Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Marcelo exige acordo de regime para o SNS, esquerda discorda

O Presidente da República só promulga uma nova Lei de Bases para o Serviço Nacional de Saúde que, pelo menos, mereça concordância do PS e do PSD. PS, Bloco e PCP discordam desta abordagem e defendem que deve bastar maioria simples. Socialistas defendem que proposta da ministra da Saúde é "compromisso razoável" entre posições da esquerda e do PSD.

Tiago Petinga/Lusa
15 de Dezembro de 2018 às 12:00
  • ...

O PS estava a inclinar-se para a esquerda para aprovar, no Parlamento, a nova Lei de Bases para o Sistema Nacional de Saúde (SNS). Mas o Presidente da República veio baralhar as contas dos socialistas, exigindo como condição para promulgar a reforma do sector que esta tenha, no mínimo, o apoio dos dois maiores partidos (PS e PSD).

Bloco de Esquerda e PCP, que já apresentaram propostas no Parlamento para reformar o SNS, criticam a posição de Marcelo Rebelo de Sousa, a quem acusam de "condicionar o debate", e defendem que, para aprovar uma nova Lei de Bases, deve bastar uma maioria simples na Assembleia da República. O Presidente considera que uma reforma estrutural numa área tão sensível deve ter apoio "transversal" para não ficar sujeita à alternância de governos.  

"Este é o tempo da Assembleia da República e para aprovar qualquer das três propostas que estão no Parlamento bastam os votos do PS, BE, PCP e Verdes", diz ao Negócios Moisés Ferreira. O deputado bloquista lembra que a Lei de Bases actualmente em vigor foi aprovada pelo Parlamento em 1990 somente com votos a favor do PSD e do CDS e sublinha que não foi por esse motivo que essa lei estrutural não perdurou no tempo.

Também o PCP discorda da posição expressa pelo Presidente da República. A deputada comunista Carla Cruz questiona qual a necessidade de um acordo de regime nesta matéria: "qual é o objectivo, aprofundar o caminho de favorecimento aos privados?"

No entender do PS, a vontade presidencial de assegurar o maior apoio possível à Lei de Bases que venha a ser adoptada faz todo o sentido, contudo salvaguarda que não existe essa obrigatoriedade. "A maior amplitude possível de apoio é saudável, mas basta uma maioria simples para aprovação", sustenta a deputada socialista Jamila Madeira.

Apesar de não ter ainda definido uma posição final sobre o assunto, sendo ainda necessária uma reunião dos órgãos próprios, o PSD está aberto a negociar com o PS uma reforma da Saúde, o que indicia concordância com a exigência de Belém.

Por sua vez, a deputada centrista Ana Rita Bessa revela que o CDS "concorda com a visão do Presidente da República" e garante que o partido liderado por Assunção Cristas "não se sente excluído", interpretando nas palavras de Marcelo uma intenção de consenso alargado ao conjunto do centro-direita.

PS diz ter proposta conciliatória

Se quiserem corresponder à vontade de Marcelo, os socialistas terão duas hipóteses: negociar uma Lei de Bases com o PSD, negligenciando a esquerda e repetindo a aproximação aos sociais-democratas em questões como a reforma laboral ou a descentralização, o que pode ter efeitos negativos em termos eleitorais; ou tentar conciliar as aparentemente inconciliáveis posições da esquerda e do PSD.

Jamila Madeira defende que a proposta apresentada pela ministra da Saúde, Marta Temido, "já é um bom compromisso entre a vontade do PSD e as vontades do Bloco e do PCP". A deputada socialista ressalva, porém, que "para ajudar à convergência o PS está disponível para negociar" com todas as forças interessadas em reforçar o SNS.

A proposta de lei de Marta Temido determina que o Estado só deverá recorrer ao sector privado e social "apenas quando necessário" e que a gestão de estabelecimentos públicos por parte de entidades privadas só poderá ser "supletiva" e temporária. 

O PSD discorda desta visão. O coordenador para a Saúde do Conselho Estratégico Nacional do PSD, o ex-ministro do sector Luís Filipe Pereira, defende que o SNS tem de integrar a conjugação de três iniciativas: pública, privada e social. É essa a posição assumida pelo partido no documento "Uma política de saúde para Portugal", onde defende as PPP.  

Esta sexta-feira, a presidente do CDS, Assunção Cristas, anunciou que o partido irá propor uma Lei de Bases alternativa à do Governo, subscrevendo a ideia de que o sistema de saúde seja entendido "em rede", incluindo o sector público, social e privado.

Sobre a proposta do Executivo socialista, o Bloco destaca três pontos de profunda discordância comparativamente ao projecto que os bloquistas entregaram no Parlamento e que está a ser discutido na especialidade.

Moisés Ferreira refere que o Bloco recusa que a gestão de estabelecimentos públicos possa ficar a cargo de privados, mesmo que temporariamente, quer que a expressão cooperação" acerca da relação entre público e privado seja substituída por "complementaridade" e exige que se caminhe para a extinção das taxas moderadoras.

O PCP também quer a "abolição" das taxas moderadoras e uma "gestão integralmente pública" das instituições de saúde. A deputada Carla Cruz explicita ainda que os comunistas defendem que a relação entre as iniciativas pública, privada e social seja "supletiva". Por outras palavras, que o Estado possa recorrer ao privado e social "enquanto não tiver capacidade de resposta".

Ver comentários
Saber mais Lei de Bases Saúde SNS PS BE PSD CDS PCP Moisés Ferreira Marta Temido Jamila Madeira Ana Rita Bessa Luís Filipe Pereira Carla Cruz
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio