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Fitch aponta “crescente discrepância” entre bancos públicos e privados angolanos

A agência de notação financeira Fitch considera que a recapitalização do Banco de Poupança e Crédito (BPC) pelo Governo angolano destaca a "crescente discrepância" entre os bancos públicos e privados do país, afectados pelo arrefecimento da actividade no sector.

Reuters
25 de Março de 2017 às 23:38
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Nesta avaliação da Fitch, consultada pela Lusa, é enfatizado o caso do BPC, o maior banco de Angola, detido pelo Estado e em processo de reestruturação desde 2016 e com um volume de crédito malparado que, segundo dados anteriores noticiados pela Lusa, será superior a 1.000 milhões de euros.

"Os bancos estatais estão em fase de reestruturação e enfrentam maiores desafios sobre o capital, a liquidez em moeda estrangeira e a qualidade dos activos", lê-se na avaliação da agência norte-americana de notação, numa altura em que o Governo angolano está a recapitalizar também o Banco de Comércio e Indústria (BCI) e o Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA).

Um "ambiente operacional fraco pesa no desempenho de todos os bancos angolanos", afectados ainda pela "lenta procura do crédito", afirma a agência.

Angola é actualmente o maior produtor de petróleo em África, mas enfrenta desde finais de 2014 uma profunda crise financeira, económica e cambial decorrente da quebra para metade nas receitas com a exportação de petróleo, levando à estagnação de várias actividades económicas no país, com reflexos na banca.

A imprensa privada angolana tem relatado dificuldades financeiras em vários bancos comerciais do país.

O chefe da missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) para Angola, Ricardo Velloso, alertou na quarta-feira, em Luanda, para a necessidade de "continuar a reforçar o sistema bancário e financeiro do país", observação feita no âmbito de encontros anuais de consulta com as autoridades angolanas.

O Ministério das Finanças de Angola informou a 17 de Março que o plano de recapitalização do BPC já foi aprovado pelo Governo, iniciativa com que "os accionistas do BPC, em total coordenação com o regulador", pretendem "assegurar a solidez e robustez do Banco, bem como garantir a estabilidade financeira do sistema bancário nacional".

O BPC é um dos maiores bancos de Angola e há cerca de um ano apresentava uma carteira de crédito vencido superior a mil milhões de euros, tendo o Ministério das Finanças anunciado que seria alvo de um processo de reestruturação e saneamento.

Citando o Banco Nacional de Angola, a Fitch refere mesmo que os empréstimos com imparidade no BPC "podem ser mais do que o dobro da média do sector, atingindo 30% do total de empréstimos".

A Lusa noticiou a 8 de Fevereiro que o Governo angolano vai realizar um aumento de capital no BPC de pelo menos 380 milhões de euros.

De acordo com um decreto presidencial, o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, autoriza a emissão especial de Obrigações do Tesouro em Moeda Nacional a favor do BPC, "de maneira a possibilitar que o mesmo cumpra na plenitude a missão para o qual foi criado".

"O banco vive um momento muito particular da sua história. Queremos sanear e reestruturar o BPC. Vamos fazê-lo para que o banco sirva convenientemente o Estado, seu único accionista", disse em Outubro passado o ministro das Finanças, Archer Mangueira.

Na mesma altura foi empossada uma nova administração no banco estatal, que passou a ser liderado por Cristina Florência Dias Van-Dúnem, que até Maio foi vice-governadora do Banco Nacional de Angola, sendo agora presidente do conselho de administração e administradora não executiva da instituição.

A Lusa noticiou a 23 de Setembro último a emissão, também pelo Estado angolano, de 231.127 milhões de kwanzas (1,3 mil milhões de euros) em dívida a favor da sociedade pública criada para gerir alguns activos financeiros daquele banco estatal.

A sociedade anónima de capitais públicos Recredit foi criada enquanto participada a 100% pelo Ministério das Finanças, tendo sido apelidada pela imprensa local como uma espécie de "banco mau" do BPC.

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