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Risco de morrer por covid-19 baixa cinco vezes face ao início da pandemia

Novos dados mostram uma redução acentuada na probabilidade de um desfecho fatal, que é “ainda mais marcada” acima dos 80 anos. Vacinação, aumento da testagem e aprendizagem na resposta à doença explicam a diferença.

O aumento da capacidade de testagem reduziu o hiato entre os números de infeção oficiais e os reais.
Alexandre Azevedo
27 de Abril de 2021 às 11:46
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A probabilidade de uma infeção por covid-19 resultar em morte ao final de um mês é neste momento cinco vezes mais baixa do que era no início da pandemia, sendo o atual risco de um desfecho fatal cerca de metade do que foi ao longo do último ano.

 

Estes dados foram apresentados por Henrique Barros, presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), durante a habitual reunião no Infarmed sobre a situação epidemiológica da covid-19 no país, realizada no Infarmed esta terça-feira, 27 de abril, em que admitiu a possibilidade de em setembro já quase não haver casos de covid-19 no país.

 

"Nos primeiros meses da pandemia, a probabilidade de morrer ao fim de um mês, ultrapassava os 4%. E aquilo que observamos atualmente é que essa probabilidade parece ser de 0,5%, o que é extraordinário. E mesmo que suba até ao final do mês [de abril], não ultrapassará os 0,75%", estimou o especialista.

 

Henrique Barros detalhou que na faixa acima dos 80 anos esta diferença menor na probabilidade de morrer é "ainda mais marcada" face ao que era no início da pandemia e mesmo ao longo do último ano. O que mostra que nas pessoas que infetaram nesta idade mais avançada, "se a vacinação não impediu a infeção, em muitas delas mitigou o impacto da doença e reduziu as mortes de forma extraordinária".

 

Analisando os dados por grupos etários, este estudo mostra que acima dos 90 anos esta probabilidade de morte atinge praticamente os 20% e depois vai descendo nos grupos mais jovens, em que os valores são "residuais". O líder do ISPUP antecipou que nos próximos meses "a estratégia vacinal vai implicar uma diminuição muito grande das mortes e dos internamentos, sobretudo em cuidados intensivos", embora não se vá notar tanto na quantidade de infeções.

Atribuindo a atual menor probabilidade de morrer à campanha de vacinação, ao aumento da testagem e aos "efeitos de aprendizagem na resposta à doença", Henrique Barros apontou ainda que, considerando o Norte como referência, a maior parte das regiões tem um risco maior de morrer e a Madeira tem "claramente um risco menor de letalidade". Isto é, "alguém que adoeça na Madeira tem menos risco de morrer, independemente do sexo, da idade e da nacionalidade, quando comparado com outras regiões do país".

O especialista abordou ainda o risco de morrer associado às diferentes variantes do novo coronavírus, sublinhando que, já com os dados ajustados para o sexo, idade, nacionalidade e região, os infetados com a chamada estirpe britânica "parecem ter um aumento significativo da probabilidade de morrer".

 

"Quarentões" mais céticos com a vacina

 

Em janeiro, a equipa de investigadores desenhou alguns cenários a pensar no que aconteceria se a população fosse vacinada de acordo com o plano e considerando uma eficácia vacinal de apenas 70%. Previa então evitar 140 mil ocorrências, 9 mil internamentos – considerando seis a sete dias cada um, seriam 60 a 70 mil dias de ocupaço hospitalar – e mais de 2.000 mortes.

 

Ora, a realidade seguiu este cenário em termos de internamentos, de novos casos detetados e, face ainda às previsões conservadoras que tinham feito, foi "claramente melhor" em termos de mortalidade, o que, interpretou, corresponde "ao processo e à escolha acertada de vacinar as pessoas em maior risco de doença grave e morte".

 

Mantendo a atual estratégia de desconfinamento, se não houvesse vacinas, Portugal iria atingir um "pico de infeção próximo do que [viveu] há alguns meses", considerando por isso "muito relevante" que os portugueses estejam a aderir à campanha de vacinação.

 

Recorrendo ao inquérito sobre a vivência da pandemia, que foi retomado em fevereiro e que teve 200 mil introduções nestes dois meses, os dados mostram que 90% das pessoas dizem que querem ser vacinadas. A percentagem é maior entre os mais velhos e entre os mais novos; e menor – a diferença é de quase dez pontos percentuais – na faixa etária entre os 40 e os 60 anos, e em particular dos 40 aos 49 anos.

 

As pessoas com maiores rendimentos e com mais anos de escolaridade "tendem a ser as que mais querem ser vacinadas", enquanto os que têm rendimentos mais baixos e "têm de ter cuidado com a forma como usam o dinheiro parecem as menos interessadas no processo de vacinação". "Isto é importante porque é preciso ganhar estas pessoas para a vacinação e contrariar a eventual relutância face à vacina", concluiu Henrique Barros.

 

Menos máscaras, mais confiança na saúde Carla Nunes, da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, notou esta manhã que nas últimas semanas houve uma diminuição do número de pessoas que dizem ter usado máscara ao sair de casa (de 91% para 82%), tal como aumentou ligeiramente o número de pessoas que afirma ter participado em convívios com várias pessoas. Apesar de a saúde mental estar ainda com "níveis preocupantes", embora estáveis – um em cada cinco portugueses continua a sentir-se ansioso ou triste em relação às medidas de distanciamento físico –, os dados trazidos à reunião do Infarmed mostram, por outro lado, uma "recuperação consistente" da confiança nos serviços de saúde, nomeadamente na afluência às consultas nos centros de saúde, que se aproxima dos níveis de verão. Carla Nunes destacou ainda que, espalhados pelo país, há "clusters de risco muito elevados", apontando Figueira da Foz, Montijo, Moura e Odemira como os concelhos em que incidência está a descer mais lentamente, ao contrário dos bons exemplos de recuperação dados por Amares, Évora, Góis, Sabugal e Sardoal.
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