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António Costa pica PSD: “Peço aos deputados do PS que nunca calem a divergência”

No dia em que lhe cantaram os 54 anos, António Costa reuniu, no salão nobre da reitoria da Universidade de Lisboa, quase todos os cabeças-de-lista com que se apresenta às eleições do Outono. E mandou uma farpa ao PSD, que aprovou uma regra polémica há uma semana.

Sara Matos/Negócios
17 de Julho de 2015 às 20:26
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A ocasião era de festa. Quase todos os cabeças-de-lista designados por António Costa para disputar as eleições legislativas marcaram presença na reitoria da Universidade de Lisboa para um primeiro contacto público com militantes e dirigentes do partido e com a imprensa. Primeiro fez-se a foto de grupo nas escadas do auditório – não foi fácil, porque, primeiro, as quase duas dezenas de protagonistas estavam acanhados, e depois havia gente a vaguear pelas escadas, e a estragar o momento solene. Mas tudo se compôs e os registos fizeram-se.

 

António Costa estava no centro do grupo, na primeira fila, o lugar reservado aos líderes. O secretário-geral socialista estava a mostrar ao país o grupo que o vai acompanhar nos próximos meses de pré-campanha e da extenuante campanha eleitoral.

 

O líder foi o último a falar, já no salão nobre, mas foi para o ouvir que a sala encheu. Entre várias acusações e críticas ao Governo, Costa fez questão de explicar que o PS não pretende expulsar os deputados que divirjam do partido. "Os nossos adversários definiram uma regra: será expulso quem estiver em divergência" com o partido", começou por dizer.

 

"Pois o que eu quero pedir aos deputados do PS é que nunca calem a divergência", proclamou Costa, que foi logo ovacionado pela audiência. "Porque a liberdade de cada um é a melhor garantia que podemos dar a todos os cidadãos de que aquilo que hoje estamos aqui a dizer não foram só promessas, mas um compromisso que nos vão garantir que será cumprido, e por isso merecemos confiança", acrescentou Costa.

 

"Não há melhor forma de garantir um grupo parlamentar de confiança e que garanta aos portugueses a confiança que podem ter no PS do que um grupo assente naquele princípio fundamental do PS: o da liberdade", asseverou.

 

O susto de Quintanilha

 

E é precisamente para repor a confiança que o físico Alexandre Quintanilha aceita ser cabeça-de-lista pelo Porto, ainda que isso o tenha assustado – e o tenha levado uma semana a dar a resposta. "A confiança é uma coisa que todos aqueles que estão casados sabem que leva muito tempo a construir, e desaparece num segundo. É a coisa mais frágil que temos", observou.

 

"Leva tempo, necessita de muito trabalho, empenhamento" e necessita que os outros também achem que "é a coisa mais importante que podemos construir". "Nos últimos três, quatro anos, a confiança tem vindo a cair dramaticamente" e "temos de fazer alguma coisa para renovar essa confiança". Foi essa uma das razões que levaram Quintanilha a aceitar o convite de Costa: porque "há um trabalho essencial [a fazer] para que as pessoas e o país voltem a ter confiança".

 

António Costa haveria de eleger a confiança como a principal marca que quer associar à sua putativa legislatura. Isto porque "o principal falhanço deste Governo, mais do que qualquer estatística, foi que minou a confiança dos portugueses e traiu os portugueses", atirou. Por isso, "isso é essencial termos mulheres e homens de confiança, que dêem a cara e respondam pela confiança que temos de merecer".

 

Aliás, "o sinal que quisemos dar ao país com esta renovação dos cabeças-de-lista, com este conjunto tão diverso de mulheres e de homens, com experiência política ou com intensa vida profissional, mais jovens ou menos jovens" é que "é o tempo de termos uma lista de confiança", sustentou.

 

Os cabelos que Costa quer ver bonitos

 

Quintanilha havia revelado, ainda que nervoso porque "nunca" tinha feito "um discurso político", que já começou a sentir o impacto da sua designação em público. "Ontem veio uma senhora ter comigo num café no Porto, aproximou-se e disse ‘o senhor é que é o senhor Alexandre? Tem uns cabelos muitos bonitos, deixe-os crescer mais’", contou, provocando risos na sala.

 

António Costa aproveitou a deixa. "Todos nós já tivemos essa experiência: começamos sempre com o cabelo bonito. O difícil é no ano a seguir continuarem a achar que é bonito", afirmou, provocando novamente risos. A metáfora do cabelo é um objectivo eleitoral, portanto: "Temos de ter a ambição que daqui a um ano, quando o Alexandre Quintanilha voltar ao café e encontrar aquela senhora ela diga: Alexandre, o seu cabelo ainda está mais bonito".

PS não vende ilusões

 

Ana Catarina Mendes, a cabeça-de-lista por Setúbal, confessou que as pernas também lhe tremem de cada vez que discursa em público. Mas é precisamente isso que pede aos portugueses: "todos nós queremos dizer-vos que é tempo de tomar a palavra e levar a sério o desafio de evitar que Portugal siga no caminho da austeridade".

 

O Governo que hoje temos foi eleito com base numa mentira, quis governar, e governou, indo além da troika, este Governo promoveu a guerra entre gerações, estimulou a inveja entre profissionais do sector privado e público, ignorou a cultura", acusou. Em suma: "foram quatro anos em que nos roubaram a esperança e os sonhos".

 

O PS, garante a deputada, tem um "projecto responsável". "Não vendemos ilusões, mas recusamos condenar o país e os portugueses ao empobrecimento".

 

Todo o auditório cantou os parabéns a António Costa, mas não havia bolo para ninguém – pelo menos à vista. O processo de escolha dos candidatos às listas por parte das estruturas distritais termina este sábado, dia 18 – as federações têm direito a indicar dois terços dos candidatos. As listas ficam definitivamente fechadas na próxima terça-feira, altura em que António Costa vai indicar um terço do total de candidatos às listas.

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