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Seguro rejeita regresso à vida política no "regresso ao espaço público"
Na apresentação do livro "A Reforma do Parlamento Português", escrito por António José Seguro, o ex-líder do PS assumiu tratar-se de um "regresso ao espaço público" que, garante, não é o mesmo que voltar à vida política e partidária activa.
O auditório 2 da Universidade Autónoma, em Lisboa, foi pequeno para acolher a enchente que acorreu ao lançamento do mais recente livro de António José Seguro: "A Reforma do Parlamento Português", obra que consiste numa versão, expurgada da vertente académica, da tese de mestrado sobre a reforma regimental do Parlamento de 2007, também da autoria do ex-secretário-geral do PS.
À chegada, Seguro não escondeu regozijo ao ver a moldura humana que incluía figuras de todos os quadrantes políticos e institucionais, de Santana Lopes a Severiano Teixeira, passando por Bagão Félix ou Jorge Coelho. Política e o regresso a ela foi, naturalmente, tema presente. Até porque, logo depois de cumprimentar o ex-Presidente da República Ramalho Eanes, Seguro agradeceu também a presença do "senhor presidente da Assembleia da República", fórmula utilizada para se referir a Ferro Rodrigues e aproveitada para notar que "já há muito tempo que não utilizava esta expressão".
O saudosismo dos tempos parlamentares do antigo deputado, secretário de Estado e ministro, foi mais uma acha para a fogueira da vontade de se saber se Seguro estaria, ou não, a marcar o retorno à política activa. Especialmente por esta se tratar da sua primeira aparição pública desde que, em Setembro de 2014, se demitiu da liderança socialista no seguimento da derrota nas primárias contra o agora primeiro-ministro, António Costa.
Francisco José Viegas, ex-secretário de Estado da Cultura e director editorial da Quetzal, editora do livro, começaria por brincar ao garantir desconhecer "se o Seguro quer, ou não, regressar à política", afiançando, porém, que "terá sempre uma geringonça à sua espera". Outro dos responsáveis pela apresentação do livro, Viriato Soromenho-Marques, também disse não saber "se há uma intenção de Seguro marcar um regresso à política activa", dúvida que arrancou de pronto fortes aplausos da audiência. E olhando para a quantidade de pessoas na assistência, que se dividia por duas salas e várias pessoas sem lugar sentado, o professor de Filosofia Política anteviu o sucesso de um livro que "vai garantir pelo menos uma segunda e terceira edições".
António José Seguro vinha preparado para abordar o tema. E fê-lo dizendo que "não se pode falar em regresso à vida política", embora reconhecendo tratar-se de um "regresso ao espaço público" propiciado pelo lançamento de um livro que é um contributo para a "reflexão sobre o funcionamento dos parlamentos". Além disso, o político agora em "modo pausa" quer que este livro sirva também para impedir possíveis retrocessos nos direitos das minorias parlamentares suscitados por quaisquer "apetites de maiorias conjunturais".
O agora professor universitário definiu-se como um "homem livre, sem dependência nenhuma", assim contornando as "perguntas marotas" dos jornalistas que insistiam em saber mais sobre o futuro político do ex-líder socialista, mas também em conhecer a sua opinião sobre o actual Governo ou mesmo acerca de uma eventual ida ao próximo Congresso do PS, agendado para Junho.
Perguntas que ficaram sem resposta. Pelo menos da parte de Seguro. Porque numa sala repleta de políticos, onde estavam muitos dos militantes socialistas que estiveram ao lado de Seguro na disputa com António Costa - Francisco Assis, Carlos Zorrinho, Álvaro Beleza, António Galamba, Eurico Brilhante Dias, Ana Gomes, Alberto Martins e João Proença, e mesmo o actual ministro da Cultura, João Soares, entre outros – essa era uma pergunta que dificilmente ficaria sem resposta.
Zorrinho, actualmente eurodeputado, salientou o "papel importante na política" que António José Seguro conquistou para si próprio, e que "vai voltar a ter", afiançou. Outro eurodeputado, Francisco Assis, uma das vozes socialistas mais críticas das posições conjuntas assinadas pelo PS com BE, PCP e Verdes, considerou mesmo que Seguro não está a regressar porque, "verdadeiramente, nunca saiu da vida política", apontando para o Congresso socialista do próximo Verão a oportunidade para uma "reflexão mais profunda" sobre as escolhas do partido.
Todavia, apesar do frenesim e dos aplausos que surgiam sempre que se falava do regresso de Seguro à política activa, este também ex-eurodeputado e antigo líder parlamentar do PS preferiu reforçar a ideia de que este foi um dia de "reencontro de amigos", propiciado pelo lançamento de um livro que disse desejar poder ter "mais consequências".
Afirmação que de imediato lançou na plateia a expectativa sobre um hipotético anúncio. Mas que ficou gorada instantes depois. É que Seguro referia-se a "novos trabalhos científicos" sobre o Parlamento e o seu funcionamento. O que até poderá ser um anúncio "encoberto" de que possa ser, ele mesmo, a prosseguir a ideia, desta feita em sede de doutoramento.