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“Merkel não vai poder continuar a sua política com o SPD”

Presidente do Parlamento Europeu sinaliza que só haverá "Grande Coligação" ao centro se Merkel mudar de rumo.

Presidente do Parlamento Europeu: Não é só Portugal que está em "declínio" é toda a Europa
24 de Setembro de 2013 às 17:26
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Martin Schultz, actual presidente do Parlamento Europeu, provável candidato à sucessão de Durão Barroso à frente da Comissão e destacado membro do SPD, sinalizou nesta terça-feira que o seu partido só aceitará integrar um governo liderado pela CDU se o programa da coligação significar alguma mudança na política alemã para a Europa, em especial para os países do sul. “Merkel não vai, de forma alguma, poder prosseguir esta política com o SPD”, afirmou em declarações à “Der Spiegel”, reclamando que é preciso “agir”, designadamente para combater o elevado desemprego jovem nos países do Sul, mais duramente atingidos pela crise da dívida.

 

A possibilidade de o SPD se aliar aos conservadores promete, entretanto, gerar fortes clivagens no seio do maior partido da oposição. “Estou frontalmente contra uma grande coligação”, afirmou  Axel Schäfer , porta-voz para os assuntos europeus do SPD citada na edição online da mesma revista alemã. Segundo o que afirmou, os social-democratas preferem aumentar os poderes de Parlamento Europeu, ao passo que a CDU está mais interessada em garantir que o poder permanece com cada um dos Estados europeus, pelo que não há contacto possível entre os dois partidos sobre o rumo da Europa.

 

Logo na segunda-feira, Angela Merkel fez saber que havia feito uma primeira aproximação ao presidente do SPD, tendo Sigmund Gabriel pedido tempo para reunir e consultar as hostes do partido. Espera-se que faça saber nesta sexta-feira se está interessado em sentar-se à mesa das negociações com Angela Merkel. Sobre a Europa, a chanceler repetiu que o que está em curso é um não é apenas um processo de austeridade, mas um processo de reformas, visando competitividade, orçamentos sólidos e a confiança dos investidores nos países europeus. “Acho que temos conseguido muito neste caminho, mas ainda não termos, e é por isso que esta eleição permite-me continuar a minha política europeia com esse fim”, disse.

A maioria dos analistas não espera mudanças de fundo na política da Alemanha para a Europa. “Sempre achei completamente descabida a expectativa de que teríamos uma grande mudança de políticas mesmo no caso de termos uma coligação SPD e Verdes”, diz Daniela Schwarzer , do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança. "Mesmo se o SPD se tivesse tornado no maior partido teria de enfrentar muitos dos constrangimentos enfrentados por Merkel". Desde logo, enumera, encontrar o equilíbrio possível entre a necessidade de financiar programas de resgate e o elevado cepticismo entre os contribuintes alemães em socorrer países de fraca fama na gestão dos dinheiros públicos.

 

Daniela Schwarzer acredita que, com a ascensão do partido eurocéptico esse acto de equilíbrio se tornará mais difícil, mesmo se o AfD não conseguiu os 5% de votos necessários para entrar no parlamento. O próximo governo , diz, "terá que ser cuidadoso. Temos as eleições para o Parlamento Europeu já em 2014”, adverte.

 

Angela Merkel conseguiu neste domingo um resultado histórico para o seu partido, a CDU (41,2%), numa terceira reeleição consecutiva que torna praticamente impossível os três partidos de esquerda (SPD, Verdes e Die Linke) formarem uma coligação contra si. O triunfo eleitoral retumbante da chanceler – triunfo que a generalidade dos analistas concorda ser muito mais seu do que seu partido, – não a dispensa de fazer coligações e, consequentemente, concessões. A uma unha negra da maioria absoluta e com os liberais do FDP dizimados eleitoralmente (pela primeira vez desde fundação da República Federal da Alemanha, em 1949, ficarão de fora do Parlamento) Angela Merkel perdeu agora o seu aliado "natural" de governo e terá de virar-se à esquerda.


Grande coligação é o desfecho mais desejado na Europa


Os sociais-democratas do SPD com quem governou no seu primeiro mandato, entre 2005 e 2009, depois de um quase empate eleitoral (35,2% para a CDU; 34,2% para o SPD), são a aliança, à partida, mais óbvia. Mas a antiga ministra do Ambiente que suspendeu a decisão de prolongar o funcionamento das centrais no rescaldo da tragédia em Fukushima não exclui um acordo com os Verdes para formar um Governo capaz de ter maioria na câmara baixa do parlamento (Bundestag).

 

Ao contrário do que sucedeu em 2005, nesta eventual segunda "grande coligação" os sociais-democratas entrarão em clara desvantagem: recolheram neste domingo 25,7% dos votos, mais 2,7 pontos do que nas últimas eleições, mas quase 16 pontos percentuais abaixo da CDU. Em 2005, o SPD ficou com o Ministério das Finanças (então com Peer Steinbrück, o grande rival de Merkel nestas eleições) e, desta feita, esta pasta crucial dificilmente sairá das mãos da CDU, mantendo-se com o veterano Wolgang Schäuble ou (há quem avente) passando para as mãos de Jörg Asmussen, membro da comissão executiva do BCE e próximo do seu presidente, Mário Draghi.

 

Uma "grande coligação" é possivelmente o desfecho mais desejado por toda a Europa. Permitiria algum reequilíbrio na repartição de poder entre as duas grandes famílias políticas europeias no país-pivot do euro, e poderia contribuir para atenuar tensões entre os que opõem o discurso da austeridade ao do crescimento.

Esse cenário corresponderá igualmente ao preferido pela própria chanceler que, neste último mandato, viu por diversas vezes medidas suas de combate à crise serem viabilizadas no Bundestag pelo SPD depois de rejeitadas por deputados do FDP.

 

Uma grande aliança ao centro permitiria ainda a Merkel chefiar um Governo com uma sólida base de apoio também no Bundesrat, onde terão de ser aprovadas alterações à Constituição que possam revelar-se necessárias para prosseguir uma política de salvação do euro. Essa eventualidade poderá colocar-se muito em breve, em função da interpretação que o Tribunal Constitucional de Karslrühe fizer sobre a conformidade do envolvimento do Bundesbank no OMT, o programa de compra de dívida anunciado pelo BCE.

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