Notícia
FT: Recapitalização do Monte dei Paschi divide Comissão Europeia e BCE
O jornal britânico noticia que Bruxelas e Frankfurt estão divididos quanto ao plano de recapitalização do Banca Monte dei Paschi di Siena, citando uma fonte envolvida no processo que classifica a situação de "surreal".
A há muito esperada recapitalização do Banca Monte dei Paschi di Siena poderá não estar para breve, o que se deve também às diferentes perspectivas da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu (BCE) relativamente ao futuro do banco italiano, o mais antigo do mundo ainda em actividade.
O jornal britânico Financial Times adianta esta quinta-feira, 23 de Fevereiro, que as divisões entre a Comissão Europeia e o BCE quanto ao plano de recapitalização do Monte dei Paschi persistem e poderão fazer prolongar o processo em suspenso desde Dezembro.
De um lado o Mecanismo Único de Supervisão, o braço de supervisão do BCE, que considera ser melhor esperar pela luz verde de Bruxelas ao plano de reestruturação da instituição financeira italiana. Já a Comissão, incumbida da responsabilidade de observar a concessão de ajudas estatais, aguarda que Frankfurt defina o plano da capitalização antes de finalizar os termos da reestruturação do banco. Ou seja, persiste um impasse.
A dividir as duas instituições europeias estão as propostas de resgate, desde o montante da ajuda estatal ao volume de perdas que os obrigacionistas terão de suportar, passando pela dimensão da reestruturação necessária a garantir a sustentabilidade financeira do banco.
A este propósito, o italiano Il Sole 24 Ore escreve que o BCE está apreensivo quanto à possibilidade de se avançar com um plano de reestruturação demasiado "suave", considerando que tal poderia colocar em causa as novas regras europeias que enquadram o "bail in" (que implica perdas para os obrigacionistas e depositantes).
A "recapitalização cautelar" de bancos solventes é permitida pelas regras comunitárias desde que estejam somente em causa necessidades de capital identificadas no cenário mais adverso dos testes de stress levados a cabo pelo BCE.
Além da discussão entre o recurso a um "bail out" – dificultado pelas regras europeias – e um "bail in", subsistem diferenças em relação às necessidades de capital do Monte dei Paschi.
Depois de em Dezembro o BCE ter rejeitado prolongar o período – um pedido feito pela administração do banco levando em linha de conta a crise política decorrente do referendo constitucional - para a concretização da recapitalização de 5 mil milhões de euros, o mecanismo de supervisão da instituição liderada por Mario Draghi defende agora que as necessidades de capital ascendem a 8,8 mil milhões de euros.
Questionada pelo Il Sole 24 Ore sobre este impasse, a Comissão Europeia assegurou que "estamos a trabalhar com as autoridades italianas e com o supervisor, seguindo as regras europeias".