No seu habitual artigo de opinião publicado no Diário de Notícias, Mário Soares, antigo Presidente da República, lançou críticas ao actual Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, dizendo que foi um "salazarista convicto no tempo da ditadura".

Com o título de "Portugal não é uma democracia social", neste artigo Soares defende que Portugal está "longe" de ser uma democracia social porque nestes sistemas políticos "o povo é quem mais ordena". Após o 25 de Abril, "surgiu a democracia com os três partidos políticos", ou seja, Partido Comunista, Partidos Socialista e o actual PSD, na altura, PPD.

"Desses partidos resultou, antes de mais, um governo provisório que estabeleceu o Parlamento e a Constituição da República. Desde então e até ao actual Governo, eleito em Junho de 2011, criou-se uma democracia social a sério, na qual participaram os referidos partidos e ainda o Partido Democrata Cristão", sublinha. "Houve muitas mudanças, com coligações, PS e PSD, por exemplo, e diferentes Governos, de Spínola a Costa Gomes e depois presidentes eleitos, o primeiro dos quais foi o general Ramalho Eanes, depois este vosso criado e finalmente o ilustre jurista e advogado Jorge Sampaio. Veio, entretanto, a ser eleito Aníbal Cavaco Silva, membro do Partido de Sá Carneiro [actual PSD], depois de ter sido salazarista convicto no tempo da ditadura", acrescenta Soares.

A eleição de Cavaco Silva é para o antigo chefe de Estado "um desastre". "É um Presidente que só vê o actual partido no poder dirigido por Pedro Passos Coelho. Por isso não antecipou as eleições legislativas (que então pediram para o Governo) para um momento muito próximo do fim do seu mandato", aponta ainda.

Mas as críticas não são apenas dirigidas ao actual chefe de Estado. Mário Soares critica também o Governo.

"O actual Governo, que leva três anos e tal, é responsável por todo o desastre de Portugal e sobretudo dos portugueses. Perderam quase tudo o que tinham conquistado e uma grande parte teve de emigrar".

Soares critica ainda o que se passa em algumas empresas nacionais. "Veja-se a insensatez social total do que se passa na Portugal Telecom, com um Governo a fingir que lava as mãos como Pilatos mas tenta vendê-la a qualquer preço, para a seguir serem despedidos mais de metade dos trabalhadores".

"E o que dizer da TAP, que querem privatizar a todo o custo vendendo-a a estrangeiros sem sequer notarem que a Constituição salvaguarda a liberdade sindical. Isto também prova que não há democracia social. Que desastre!", salienta ainda.