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Cimeira tenta salvar diesel na Alemanha

Numa altura em que a opinião pública e os ambientalistas reclamam alterações e que Reino Unido e França dão passos para acabar com o diesel, a casa da indústria automóvel na Europa tenta manter o gasóleo.

Reuters
02 de Agosto de 2017 às 14:11
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Os líderes dos principais fabricantes automóveis alemães sentaram-se esta quarta-feira à mesa com ministros do governo de Angela Merkel e responsáveis associativos e sindicais numa reunião de "crise" para travar a poluição gerada pelos veículos diesel no centro das cidades, ao mesmo tempo que se tenta salvaguardar a indústria automóvel, responsável por 800 mil empregos.


A Reuters refere que o governo germânico, com eleições à porta no mês que vem, está relutante em ceder aos apelos das associações ambientalistas, que pedem em tribunal a proibição de circulação de veículos a gasóleo nas principais cidades do país. Uma medida que afectaria os 15 milhões de condutores de carros a diesel – e potenciais eleitores – e com impacto na maior indústria exportadora do país.


"Precisamos de salvar o diesel (…) mas também tem de haver um novo impulso para a era dos [veículos] eléctricos," afirmou Armin Laschet, ministro-presidente do governo estatal da Renânia do Norte-Vestfália, região que acolhe um terço dos fornecedores de peças para automóveis na Alemanha.

No encontro estiveram os líderes governamentais das regiões com maior presença da indústria automóvel, sindicatos, patrões e associações do sector, além de um representante de Angela Merkel.


Laschet defendeu uma abordagem "holística" ao tema, que não implique a proibição de circulação – já que isso teria efeito na circulação de pessoas e bens - , mas que melhore as condições ambientais, "que necessitam de acção urgente."


Esta foi a primeira reunião conjunta do "Fórum Nacional do Diesel", criado para contribuir para a "mobilidade sustentável" e que contou com a presença dos ministros dos transportes e do ambiente.


Entre as medidas que poderão ser adoptadas numa primeira fase para conciliar diesel e ambiente estará a introdução de alterações de software em cerca de cinco milhões de carros, que evitará modificações mais vastas e dispendiosas, mas uma transformação cuja eficácia causa dúvidas em muitos especialistas.

O denominado "retrofit", cujo custo é de cerca de 100 euros por carro, de acordo com o Der Spiegel, poderá ser pago pela indústria e por fundos públicos. A associação automovel VDA, de acordo com a Reuters, ter-se-á comprometido a fazer esta alteração em cinco milhões de carros para tornar os sistemas de filtro de exaustão mais eficientes e reduzir entre 25% a 30% as emissões de gases tóxicos.


O encontro coincide com a investigação em curso pela concorrência a fabricantes alemães – BMW, Porsche, Daimler, Audi e Volkswagen – por alegado conluio e numa altura em que o Reino Unido e França se posicionam para eliminar das estradas todos os veículos a gasóleo. Também a electrificação automóvel deu um passo importante esta semana, com a comercialização do primeiro carro eléctrico que pretende tornar-se acessível às massas, o Model 3 da Tesla.


"A cimeira do diesel está a defender tecnologia obsoleta como se fosse ouro em Fort Knox [local nos EUA onde é guardado ouro]," escreveu a associação ambientalista Greenpeace, no Twitter. A associação invadiu esta quarta-feira o telhado do ministério dos Transportes ostentando uma faixa em protesto - Bem-vindos a Fort NOx -, uma alusão às emissões de gases nocivos NOx, óxidos de azoto, obrigando a alterar o local da reunião para a sede do ministério do Interior.

Uma sondagem para o jornal Die Welt, e citada pela Reuters, coloca 73% dos alemães favoráveis a que o governo adopte posições mais firmes em relação à indústria automóvel no que diz respeito à poluição atmosférica.


A queda das vendas de veículos diesel – envolvidos no escândalo de manipulação de gases nocivos, particularmente pela Volkswagen – prosseguiu em Julho, recuando 12,7%. E não impediu o aumento das emissões de dióxido de carbono: em média, por veículo, aumentaram 0,4% no ano passado, para 128,4 gramas de C02 por quilómetro.

Depois da cimeira, haverá quatro reuniões técnicas nas quais serão determinadas as medidas a tomar, desde logo para reduzir as emissões do parque automóvel existente, melhorar o controlo do trânsito, tornar os transportes públicos mais ecológicos e optimizar tecnologias de condução, além da adopção de combustíveis alternativos.

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