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"A cura para o cancro acontecerá muito antes de 2115", diz Nobel da Medicina
Robert Horvitz, Nobel da Medicina em 2002, afirmou esta sexta-feira que a cura para o cancro acontecerá antes dos próximos 100 anos. Outros especialistas não acreditam que a erradicação da doença seja possível.
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Daqui a 100 anos, o cancro será uma doença erradicada. A garantia é de Robert Horvitz, prémio Nobel da Medicina em 2002, que esteve esta sexta-feira, 4 de Novembro, na Fundação Champalimaud, na conferência que juntou especialistas e outros prémios Nobel na discussão e antevisão do que será o futuro nos próximos 100 anos. "O Desconhecido - a 100 anos de agora" é a conferência que dá mote a uma discussão que não é unânime.
Para Michel Kazatchkine, um físico francês que passou os últimos 30 anos a lutar contra a progressão do vírus HIV/SIDA, a erradicação do cancro não é uma garantia. "Daqui por 100 anos, o cancro até poderá ser curável. Mas ser curado é outra questão", nota Michel Kazatchkine.
O biólogo norte-americano afirma que não é possível saber "quais são as tecnologias de amanhã", mas nomeia algumas das tecnologias actuais que influenciarão o futuro da medicina.
Para Robert Horvitz, o futuro da saúde passa pela "medicina de precisão", uma prática que analisa os dados em tempo real e os cruza a nível mundial, para encontrar semelhanças entre pacientes e doenças que permitam um tratamento mais eficiente e especializado, "um tratamento que não diga cancro no pulmão direito ou esquerdo, mas que diga a célula, ou células em questão", esclarece Horvitz.
"[Em saúde] Temos olhado para a parte e não para o todo", considera o Nobel da Medicina, defendendo assim a aposta numa comunicação partilhada. Das antevisões que faz, Horvitz prevê que a medicina se torne "puramente activa e não reactiva, isto é, que assente em prevenção e não em tratamento" e se baseie em ciência biomédica. Horvitz também acredita que os pagamentos de tratamentos serão feitos com base em resultados, em que "o paciente se torna consumidor".
Em declarações ao Negócios, Robert Horvitz comentou a necessidade de tornar a saúde mais global, uma opinião partilhada por Atul Butte, especialista em medicina informática. "Os governos e as empresas têm de se unir e perceber que, primeiro, vale a pena, e segundo perceber mecanismos de implementação", aponta Horvitz, exemplificando com a sua presença na Academia de Medicina dos Estados Unidos da América, onde um dos tópicos de discussão é a "saúde global". Entender as doenças globalmente "é a chave para cada nação", sublinha.
Horvitz alertou ainda para a questão da privacidade na partilha dos dados e informação de cada utente, que crê ser um bom tópico para discussão. Já Kazatchkine, que se mostrou céptico em relação à erradicação do cancro, acredita que as doenças epidémicas irão acabar, no entanto alertou para o fosso que existe entre pobres e ricos.