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Jerónimo Martins compra fábrica de Portalegre à Serraleite
Grupo de distribuição, que já tinha anunciado a sua entrada na produção agro-alimentar em 2014, decidiu adquirir a unidade de processamento de leite à cooperativa de produtores de Portalegre.
O grupo Jerónimo Martins, que em Dezembro passado fez saber da sua intenção de investir na área agro-alimentar – lacticínios, carne e pescado - já tem o primeiro investimento significativo alinhado.
De acordo com o anúncio que a Autoridade da Concorrência publicou esta sexta-feira, 30 de Janeiro, o grupo dono da cadeia Pingo Doce e do Recheio pretende adquirir a fábrica de processamento de leite que a Cooperativa Agrícola de Produtores de Leite de Portalegre, conhecida pela marca de lacticínios Serraleite.
A informação publicada pela Autoridade da Concorrência na imprensa nacional dá conta que o organismo recebeu, a 22 de Janeiro deste ano, uma notificação de "aquisição de controlo exclusivo" em que a Jerónimo Martins Lacticínios pretende adquirir, "através de trespasse", o "conjunto de activos constituídos por um estabelecimento industrial de transformação de leite e produção de derivados lácteos" e "pelos bens corpóreos e incorpóreos que são parte integrante desta, detidos pela empresa Serraleite".
A unidade industrial fica, segundo a mesma fonte de informação, "localizado no concelho de Portalegre".
A Jerónimo Martins criou, em Abril de 2014, a subsidiária, a 100%, Jerónimo Martins Agro-alimentar, com um capital social de 50 mil euros, respondeu por escrito ao Negócios fonte oficial da JM no passado dia 10 de Dezembro de 2014.
Nessa altura, garantia fonte oficial da JM, o objectivo era construir "de raiz", no Pólo Industrial de Portalegre, uma unidade de processamento de leite. "Neste momento [10 de Dezembro de 2014] estamos ainda em fase de finalização dos procedimentos necessários para a sua instalação", acrescentou.
Esse investimento teria um custo estimado de "38 a 40 milhões de euros", adiantara a 6 de Dezembro, ao "Expresso", António Serrano, antigo ministro da Agricultura do último governo de José Sócrates que a JM convidou para liderar a nova área agro-alimentar. António Serrano contabilizava então em 40 milhões o investimento e em 40 postos de trabalho o emprego directo que a nova unidade iria criar. Tinha data prevista de abertura em 2017.
Ao "Expresso", o antigo ministro explicou que o projecto seria feito "em associação com a cooperativa local Serraleite". "Não pretendemos substituir-nos a ninguém, vamos é trabalhar com agentes que já estão no sector e, se possível, atrair ainda mais, até porque a fábrica vai ter o dobro da capacidade de processamento da actual, detida pela Cooperativa".
O anúncio agora publicado, contudo, é para compra da unidade da Serraleite, e não através da Jerónimo Martins Agro-alimentar, mas de uma empresa designada no anúncio da concorrência como Jerónimo Martins Lacticínios – "empresa do grupo Jerónimo Martins, que se dedica fundamentalmente à produção, distribuição e venda de géneros alimentício e outros produtos de grande consumo, nomeadamente em Portugal".
Acrescenta ainda, no detalhe da compradora dos activos da Serraleite: "o grupo Jerónimo Martins tem vindo a investir no desenvolvimento de novos projectos, através das áreas de restauração e serviços de ‘take away’ no Pingo Doce, postos de abastecimento de combustível, lojas bem-estar e nos mercados de vestuário para adulto e criança e de sapatos e acessórios, respectivamente".
Constituída como Serraleite em 1978, a Cooperativa Agrícola dos Produtores de Leite de Portalegre teve a sua génese ainda antes da revolução de 25 de Abril de 1974.
No relatório final sobre as relações comerciais entre a distribuição alimentar e os seus fornecedores, a Autoridade da Concorrência, que data de Outubro de 2010, remetendo para dados da Fenalac, estimava em 8.000 os produtores representados pela Lactogal (líder destacada do mercado de leite em Portugal) e a Serraleite. "Sendo estes responsáveis por cerca de 3/4 da recolha de leite cru em território nacional continental" – acrescentada a Concorrência em Outubro de 2010.
A Serraleite foi considerada, no mesmo relatório, na mesma altura, como de "menor dimensão" que a Lactogal, e "responsável por parte da recolha de leite no Alentejo".
De notar que além da contabilização em território continental, os Açores – onde a Nestlé e a Bell têm unidades – contribuem ainda para uma parte significativa da produção nacional de leite e lacticínios.