ricciardi saber mais sobre o ESI, já que era presidente da "holding"? A resposta: "Sim, mas [esse cargo] era inútil". Eram, acabou por assentir, reuniões em que tinha apenas "onde man show": Ricardo Salgado.

A percepção de que a contabilidade da ESI estava a ser manipulada teve-a em 2008, mas o regulador suíço já tinha indicação de que havia funcionários do Privée a desconfiar das contas antes disso. 

O passivo oculto da ESI atingiu os seis mil milhões de euros. De onde vinham essas perdas, quiseram saber os suíços. Foi José Manuel Espírito Santo que respondeu: "A partir de 2008, a ESI transformara-se no lugar onde se despejavam todos os cadáveres". Já a resposta de Ricciardi foi a de que "o ramo não financeiro tinha dificuldades. (...) Desde sempre (…) Lembro-me que o dr. Salgado protestava muito porque esse sector não dava dinheiro. Quando discutimos a possibilidade de parar com as actividades do sector não financeiro e ficar apenas com a parte financeira, foi ele que se impôs. Disse não". 

Ricardo Salgado, em conclusão, mandava também, afinal, no ramo não financeiro. "No fundo, não se fazia nada de importante sem que ele dissesse sim ou não", declarou Ricciardi. 

A situação já era problemática desde 2008, mas o BES recusou-se pedir ajuda pública, como o fizeram outros bancos em Portugal. Porquê? "Creio que ele recusou essa possibilidade porque não queria ter funcionários do Banco de Portugal dentro do banco. Era mais para esconder a situação, uma situação de tesouraria muito especial", respondeu Ricciardi, que ainda deu como explicação para a ocultação de determinados factos a reputação de Salgado a nível nacional e internacional. "Era um génio". No final do inquérito, Ricciardi desabafou: "três gerações foram muito bem comportadas, infelizmente a quarta menos, ainda que eu gostasse muito do dr. Salgado". José Manuel Espírito Santo foi mais directo: "nunca imaginei que um homem com este estatuto, desta envergadura, poderia esconder ou mandar esconder".

Advogado de Salgado acusa testemunhas

O advogado de Ricardo Salgado, Marc Bonnant, tomou posição sobre o facto de terem sido divulgados os testemunhos dos inquéritos na Suíça: "A investigação da FINMA [regulador suíço] é estritamente confidencial e as testemunhas não têm o direito de tornar público o conteúdo do seu testemunho". 

Bonnant defende que a investigação em curso no regulador suíço do mercado de capitais é sobre a falência do Banque Privée Espírito Santo (em insolvência na Suíça e cuja sucursal está a caminho da extinção) e é "administrativa". "Até à data, não foi aberto qualquer procedimento de contraordenação por parte da FINMA", aponta o advogado na resposta enviada às redacções.

Em Portugal, sabe-se que foi aberto um processo contra-ordenacional pelo Banco de Portugal (o regulador português prometeu mais quatro processos até ao final do primeiro semestre de 2016) e estão em curso dezenas de inquéritos no Ministério Público em torno do Universo Espírito Santo. 



(Notícia actualizada às 15h45 com a resposta do advogado de Ricardo Salgado)


 
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