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Marcelo alerta contra "sebastianismo político e económico"
O Presidente da República foi recebido no Porto em clima de apoteose, mas lembrou que está nas mãos dos portugueses que "as crises deixem de ser o único horizonte possível".
Marcelo Rebelo de Sousa pediu esta sexta-feira, 11 de Março, aos portuenses que "jamais troquem a sua liberdade, o seu rigor no trabalho, os seus gestos de luta e de coragem por qualquer promessa de sebastianismo político ou económico". "O futuro é obra de todos, não é dádiva de ninguém", acrescentou.
O novo Presidente da República deixou outro pedido ao povo da cidade Invicta, onde se deslocou para encerrar as cerimónias de tomada de posse iniciadas há três dias em Lisboa. "Nunca se rendam à ideia errada de que quase nove séculos de história ou de poder são obra do acaso, que é uma fatalidade que Portugal esteja votado a ser pobre, dependente, injusto, sem lugar para a vontade dos portugueses", enunciou.
Durante uma breve intervenção no salão Nobre da Câmara do Porto, o Chefe de Estado sustentou uma ideia já muito repetida desde a eleição para a Presidência, a 24 de Janeiro: a de que os portugueses têm de acreditar em si próprios, no que valem e no que podem "para que as crises deixem de ser o único horizonte possível" e "para que seja possível, ao menos de quando em vez, abrir caminho ao sonho".
"Amor à liberdade, exemplo de trabalho e gosto de luta e de combate. Virtudes ancestrais num Porto que nunca cedeu ao desalento, ao pessimismo, ao derrotismo. Como é essencial para todos nós este sublinhado de virtudes, assumidos sem complexos e com desassombro. É que dos nossos defeitos falamos nós e falam outros por nós, em demasia. Portugal precisa de quem recorde a coragem e a tenacidade dos portugueses", sublinhou.
E foi essa mesma recordação que Marcelo Rebelo de Sousa deixou num discurso muito aplaudido nos Paços do Concelho e em que lembrou episódios e figuras históricas da cidade, como o bispo insubmisso ao Infante D. Henrique, a resistência ao poder absoluto, a revolução de 1820 ou o "heroísmo" na vitória sob o Cerco em plena guerra civil.
Manuel do Laço "fura" o protocolo
Depois do passado, o Presidente da República centrou-se no presente de "uma terra geradora de elites" na economia, na ciência, nas artes ou no desporto. E adivinhou "um futuro de grandeza" para a região Norte, dando o exemplo das start-ups que "prefiguram a criatividade de amanhã", dos artistas que "fazem chegar a arte a outras latitudes e longitudes" e dos "invictos a exigirem de si próprios mais espaço para afirmarem mais longe ainda a sua vocação universal".
Estes rasgados elogios foram deixados pelo recém-empossado Chefe de Estado poucos instantes após ouvir Rui Moreira pedir-lhe para projectar a voz contra o centralismo e depois de ter sido acolhido no Porto como uma verdadeira estrela. A gozar ainda de um estado de graça pleno, tal como em Lisboa, Marcelo foi recebido esta sexta-feira com aplausos e gritos de incentivo por centenas de pessoas que aguardaram largos minutos ao sol para saudar o novo Presidente.
Antes da chegada do Mercedes de cor clara que o irá transportar na Presidência, reinava um silêncio pouco habitual na avenida dos Aliados, uma das mais movimentadas da cidade, só interrompido por sirenes de emergência ou pelos apitos da polícia de trânsito nas redondezas, em virtude do condicionamento previsto ao longo do dia.
Num dia em que almoça com várias personalidades na Casa do Roseiral, junto ao Palácio de Cristal, em que visita a galeria municipal Almeida Garrett e que termina no problemático bairro do Cerco, o primeiro pequeno incidente de protocolo aconteceu na subida que dá acesso ao edifício da Câmara quando parou para cumprimentar Manuel do Laço, um conhecido adepto do Boavista, que escapou ao controlo da polícia.
Já no final da cerimónia, Marcelo Rebelo de Sousa acabou por ser "engolido" por uma pequena multidão depois de furar o protocolo de Estado e percorrer durante largos minutos a praça em frente à Câmara do Porto. Num ambiente típico de uma arruada em campanha eleitoral, o Presidente saudou pessoalmente todos os que se aproximaram, para desespero do corpo de seguranças que o acompanhava.
(Notícia actualizada as 12:03)