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Mário Leite Silva não liga demissão do BFA ao Luanda Leaks

Mário Leite Silva justifica a demissão do banco angolano com o facto de não constar na lista para os órgãos sociais que vão ser eleitos este ano.

Miguel Baltazar
23 de Janeiro de 2020 às 11:31
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O gestor de Isabel dos Santos pediu a demissão de presidente do Banco de Fomento de Angola no dia posterior à revelação do "Luanda Leaks", mas na carta com data de 20 de janeiro Mário Leite Silva apresentou outra justificação para a renúncia.

"No final do passado mês de dezembro, o conselho de administração da Unitel entregou formalmente a lista de pessoas a designar para o Conselho de Administração do BFA para o triénio que agora se inicia. Não fazendo parte dessa lista considero ser o momento apropriado para fazer cessar as minhas funções neste órgão, que integro desde a primeira hora em que o acionista Unitel entrou no capital do BFA", refere a carta de demissão de Mário Leite Silva, a que o Negócios teve acesso.

Nesta carta de três páginas, Mário Leite Silva nunca refere as revelações do Luanda Leaks, preferindo antes fazer um balanço dos resultados do BFA. "O banco que encontrei em 2008 é um banco muito diferente do banco que deixo neste início de 2020", refere o gestor.    

Mário Leite Silva arguido em Angola

A demissão foi conhecida esta quinta-feira, 23 de janeiro, um dia depois de as autoridades angolanas terem revelado que Mário Leite Silva é um dos arguidos nas investigações que estão a ser efetuadas aos negócios de Isabel dos Santos.

Mário Leite Silva é um dos facilitadores portugueses dos negócios de Isabel dos Santos que envolvem esquemas financeiros suspeitos, revelados na investigação jornalística conhecida como 'Luanda Leaks' e que foi publicada a 19 de janeiro.

A carta de demissão tem a data de 20 de janeiro e produz efeitos a partir de 22 de janeiro (esta quarta-feira), de acordo com a informação transmitida aos trabalhadores do BFA e que a Lusa teve acesso.

Mário Leite Santos assumiu o cargo de presidente do BFA em janeiro de 2017, após a assinatura do acordo de compra de 2% do BFA pela Unitel, tendo sido eleito para o triénio 2017-2019. Tal como lembra a Lusa, o gestor foi também alvo, tal como Isabel dos Santos e o seu marido, Sindika Dokolo, do arresto preventivo de participações em empresas e contas bancárias decidido em dezembro pelo Tribunal Provincial de Luanda.

Há mais portugueses ligados a Isabel dos Santos na administração do banco que passou a ser controlado pela Unitel após esta empresa angolana da filha de José Eduardo dos Santos ter comprado a posição do BPI. Em consequência do negócio, Fernando Ulrich e José Pena do Amaral renunciaram aos cargos de presidente e vogal do conselho de administração do BFA, respetivamente. Entraram Mário Leite Silva, Jorge Brito Pereira (advogado de longa data de Isabel dos Santos e chairman da Nos), bem como António Domingues, ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos.

Quem gravita à volta de Isabel dos Santos:

Isabel dos Santos

Isabel dos Santos
A empresária angolana está no centro da investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas, conhecida como Luanda Leaks. Associados aos negócios de Isabel dos Santos surgem vários outros nomes, alguns deles ao seu lado em várias empresas.

Sindika Dokolo

Sindika Dokolo
Os mais de 715 mil documentos, divulgados agora pelo Consórcio Internacional de Jornalistas, e no qual se inclui o Expresso e a SIC, detalham os esquemas financeiros de Isabel dos Santos, mas também do seu marido, Sindika Dokolo, que detém participações em várias das empresas onde também está a empresária. Em dezembro do ano passado, o Tribunal de Luanda ordenou mesmo o arresto das posições de Isabel dos Santos e do colecionador de arte em entidades como a Zap, Unitel, Cimentangola, Contidis e dos bancos BIC e BFA. Além das participações, o tribunal decidiu também avançar com o arresto da contas bancárias da filha do ex-presidente de Angola e de Dokolo nos bancos BIC, BFA, BAI e Banco Económico.

Mário Leite da Silva

Mário Leite da Silva
O economista de 47 anos é considerado o homem de confiança de Isabel dos Santos em Portugal. A empresária foi buscá-lo ao Grupo Amorim em 2006 e tem, desde então, ajudado a filha do ex-presidente de Angola nos seus negócios. É presidente da Santoro Finantial, a "holding" de Isabel dos Santos em território nacional, com escritórios na Avenida da Liberdade, em Lisboa. Mário Leite da Silva é ainda o presidente do conselho de administração da Efacec e do Banco de Fomento Angola, no qual a empresária detém uma participação através da Unitel. É ainda administrador não executivo da Nos e representa a empresária nas empresas angolanas SOCIP, Finstar, Esperaza Holding, Nova Cimangola, e Kento Holding.

