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Debate com truques de parte a parte mostra escassas diferenças entre Rio e Santana

Rui Rio começou ao ataque mostrando recortes de jornais em que o seu rival critica Passos Coelho e elogia o actual primeiro-ministro. Santana ripostou tentando salientar incoerências de Rio. Foi um debate pouco centrado nas medidas propostas por cada um dos candidatos.

David Santiago dsantiago@negocios.pt 10 de Janeiro de 2018 às 21:19
O segundo debate entre os dois candidatos à presidência do PSD recuperou o tom de ataques pessoais que marcaram o primeiro confronto entre Rui Rio e Santana Lopes. Contudo, foi um debate mais equilibrado do que o primeiro, com Rio mais agressivo do que há uma semana e Santana menos aguerrido, o que acabou por nivelar a contenda. 

A disputa acabou por não ser clarificadora daquilo que Rio e Santana defendem, uma vez que os dois candidatos priorizaram apontar e criticar aquilo que o seu rival disse no passado ao invés de defenderem medidas concretas para o partido ou o país. O primeiro a falar foi Santana Lopes, com o antigo presidente da câmara de Lisboa a começar por esclarecer a manchete do Expresso do passado fim-de-semana, frisando que apesar de na entrevista àquele jornal se ter referido a Rio como sendo alguém com uma "visão paroquial e limitada no mundo", logo depois disse que "não quero usar essa expressão" porque "não gosto de falar assim". 

Pese embora o tom mais conciliador de Santana, Rio vinha preparado para este debate e, desta feita, recorreu aos "truques" que o próprio havia criticado na prestação do seu rival no anterior duelo televisivo. O ex-autarca portuense pegou em recortes onde Santana surgia a criticar o então primeiro-ministro Passos Coelho, aludindo mesmo à possibilidade de criar um novo partido, e outros em que o ex-presidente da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa elogiava António Costa como "o político mais hábil a manejar o poder desde o 25 de Abril".

Rui Rio insistiu e recorreu às declarações de ontem do primeiro-ministro no Parlamento, em que Costa disse ter pena de não ter sido ele a ter a ideia da entrada da Santa Casa no capital do Montepio Geral, intenção atribuída pelo ministro da Segurança Social a Santana e que este rejeita. Talvez por não esperar o ataque cerrado do adversário, Santana quase se limitou a sinalizar que afinal Rio "passou a gostar dos tais truques". 

Ainda na resposta, Santana admitiu ter tido as "maiores reservas" em relação a Passos Coelho, político que diz ter superado "todas as expectativas". Quanto aos recortes utilizados por Rio, Santana explicou que muitas vezes os títulos são descontextualizados e recordou que também Marcelo Rebelo de Sousa chegou, em tempos, a afirmar que não se candidataria a presidente do PSD nem que Cristo descesse à terra. 

Confrontado por Santana com as declarações em que se mostrou contrário à decisão do Presidente Jorge Sampaio de precipitar eleições, Rio lembrou que essa decisão acabou por ser legitimada pelo povo português. Todavia, Rio recusa põr em causa a credibilidade de Santana - "não vamos exagerar nisso", disse. 

Santana responsabiliza Rio pela polémica da PGR

Os dois candidatos mostram-se de acordo com Marcelo Rebelo de Sousa, que considera que este não é o momento para discutir a renovação do mandato de Joana Marques Vidal como Procuradora Geral da República. A polémica iniciada ontem com a declaração da ministra da Justiça resulta, no entender de Santana, das afirmações feitas por Rio no debate da semana passada, em que disse que o balanço à actuação do Ministério Público "não é positivo"

Santana fez questão de dizer que faz uma "apreciação global" do trabalho desenvolvido pelo MP "positiva" e considerou estranha a avaliação feita pelo seu adversário a uma PGR que investigou "pessoas que pareciam intocáveis". Desta forma, o ex-líder da Santa Casa de Lisboa considera "adequado que seja renovado o mandato da PGR".

