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Salgado não falou antes de encontro com Portas porque não lhe tinham perguntado

Quando a comissão de inquérito perguntou, pela primeira vez, sobre encontros de Salgado com políticos, falava especificamente em nomes. Na segunda, já se perguntava por "outros membros do Governo" para além dos indicados.

Miguel Baltazar/Negócios
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Tudo tem que ver com a pergunta. É este o motivo que Ricardo Salgado avança à comissão parlamentar de inquérito para só ter revelado o encontro com o vice-primeiro-ministro, em que a delicada situação financeira do Grupo Espírito Santo era o tema, mais de um mês depois de ter mencionado reuniões com outros decisores políticos. Ou seja, como não lhe perguntaram, não respondeu. 

 

É em mais uma carta enviada ao inquérito parlamentar que o ex-banqueiro se explica. Na missiva remetida a 30 de Dezembro de 2014 Salgado falou apenas dos encontros com Cavaco Silva, Passos Coelho, Durão Barroso e Maria Luís Albuquerque porque a pergunta enviada pela comissão "se referiu, taxativamente, a estas entidades".

 

No ofício que saiu da Assembleia da República com essas perguntas é solicitado o "envio, se possível em suporte electrónico", das cartas entregues ao Presidente da República, ao primeiro-ministro, à ministra das Finanças e ao ex-presidente da Comissão Europeia. Essas cartas foram escritas por Ricardo Salgado ao governador Carlos Costa e depois remetidas àquelas entidades. Aí, era dito que haveria um "risco sistémico" caso se concretizasse uma mudança repentina de administração do banco. Os encontros ocorreram entre Março e Maio de 2014. 

 

Na missiva que Salgado enviou a 29 de Janeiro, dia da audição de José Honório, Ricardo Salgado já fala em mais encontros. "Reportei-me, igualmente, aos senhores vice-primeiro-ministro e ex-secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, porque a primeira pergunta do V. Ofício n.º 30/CPIBES referiu-se ao Senhores ‘Presidente da República, Primeiro-Ministro, ex-Presidente da Comissão Europeia e/ou outros membros do governo’ (sic)", justifica o ex-CEO do BES. "Qual o momento, forma e teor de todas as diligências tomadas pelo presidente da comissão executiva do BES junto do Presidente da República, primeiro-ministro, ex-presidente da Comissão Europeia e/ou outros membros do Governo?", é a pergunta exacta do requerimento.

 

A reunião de Ricardo Salgado com Paulo Portas, que teve lugar a 20 de Maio, foi apenas tornada pública a 29 de Janeiro. A mesma não era referida na missiva de 30 de Dezembro. Nem foi falada na audição de 9 de Dezembro pelo antigo banqueiro.

 

Aliás, esse encontro até então desconhecido foi revelado na carta de Salgado pouco antes de o mesmo ser mencionado na comissão parlamentar de inquérito por José Honório, gestor que ajudou Salgado a falar com os decisores políticos a dar conta da situação do banco e do grupo.

 

Há aqui uma diferença face a Carlos Moedas. É que Paulo Portas nunca foi referido na audição de 9 de Dezembro e o antigo secretário de Estado sim.

 

"Com o Dr. José Honório e com o Dr. José Manuel Espírito Santo, fui falar com o Sr. primeiro-ministro. Com o Dr. José Honório e com o Dr. José Manuel Espírito Santo falámos com a Sr.ª ministra das Finanças e também, salvo erro, com o Dr. Carlos Moedas… e julgo que também falámos com o governador do Banco de Portugal e, eventualmente, demos uma palavra ao Sr. Dr. José Manuel Durão Barroso, ao presidente da Comissão Europeia, não fomos a Bruxelas porque o Dr. Durão Barroso vinha a Portugal recorrentemente". Só Portas não foi referido nesse dia e relevado apenas mais de um mês depois – e no mesmo dia em que foi falado por José Honório. 

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