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Académicos aplaudem escolha do "senador" Machete
"É a melhor escolha possível como Ministro dos Negócios Estrangeiros deste Governo”, diz Carlos Gaspar. Adelino Maltez considera tratar-se de “um senador que dá garantias de sabedoria e experimentação num governo que era acusado de imaturo”.
O investigador Carlos Gaspar afirmou hoje que o futuro ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, "tem todas as qualidades necessárias para (...) impor uma marca portuguesa na evolução da comunidade europeia e ocidental num momento crucial da crise internacional".
Em resposta escrita à Lusa, o investigador do Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa (IPRI-UNL) afirmou que Rui Machete "é a melhor escolha possível como Ministro dos Negócios Estrangeiros deste Governo".
Recordando que o futuro novo governante foi um dos fundadores da democracia portuguesa e "um dos principais artífices do consenso europeu entre os dois principais partidos portugueses, o PSD e o PS", Carlos Gaspar lembrou que foi Machete quem, como vice-primeiro-ministro do Governo do "Bloco Central", representou o PSD na assinatura do Tratado de Adesão de Portugal às Comunidades Europeias, em 12 de Julho de 1985.
O investigador destacou ainda a "larga experiência internacional" de Machete e o seu papel como presidente da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, durante mais de vinte anos.
"Rui Machete é um democrata e um estadista, que tem todas as qualidades necessárias para dirigir a política externa de Portugal e impor uma marca portuguesa na evolução da comunidade europeia e ocidental num momento crucial da crise internacional" concluiu o investigador do IPRI, de que Machete foi um dos fundadores.
O politólogo José Adelino Maltez atribuiu, por seu turno, a escolha de Rui Machete como ministro dos Negócios Estrangeiros à necessidade de dar "garantias de sabedoria" e experiência a um governo que era visto como imaturo.
Num comentário pedido pela Lusa, o professor catedrático do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas disse que a escolha de alguém como Rui Machete não é inédita.
"Trata-se de uma repetição do gesto de José Sócrates, que também foi buscar um ilustre administrativista e um ex-chefe de partido para o lugar em causa", disse o investigador, numa referência ao fundador do CDS Freitas do Amaral, que ocupou a pasta da diplomacia entre 2005 e 2006.
Para Adelino Maltez, a nomeação de Machete é "a escolha de um senador que dá garantias de sabedoria e experimentação num governo que era acusado de imaturo e de [ser composto por] 'jotas'".
"De vez em quando há históricos que estão disponíveis para enquadrar estes processos", afirmou.
O professor disse ainda ter curiosidade de ver o que vai acontecer no futuro da política externa portuguesa.
Recordando que o Ministério dos Negócios Estrangeiros serve para gerir a política externa portuguesa e que 80% da política externa portuguesa "é gasta com assuntos europeus", Adelino Maltez afirmou que o anterior ministro da tutela, Paulo Portas, não teve "praticamente nenhuma intervenção em política europeia".
"Quero ver como vai ser uma ida a um Conselho Europeu. Se finalmente o primeiro-ministro se faz acompanhar do ministro dos Negócios Estrangeiros e qual vai ser o ativismo [de Rui Machete] naquilo que é essencial dos negócios estrangeiros de Portugal: a política europeia".
Adelino Maltez sublinhou ainda a "ironia" de ser o Presidente da República, Cavaco Silva, a dar posse a Rui Machete: "Lembro-me de que ele era líder do PSD antes de chegar o furacão Cavaco Silva", recordou.
Depois de ter sido vice-primeiro-ministro por apenas dez dias em 1985, o ex-líder do PSD Rui Machete, de 73 anos, regressa agora ao Governo como ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, cargo em que substitui o líder democrata-cristão, Paulo Portas.
Neste interregno de quase 30 anos, Rui Machete ocupou, entre outros, o cargo de presidente da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) durante 22 anos.