Pelo seu lado, Rio esclareceu não ter feito "apreciação nenhuma, nem positiva nem negativa" ao trabalho da PGR. Acrescentou ter-se referido negativamente ao "funcionamento do sistema de Justiça", assim como ao "funcionamento do regime como um todo". Sobre a permanência de Marques Vidal na chefia do MP, Rio rejeita tomar posição porque essa caberá ao partido.

De seguida surgiu um ponto em que o tom poderia mostrar divergências profundas entre ambos, mas em que no fundo Rio e Santana mostraram defender a mesma coisa. Questionados sobre se é bom o crescimento económico alcançado pelo actual Governo, os dois acusaram o Executivo socialista de governar a pensar o dia-a-dia, descurando o futuro. Depois, Santana acusou Rio de "colocar a tónica no défice zero" e de negligenciar a necessidade de crescimento económico, dizendo que o seu rival só falou em crescimento depois de ver o antigo autarca lisboeta fazê-lo na sua moção. 

Foram então largos minutos de interrupções, em especial com Santana a interromper sistematicamente Rio. No fundo, ambos mostraram concordar com a necessidade de maior crescimento, preferencialmente acima da média da Zona Euro. Esta concordância não foi de todo inesperada, até porque estranho seria um candidato, de qualquer partido político, opor-se a maior crescimento económico. Ainda sobre a vertente económica do debate, Santana reiterou a defesa de redução do IRC, enquanto Rio não se pronunciou sobre essa questão em particular.

Santana volta a encostar Rio ao bloco central 

Uma vez mais a questão relacionada com o posicionamento de cada candidato relativamente à reedição de um bloco central, ou um apoio parlamentar do PSD ao PS, esteve presente na discussão. Também uma vez mais, Santana Lopes tentou colar Rio a Costa e a um potencial apoio ao PS. Acusou ainda Rio de se ter apresentado a estas eleições internas no PSD mais para derrotar Passos do que Costa.


"O teu principal móbil para estas directas era derrotar Passos e o meu é derrotar António Costa", atirou Santana, que acrescentou que 
"vieste para mudar o PSD e eu para mudar o país".


Contudo, o passado ainda não tinha ficado para trás. Após afirmar que o PSD tem de se apresentar às próximas legislativas para "ganhar" - tendo sido interrompido nessa altura por Santana -, Rui Rio acusou o seu rival de ter chegado a dizer que José Sócrates foi um primeiro-ministro "com visão".

Rio prosseguiu defendendo que "o PSD tem de ser coerente com os ataques que faz hoje ao doutor António Costa porque não deixou Passos Coelho ser primeiro-ministro". "Temos de ser coerentes com o nosso passado", aduziu, recordando que noutras ocasiões o PSD viabilizou governos minoritários do PS em nome da estabilidade política. E acrescentou preferir apoiar um Executivo socialista como forma de "afastar a esquerda da esfera do poder". 


"No limite, se eu não conseguir ganhar as eleições, é preferível retirar o BE e o PCP da esfera do poder", sustentou Rio que considera que a recusa evidenciada por Santana favorece o voto útil no PS.


Já Santana mantém a garantia de que "não faço acordos de governo com o PS", até porque defende a ideia de "alternância" no poder entre os dois maiores partidos portugueses. Mas, num aparente recuo, Santana Lopes admitiu rever esta posição se o PS "voltar a provar que está de acordo com a prática constitucional" assente na ideia de que governa quem vence as eleições. Para isso acontecer, Santana exige um "acordo escrito" da parte dos socialistas.

Depois de um debate em que o país voltou a estar praticamente ausente da discussão, na manhã desta quinta-feira Rio e Santana têm reencontro marcado para um terceiro e derradeiro duelo, agora na rádio, antes das eleições directas deste sábado. 

(Notícia actualizada pela última vez às 23:25)
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