Jorge Brito Pereira

Jorge Brito Pereira
É o advogado de Isabel dos Santos e um dos homens de sua plena confiança. Como tal, o atual presidente do conselho de administração da Nos, operadora onde a empresária é acionista através da Zopt, tem exercido funções em inúmeras empresas da angolana, tendo sido presidente da meda da assembleia-geral do BFA, BIC ou Santoro, por exemplo. Segundo o Luanda Leaks, o advogado terá ajudado Isabel dos Santos na alegada transferência de cerca de 100 milhões de euros de fundos públicos da Sonangol para uma "offshore" no Dubai (Matter Business Solutions). Uma informação que o próprio desmentiu ao Observador, considerando que a ideia de que teria algum controlo sobre aquela "offshore" é "em absoluto falsa".

Paula Oliveira

Paula Oliveira
É apontada como uma amiga próxima de Isabel dos Santos e do seu marido Sindika Dokolo, integrando, assim, o círculo de pessoas de total confiança da empresária. Atualmente, exerce a função de administradora não executiva na Nos, tendo sido nomeada pela empresária. Mas o seu nome também aparece associado à Matter Business Solutions, segundo o consórcio de jornalistas de investigação que teve acesso a mais de 715 mil documentos. Jorge Brito Pereira e Paula Oliveira terão assinado os contratos em representação da Matter Business com a Sonangol Limited, uma subsidiária da petrolífera pública angolana no Reino Unido. Um desses documentos foi assinado cinco dias antes de Isabel dos Santos sair da petrolífera angolana, exonerada pelo atual presidente de Angola, João Lourenço.

Sarju Raikundalia

Sarju Raikundalia
O ex-administrador financeiro da Sonangol é apontado, na investigação do Consórsio Internacional de Jornalistas, como um dos envolvidos nos 100 milhões que Isabel dos Santos terá desviado da petrolífera para o Dubai. Isto além de Mário Leite da Silva, o gestor dos negócios da empresária em Portugal, e Jorge Brito Pereira, o advogado de Isabel dos Santos. De acordo com o Expresso, que faz parte do consórcio, há um relatório secreto realizado pela própria Sonangol que revela emails enviados por Sarju Raikundalia para o "private banking" do EuroBic a ordenar a transferência de 38 milhões de dólares. Isto poucas horas depois de ter sido publicada a primeira notícia na imprensa angolana sobre a saída da empresária angolana da liderança da Sonangol.

Vasco Pires Rites

Vasco Pires Rites
É conhecido por ser um gestor especializado em estruturas financeiras e em imobiliário. E foi contratado em 2010 por Isabel dos Santos à consultora PricewaterhouseCoopers (PwC), segundo o Expresso. Desde então, Isabel dos Santos tem escolhido Vasco Pires Rites para ficar à frente de algumas das suas empresas, entre as quais a Bree Consulting e a Followpanorama. Segundo um artigo do semanário, o gestor também esteve à frente da polémica da construção da barragem de Caculo Cabaça que, segundo foi noticiado em Angola, terá beneficiado a empresária angolana. Aliás, em 2017 foi publicada uma troca de emails entre Isabel dos Santos e Vasco Pires Rites sobre a alegada adjudicação da construção desta barragem a empresas próximas da empresária.

António Domingues

António Domingues
O gestor deixou a liderança da Caixa Geral de Depósitos no final de 2016. Desde então, António Domingues tem vindo a assumir vários cargos em empresas onde a empresária angolana Isabel dos Santos é acionista, de forma direta ou indireta. Já em território nacional, António Domingues é gestor não executivo da Nos, mas também presidente da Comissão de Finanças e Risco da Efacec, empresa liderada por Mário Leite da Silva, o gestor dos negócios da empresária em Portugal. Em Angola, o ex-presidente do banco estatal e ex-administrador do BPI é vice-presidente do Banco de Fomento Angola (BFA). Esta entidade ainda é detida em 48% pelo BPI - o objetivo do banco é reduzir esta posição. Já os restantes 52% estão nas mãos da Unitel, onde a filha do ex-presidente de Angola tem uma participação de 25%.

Teixeira dos Santos

Teixeira dos Santos
O ex-ministro das Finanças tem sido visto como um dos homens de confiança de Isabel dos Santos na banca. A empresária detém uma participação de 42,5% no banco liderado por Teixeira dos Santos, o EuroBic, a partir do qual, segundo informação divulgada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas, no qual se inclui a SIC e o Expresso, se registaram transferências suspeitas. Sob suspeita está o alegado esvaziamento da conta da Sonangol no EuroBic em 24 horas, passando de ter 57 milhões de dólares para um saldo negativo de 450 mil dólares. Isto um dia depois de o conselho de administração da petrolífera Sonangol, liderado por Isabel dos Santos, ter sido exonerado por decisão do presidente angolano. Perante estas notícias, o EuroBic decidiu deixar de fazer negócios com a empresária.



A carta de demissão de Mário Leite Silva:



(Notícia em atualização)

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