Notícia
Fosun recupera em bolsa após investigação do regulador
As acções do maior accionista do BCP fecharam a sessão em Hong Kong a valorizar mais de 1%.
A Fosun International valorizou mais de 1% em Hong Kong, recuperando uma parte da queda sofrida na véspera, em reacção ao anuncio das investigações dos reguladores ao crédito concedido às empresas que estão em forte expansão internacional.
Os títulos fecharam a subir 1,02%, depois de ontem terem chegado a cair 9,63% ao longo da sessão em que encerraram com uma queda de 5,78%.
A empresa, que é a maior accionista do BCP, anunciou ontem que não encontrava explicação para esta variação acentuada das acções, que foi também acompanhada de um volume de negociação acima do habitual.
Contudo, a queda dos títulos esteve relacionada com o facto de as autoridades chinesas terem anunciado que estão a investigar os créditos concedidos às empresas que protagonizaram as maiores compras fora de portas, como é o caso da Fosun e do HNA Group, que investiu na TAP.
De acordo com a Reuters, outras empresas envolvidas na investigação fizeram saber que a a sua actividade decorre normalmente e que estas investigações são rotineiras, o que contribuiu para acalmar os investidores.
Pequim decidiu passar a pente fino os empréstimos que foram concedidos a grandes empresas para fazerem compras multimilionárias no estrangeiro, como a Fosun, que detém 23,5% do BCP, e a HNA, que investiu na TAP.
As entidades chinesas têm nos últimos anos revelado um apetite quase insaciável pela compra de activos no estrangeiro. No ano passado, segundo dados da Bloomberg, as compras de empresas no exterior totalizaram cerca de 240 mil milhões de euros, pulverizando todos os recordes de anos anteriores. Foi praticamente o dobro do que em 2015.
E Portugal foi um dos mercados na mira, com as aquisições de empresas nacionais ou activos detidos por entidades portuguesas a totalizarem 6.700 milhões de euros desde Junho de 2010, segundo dados da Bloomberg. Os maiores foram a compra de 30% da Petrogal Brasil à Galp por cerca de 3.500 milhões de euros. E a compra de 21,35% da EDP por 2.700 milhões.
Mas essa corrida agrava as saídas de capitais na China e torna mais difícil para as autoridades segurar o yuan. E desde o início do ano Pequim tem tomado medidas para restringir esse ímpeto comprador, o que tem estancado a saída de capitais segundo uma nota de Commerzbank. Mas o banco alemão alerta para uma outra face da moeda: "A decisão administrativa de prevenir as saídas de capitais abanou as perspectivas de mais liberalização nos movimentos de capital e pode prejudicar a vontade do resto do mundo em investir na China no longo prazo".
O mercado mostra também preocupações sobre os níveis cada vez maiores de dívida na economia chinesa. Isso levou a Moody’s a cortar, no final de Maio,o "rating" do país de Aa3 para A1. O principal argumento foi a subida da dívida no país e as responsabilidades contingentes que isso traz para o soberano. Já este mês, o FMI recomendou que a China reduzisse o fluxo de novo crédito e se assegurasse da eficiência dos empréstimos concedidos.
O que o regulador está a investigar
O regulador bancário chinês está a investigar a forma como os gigantes do país financiaram as compras no estrangeiro.
Financiamento das compras
Durante anos as compras de empresas estrangeiras eram feitas ou por empresas estatais ou, no caso das empresas privadas, com recurso a fundos controlados pelo Estado. Mas nos últimos anos, entidades como a Fosun, a Anbang, a HNA e a Dalian Wanda começaram a financiar-se no estrangeiro, fora do raio de influência de Pequim.
Colaterais e financiamento
Algumas das grandes compras destes grupos são financiadas pelas empresas que compram ou utilizam as suas participações nessas empresas para dar como garantia dos empréstimos obtidos. Segundo o Financial Times, existem também casos de empresas que criam produtos de investimento para se financiarem. A HNA tem 11 plataformas de empréstimos em que atrai financiamento de particulares a taxas de entre 7% a 12%, segundo o FT, com prazos de 20 dias a um ano.
Receio de risco sistémico
Segundo o Financial Times as autoridades querem aferir se as compras destas empresas foram feitas com recurso a produtos financeiros de juros elevados e que escaparam ao escrutínio das autoridades ou a fundos obtidos no estrangeiro. Com a dívida oficial em níveis elevados e com os valores elevados das operações de financiamento paralelas as autoridades estarão a tentar tirar a limpo se estes conglomerados empresariais podem causar problemas sistémicos. O líder da Anbang, Wu Xiaohui, foi interrogado na semana passada e abandonou temporariamente o cargo na empresa.