Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Chegou a "chicana política" ao inquérito ao BES?

O relatório preliminar da comissão de inquérito à gestão do BES, com as conclusões do relator social-democrata Pedro Saraiva, tem de estar pronto a 16 de Abril. Mas, um dia depois do final das audições, já se percebeu que há divisões.

Bruno Simão
26 de Março de 2015 às 21:13
  • 15
  • ...

Os partidos da oposição assumem que o Governo teve um papel importante na resolução do BES. "Ninguém acredita que uma decisão com esta dimensão não seja, pelo menos, uma co-decisão entre o Banco de Portugal e o Governo", acusou o socialista Pedro Nuno Santos, numa ideia que tanto BE como PCP, embora com mais perspectivas, também partilharam.

 

Depois deste balanço inicial feito pela oposição, o PSD veio, pela voz de Carlos Abreu Amorim, dizer que se estava a começar uma "chicana política", já que, defende, está a fazer-se um "adiantamento das conclusões".

 

Cecília Meireles, do CDS, optou por criticar também as acusações ao Executivo: "Uma das coisas que distinguiu esta comissão de inquérito foi o facto de ter corrido com consenso e seriedade. Claro que não há bem que sempre dure. Tinha de entrar o momento de chicana política". Em comum, e à excepção do PSD - que não quis avançar com um balanço inicial -, todos apontam o dedo à administração do BES como um todo e não só a Ricardo Salgado.

 

Entregue o relatório feito pelo deputado relator a 16 de Abril, os partidos têm até 23 para avançar com propostas de alteração. O relatório final tem de estar pronto a 29.

 

O BALANÇO INICIAL DOS PARTIDOS

 

Os partidos fizeram esta quinta-feira conferências de imprensa para avançarem com um balanço inicial do que foi já apurado na comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES e do GES, iniciada em Outubro de 2014 e que, desde Novembro, ouviu 50 pessoas em 55 audições. 

 

PS - Pedro Nuno Santos 

 

O deputado Pedro Nuno Santos tem já um leque de responsáveis pelo processo BES: "Desde logo, e em primeiro lugar, o presidente da comissão executiva do BES, toda a sua equipa, e restantes administradores, o auditor externo, os supervisores (Banco de Portugal, CMVM e ex-ISP), troika e Governo".

 

Da administração, o socialista ataca Salgado mas os restantes membro da administração não escapam. Nem o primo líder do BESI. "José Maria Ricciardi era administrador da ESFG, membro da comissão executiva do BES e presidente do BESI. Portanto, é um dos principais responsáveis da gestão de todo o grupo, pela derrocada do BES/GES".

 

Os erros a apontar ao Banco de Portugal passam pelo próprio "ring-fencing" decretado para dividir a área financeira da área não financeira. Além disso, também o acompanhamento à administração do BES falhou no arranque de 2014, como mostrou a auditoria forense. 

 

Sobre a resolução, Pedro Nuno Santos lança a farpa ao Executivo: "Ninguém acredita que uma decisão com esta dimensão não seja, pelo menos, uma co-decisão entre o Banco de Portugal e o Governo".

 

BE - Mariana Mortágua 

 

"O Bloco de Esquerda considera que a responsabilidade do que aconteceu no BES pertencem aos administradores, quer porque os cometeram actos de forma activa quer porque foram negligentes", disse Mariana Mortágua. Não se pode apontar apenas para o antigo líder histórico do BES: "O pior que pode acontecer é cair no engano de que o problema no BES reside no carácter de Ricardo Salgado".

 

Há um problema "mais grave, mais estrutural", que é o facto de muitas das questões das quais discorda, como a existência de grandes grupos tentaculares, esquemas piramidais de empresas construídas sobre cartas ou até mesmo a fuga ao fisco, serem legais. "Só é possível porque há um sistema que o permite".

 

Os supervisores cometeram erros, o Governo também tem responsabilidade porque ou se envolveu na resolução e o esconde ou porque não acompanhou minimamente o trabalho.

 

Mariana Mortágua antecipa dificuldades na aprovação do relatório final: o que diz respeito à actuação do Governo" e também o facto de haver "um problema estrutural sobre o sistema financeiro" que, diz, não contará com o apoio dos restantes partidos.

 

PCP - Miguel Tiago

 

"Não podemos alimentar a ideia de que tudo se deve à natureza de uma pessoa, ao comportamento de um administrador". Para Miguel Tiago, do PCP, a derrocada do BES deve-se ao "sistema, como um todo".

 

Os comunistas, que propuseram a constituição da comissão de inquérito, criticam o regulador do sector financeiro: "O Banco de Portugal não fez tudo o que pôde mas também não podia fazer tudo o que devia". Miguel Tiago lembra o facto de o regulador ter de garantir a estabilidade financeira e, depois, ter de manter uma administração de que desconfiava para não estragar essa estabilidade. 

 

Já o Governo tem culpa "pela inacção". De qualquer forma, também o facto de dizer que não tem responsabilidades na resolução do BES é condenada pelo deputado: "Nós não acreditamos que o Banco de Portugal resolvesse um banco sem se articular com o Banco Central Europeu e sem ter ouvido o Governo da República Portuguesa".

 

Reguladores e troika não escapam às acusações do deputado Miguel Tiago.

 

PSD - Carlos Abreu Amorim 

 

O PSD fez uma conferência de imprensa depois dos partidos à sua esquerda do espectro político mas não quis fazer um balanço final das audições.


"A chicana política parece ter regressado", acusou Carlos Abreu Amorim por ter havido um "adiantamento das conclusões". Daí que tenha feito um apelo aos coordenadores dos restantes partidos para que "não deitem o bebé fora com a água do banho", relembrando que os trabalhos correram, até aqui, sem combate político.

 

CDS - Cecília Meireles

 

Alinhando com o colega da coligação, Cecília Meireles lembra que "uma das coisas que distinguiu a comissão foi o facto de ter corrido com grande consenso e seriedade entre os diversos partidos". "Claro que não há bem que sempre dure. Tinha de entrar o momento de chicana política e da partidarização de uma questão que não é partidária", continuou.

 

Para a deputada centrista, a nota mais importante que já se pode tirar dos trabalhos do inquérito parlamentar é que a resolução do BES não impôs que fossem "os contribuintes a pagar a conta".

 

Houve mostras da "falta de articulação" entre supervisores. E, daqui, é "importante tirar conclusões". Segundo Cecília Meireles, é preciso olhar para o quadro legislativo para perceber "se não funcionou ou se funcionou muito mal".

 

 

Ver comentários
Saber mais BES comissão de inquérito
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio