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Demitido de empresa pública anuncia compra de 225 hectares na Serra de São Mamede

Rui Gonçalves, o ainda presidente da Florestgal, que cessa funções na segunda-feira, após ter sido demitido pelo Governo, revelou que se trata da primeira aquisição de terrenos da empresa que gere o património florestal do Estado.

Rui Gonçalves, CEO da Florestgal.
29 de Outubro de 2022 às 10:57
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A empresa pública Florestgal comprou 225 hectares no Parque Natural da Serra de São Mamede com o principal objetivo de avançar com a renaturalização dos terrenos, anunciou hoje o presidente da instituição.

 

Entre agosto e outubro, aquela empresa, sediada em Figueiró dos Vinhos, no distrito de Leiria, adquiriu 225 hectares de terrenos, numa operação de cerca de 500 mil euros, em zona do Parque Natural da Serra de São Mamede, disse à agência Lusa Rui Gonçalves, que cessa funções na segunda-feira, após ter sido demitido pelo Governo.

 

Estas são as primeiras aquisições de terrenos por parte daquela empresa que gere o património florestal do Estado, desde a sua criação em 2018, na sequência dos grandes incêndios de 2017.

 

A 25 de outubro, realizaram-se as escrituras públicas de aquisição de prédios rústicos, num total de 160 hectares, situados nos concelhos de Marvão e Portalegre.

 

Todos os terrenos estão inseridos no parque natural, sendo que uma parte da área adquirida está em zona de proteção total.

 

Estes terrenos juntam-se a outros já adquiridos em agosto também naquele território, esclareceu.

 

"Alguns dos terrenos estão isolados, em lotes entre dez e 20 hectares, mas conseguimos fazer uma operação de emparcelamento de outros, com cerca de 150 hectares contíguos", realçou Rui Gonçalves.

 

A Florestgal irá agora proceder a "uma caracterização da situação atual, que plantações e habitats existem e, em função desse diagnóstico, é avançar com operações de renaturalização", avançou.

 

"Um dos objetivos primordiais é recuperar as áreas das galerias ripícolas, noutras áreas tentar recuperar as matas com espécies de matas mediterrânicas e, onde houver aptidão florestal, mas com solos muito degradados, iremos pôr pinhal para recuperar os solos e depois plantar espécies mais diferenciadas", salientou.

 

De acordo com Rui Gonçalves, estes foram "os primeiros passos" dados no sentido da estratégia da Florestgal de adquirir terrenos privados em zonas protegidas.

 

Até ao final do ano, o responsável acredita que a Florestgal deverá ter cerca de 500 hectares adquiridos, decorrendo negociações com proprietários em zonas como a Serra da Malcata, Tejo Internacional ou Douro Internacional.

 

Demitido após pouco mais de um ano no cargo e depois de polémico artigo de opinião

 

Foi no passado dia 12 de Outubro que fonte da Florestgal revelou à Lusa que o Governo tinha demitido Rui Gonçalves, que estava no cargo há pouco mais de um ano.

 

Questionada pela agência Lusa, fonte da Florestgal disse que Rui Gonçalves, que tinha assumido o cargo em agosto de 2021, "foi demitido" pelo Ministério do Ambiente.

 

"Por ser um cargo de confiança política, apresentou a sua carta de demissão", esclareceu a mesma fonte.

 

Fonte oficial do Ministério do Ambiente e Ação Climática apenas indicou à Lusa que Rui Gonçalves "apresentou a sua demissão, que foi aceite", cessando funções em 31 de outubro.

 

O presidente cessante da Florestgal escusou-se a prestar quaisquer esclarecimentos à agência Lusa sobre a demissão.

 

Também o Ministério do Ambiente recusou avançar quais as razões que levaram à cessação de funções de Rui Gonçalves, nomeadamente se a demissão se deve a um artigo de opinião publicado pelo presidente da Florestgal no jornal Público, no final de setembro.

 

No artigo, Rui Gonçalves, partindo das consequências do grande incêndio de agosto na Serra da Estrela, tece várias críticas ao sistema, apontando para a "inutilidade" que a prevenção estrutural assumiu no combate às chamas nesse fogo, assim como para problemas de descoordenação do combate ao incêndio, com "demasiados agentes" no terreno.

 

"Parecíamos estar preparados para a nova geração de incêndios florestais, mas a realidade veio mostrar que a preparação não passou do papel para o terreno. Ou seja, temos muitos relatórios, programas e planos escritos e aprovados, mas não os conseguimos executar quando é necessário", escreveu Rui Gonçalves.

 

Rui Gonçalves foi o segundo presidente na história da Florestgal, criada em 2018, e que teve como primeiro líder o antigo deputado socialista José Miguel Medeiros, que esteve à frente da empresa até 2021, quando João Pedro Matos Fernandes, na altura ministro do Ambiente, optou por não o reconduzir no cargo.

 

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