Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Semedo diz que escolha de Machete é “insultuosa e ofensiva”

O co-líder do BE compara Rui Machete a Vítor Constâncio para concluir que embora não corra nenhum processo judicial contra o histórico do PSD “não era recomendável nem aconselhável” a sua escolha para o Ministério dos Negócios Estrangeiros devido à sua passagem pela SLN, holding que integrava o BPN.

Cátia Barbosa/Negócios
24 de Julho de 2013 às 13:12
  • ...

João Semedo, coordenador do Bloco de Esquerda (BE), criticou nesta quarta-feira a escolha de Rui Machete para a chefia da diplomacia nacional, considerando-a “insultuosa e ofensiva” para os portugueses devido à circunstância de o sucessor de Paulo Portas ter presidido ao conselho superior da Sociedade Lusa de Negócios (SLN), holding dona do BPN, entre 2007 e 2009. “A sua proximidade ao grupo, não aconselharia nem recomendaria a sua indigitação para um cargo de tanta responsabilidade". O BPN foi nacionalizado em 2008.

 

Numa reacção à remodelação governamental, que considera traduzir o elenco “mais cavaquista de sempre”, Semedo reconheceu que não há “nenhum elemento criminal ou judicial” contra o histórico do PSD. Contudo, disse, também Vítor Constâncio, à época governador do Banco de Portugal, “não roubou um euro” o que não impediu de ser criticado, designadamente pelo CDS-PP que agora "cala e silencia a inclusão de Machete", por não ter impedido irregularidades e fraudes no BPN que custaram já mais de três mil milhões aos contribuintes portugueses.

 

A passagem de Machete pela SLN não consta da biografia oficial ontem divulgada. A "Visão" recorda que enquanto ex-presidente do Conselho Superior da SLN, Machete foi chamado à primeira comissão de inquérito parlamentar sobre a nacionalização do BPN, onde revelou que o ex-primeiro-ministro José Sócrates deu aval à venda do banco a angolanos, através da Carlyle.

 

Em Abril de 2009, na comissão de inquérito, Rui Machete disse que nada sabia em pormenor do que se passava no BPN. “Pelo conselho superior, os seus membros não tinham um conhecimento minucioso do que se passava no banco. Houve um ponto que me impressionou negativamente que foi a circunstância de nos seus relatos o banco se apresentar um pouco como um ‘one man show’”.

 

O "Público", por seu turno, escreve que, na sua qualidade de então presidente da Fundação Luso-Americana, Rui Machete esteve também ligado ao Banco Privado Português (BPP), onde foi membro também do Conselho Consultivo, e onde adquiriu cerca de 3% das acções, investimento que a FLAD perdeu quando o banco declarou falência.

 

Aos 73 anos, o advogado e militante histórico do Partido Social Democrata (PSD) foi o escolhido para substituir Paulo Portas, que subiu a vice-primeiro-ministro, depois de, nas últimas semanas, ter sido referido na imprensa o nome do diplomata e actual embaixador de Portugal em Washington, Nuno Brito, para o Palácio das Necessidades.

 

"Bolsas para pagar favores políticos"

 

Licenciado em Direito, Machete foi deputado em várias legislaturas, administrador do Banco de Portugal, docente na Universidade Católica e presidiu entre 1985 e 2010 à Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD). O fim do seu mandato na FLAD foi marcado por polémica, depois de o "Expresso" ter tornado públicos, através do Wikileaks, telegramas diplomáticos de embaixadores norte-americanos, que o acusavam de "ser crítico dos EUA" e de gastar uma parte considerável das despesas da fundação com o funcionamento da organização, através da qual terá atribuído "bolsas para pagar favores políticos". 

 

Recorda o jornal que, num relatório enviado a 15 de Dezembro de 2008 para o  Departamento de Estado em Washington pelo então embaixador dos EUA em Portugal,  Thomas Stephenson, Machete era arrasado pela forma como geriu ao longo de  duas décadas a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), visto como  "suspeito de atribuir bolsas para pagar favores políticos e manter a sua  sinecura".

 

O embaixador norte-americano, nesse telegrama, argumentava que  "chegou a hora de decapitar Machete" com base, entre outras coisas, no facto de  a fundação "continuar a gastar 46% do seu orçamento de funcionamento nos seus  gabinetes luxuosos decorados com peças de arte, pessoal supérfluo, uma frota de  BMW com motorista e 'custos administrativos e de pessoal' que incluem por vezes  despesas de representação em roupas, empréstimos a baixos juros para os  trabalhadores e honorários para o pessoal que participa nos próprios programas  da FLAD".

 

Na saída, Rui Machete rejeitou essas acusações e afirmou-se "cansado dos aborrecimentos com embaixadores" norte-americanos. Desde então,  mantinha-se apenas como consultor jurídico para a área de direito público na firma de advogados PLMJ & Associados, em Lisboa.

 

Quase três décadas depois de ter exercido o último cargo num Governo, Rui Machete está de regresso à política activa – e de regresso a um governo condicionado pelos credores externos. Da última vez que esteve num governo, como vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa no executivo de bloco central liderado por Mário Soares, o FMI também cá estava. Entre diplomatas, há quem o veja como uma "espécie de Freitas do Amaral do PSD". 

 

Em Abril deste ano, ainda a crise política não tinha deflagrado, dizia que um cenário de eleições antecipadas, como o que era reclamado pela oposição, seria "desastroso" para o país. Machete dizia também que Portugal precisa de um consenso entre os actores políticos para ultrapassar as dificuldades.

Em entrevista ao jornal "i" no início deste ano, advertia que a situação é actualmente mais grave do que a que o país enfrentara nos anos 80, quando integrou o Governo de bloco central que teve de negociar a intervenção do FMI. "Essa é a grande diferença, e portanto obriga a políticas de austeridade mais graves e durante mais tempo". Na mesma entrevista, Machete relativizava as divergências na actual coligação de Governo, considerando que, no actual contexto, "não há alternativa real" de políticas.

 

Ver comentários
Saber mais Rui Machete João Semedo
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio