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Santana e Rio de acordo sobre o futuro, divergem sobre passado e apoiantes

Enquanto Rui Rio tentou passar uma mensagem ao país, Santana Lopes optou por tentar conciliar uma mensagem dirigida aos militantes do partido e aos portugueses em geral. Apesar da discordância sobre as acções de ambos no passado, os dois candidatos estão em grande medida de acordo sobre as prioridades para o país.

04 de Janeiro de 2018 às 21:43
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Depois de um início morno, com Rui Rio e Santana Lopes essencialmente de acordo acerca da polémica em torno da questão do financiamento partidário, com ambos a considerarem que essa não é uma prioridade - Rio é favorável ao financiamento essencialmente público e Santana não quer sobrecarregar ainda mais os contribuintes -, o primeiro debate entre os dois candidatos à presidência do PSD aqueceu por iniciativa do ex-provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que fez questão de ele próprio antecipar aquela que previsivelmente seria a principal arma do seu adversário. 

Santana Lopes desafiou Rui Rio a explicar quais as "trapalhadas" a que se refere quando critica o antigo presidente da câmara de Lisboa fazendo referência aos meses em que este foi primeiro-ministro, sucedendo a Durão Barroso. Santana recordou que nessa altura Rio era o seu primeiro vice-presidente no partido e, ao invés de ter falado em "trapalhadas", demonstrou apoio à governação do então chefe de Governo ao afirmar em entrevista nada ter a apontar contra o na altura primeiro-ministro.

O desempenho de Santana Lopes em 2004 enquanto primeiro-ministro acabou por dominar os primeiros 20 minutos deste primeiro de três debates (dois na televisão e um na rádio) que antecedem as eleições directas de 13 de Janeiro. Instado a explicar as sistemáticas críticas sobre a actuação de Santana no Governo, Rui Rio notou que "as trapalhadas existiram quando estiveste no Governo" e sustentou que foram essas acções que levaram o então Presidente Jorge Sampaio a "actuar como actuou".

"É porque havia razões e tu sabes disso", atirou Rio, que explicou ter mudado de opinião pelo facto de as coisas se terem "degradado" ao longo dos quatro-cinco meses em que Santana liderou o Executivo de coligação com o CDS.

Prosseguindo o ataque, Santana acusou Rio de ser igual ao primeiro-ministro António Costa: "Dupond e Dupont és tu e o doutor António Costa", disse, aludindo às personagens d'As Aventuras de Tintim, assim colando Rui Rio ao primeiro-ministro, dois políticos que se mostraram sintonizados quando presidiram em simultâneo às duas principais câmaras do país. Antes, Santana havia questionado Rio sobre se tinha combinado com Costa atacar o PSD, ataque a que o ex-edil do Porto respondeu lembrando que foi o actual primeiro-ministro a nomeá-lo presidente da Santa Casa.

Logo depois ficaram claras as intenções de cada um dos candidatos sobre o público-alvo que iriam privilegiar no debate. Rio falou essencialmente para o país e Santana tentou dirigir-se principalmente aos militantes social-democratas, embora sem descurar o conjunto dos portugueses. 

"O que estamos a escolher é o líder do PSD, cujo objectivo é ser o primeiro-ministro do país", afirmou Rui Rio antes de insistir na ideia de que "o doutor Pedro Santana Lopes teve uma experiência como primeiro-ministro que correu francamente mal". Santana optou por realçar que Rio passa "o tempo a dizer mal de mim e do PSD". "Não tens na moção uma palavra de crítica para a frente de esquerda mas dizes que o PSD tem de se reencontrar porque corre o risco de desaparecer", afirmou Santana Lopes.

Ainda atacando o flanco relacionado com a posição de Rio durante a governação de Passos Coelho, Santana recordou as passagens do seu rival pela Associação 25 de Abril e pela Aula Magna numa altura em que o Governo PSD-CDS "estava a salvar o país". Rematou sinalizando que alguns dos principais apoiantes de Rio, tais como Pacheco Pereira, Manuela Ferreira Leite ou Morais Sarmento, estão "escondidos".

"Estás sempre a falar que é preciso um novo 25 de Abril, isso é influência do Vasco Lourenço", ironizou Santana. A troca de galhardetes sucedia-se a ritmo acelerado e Rui Rio recorreu também ao passado para mostrar que o seu rival quis "fazer um Partido Social Liberal contra o PSD". Ou seja, ao ataque de Santana sobre uma alegada "infidelidade" ao partido, Rio respondeu com crítica similar. 

Santana exclui bloco central e Rio quase exclui

Se em relação ao passado sobressaíram divergências, acerca do futuro os dois candidatos à presidência social-democrata convergiram no essencial. Rio defendeu um "modelo de crescimento económico diferente" e Santana propôs "apostar num modelo completamente novo". Ambos rejeitaram o modelo económico promovido pela actual solução governativa, considerando que o mesmo é incapaz de precaver devidamente o futuro. Os dois concordam ainda sobre a descida do IRC se a conjuntura o permitir, assim como estão de acordo acerca da necessidade de manter a despesa pública abaixo de 50% do PIB.

Rio já não fala em regionalização mas defende a "descentralização" como trave-mestra para a necessária "reforma do Estado". Próximo disso, Santana frisa a importância de promover uma "reorganização do território" e "revitalização do Interior" e propõe atribuir mais responsabilidades às CCDR (Comissões de Coordenação e Dezenvolvimento Regional) e "esquemas fiscais que atraiam empresas para se fixarem no Interior". Nesse sentido, Santana lembrou que quando foi primeiro-ministro apostou na descentralização de "várias secretarias de Estado", reconhecendo tê-lo feito "sem a legitimidade do voto" que agora vem pedir.

Sobre a estratégia a adoptar para as legislativas marcadas para 2019, Santana reiterou que a sua intenção passa por "idealmente" ir sozinho às eleições. E apesar de admitir que para ir para o Governo o PSD "tem de conquistar para si, ou em coligação [com o CDS], uma maioria absoluta", Santana Lopes exclui liminarmente "qualquer coligação com o PS antes ou depois de eleições". 

Tendo em conta a estratégia de Santana de se diferenciar de Rio, que há algumas semanas admitiu acordos de bloco central com o PS defendendo que o PSD "não pode fechar-se a entendimentos", desta feita o antigo autarca portuense assumiu claramente a preferência por ir sozinho a eleições e a quase rejeição a governar com os socialistas. 

"Não excluo completamente a possibilidade de uma coligação com o CDS, mas acho pouco provável", começou por dizer, para acrescentar que, ainda assim, "em caso de não haver maioria absoluta, naturalmente aquilo que é normal é que a coligação seja com o CDS". Reeditar um bloco central só em "situações extraordinárias", como num novo resgate. "Imaginem que a troika dizia: 'assinem os três e agora vão lá os três, se não não há dinheiro'", explicou.

Rio e Santana criticam julgamentos na praça pública

Outro ponto de convergência entre ambos foi a crítica à contribuição do Ministério Público para que sejam feitos julgamentos na praça pública, algo que Santana considerou "inadmíssivel" e com que Rio disse "não simpatizar rigorosamente nada". Rui Rio foi mais contundente ao dizer que o balanço que faz da actuação do MP "não é positivo".

Rui Rio tinha avisado no arranque do debate que "não há clivagens brutais" entre os dois candidatos, desde logo porque pertencem ao mesmo partido, defendendo que as maiores diferenças entre ambos têm a ver com "duas personalidades completamente diferentes". Num debate aguerrido, isso não deixou de ficar claro, com Santana mais à vontade no confronto retórico e Rio mais incisivo aquando de assumir posições menos populares em temas como o financiamento partidário ou nas críticas à actuação da Justiça. 

As diferenças ficaram também patentes no minuto final, em que foram desafiados a convencer os militantes. Santana apostou na retórica: "Confiem na proposta que vos faço, acreditar na possibilidade de Portugal crescer, chegar a um nível supremo". Rio foi mais prático ao dizer que aquilo que está em jogo nas eleições do PSD é "escolher quem tem melhores condições para ser primeiro-ministro". 

(Notícia actualizada pelaúltima vez às 23:40)

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