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Casa cheia em Belém? "É o poder do Marcelo"

O Presidente da República convidou e os portugueses aceitaram o convite. Marcelo abriu este sábado as portas do Palácio de Belém e recebeu os populares um a um.

Liliana Borges LilianaBorges@negocios.pt 12 de Março de 2016 às 21:03

O sol ajuda, mas nem chuva fizesse e muitos seriam, com certeza, os portugueses a fazer fila esta manhã às portas do Palácio de Belém. A ocasião é especial, repetem as centenas de pessoas que às 10 horas esperavam para entrar na Presidência da República. "É o poder do Marcelo", dizem uns. "Ele leva o povo a fazer qualquer coisa", considera outro.

Ao contrário do que se vai ouvindo enquanto se espera, esta não é a única vez em que o Palácio de Belém abre as portas. No entanto, será a primeira vez que será aberto o acesso a áreas normalmente reservadas, como é o caso do gabinete do Presidente. Mas a grande afluência de populares acontece com base na esperança de se poderem cruzar com o novo Presidente da República.

O entusiasmo é tal que a fila se estende da entrada do Museu da Presidência até ao Mosteiro dos Jerónimos, durante cerca de 300 metros. Ainda antes das 10 horas, já há pessoas há mais de uma hora na fila para garantirem que assistem à chegada do Presidente da República no interior dos espaços do Palácio. Enquanto percorremos a multidão vemos pessoas de todas as idades e os ouvidos mais atentos identificam sotaques de várias zonas do país.

Apesar de a visita não ser uma estreia para todos, esta é para a maioria dos presentes (inclusive de muitos lisboetas) a primeira vez que visitam o Palácio de Belém. É o caso de Maria de Lurdes Figueiredo, de 77 anos, que vive em Lisboa há mais de cinco décadas e guardou para hoje a sua primeira visita.

"Passei aqui muita vez e estavam sempre pessoas para visitar, mas nunca vi isto assim", conta a popular. "Ele não deve ter muito tempo para nos atender a nós", antevê, sem grande esperança de conseguir encontrar o Presidente da República. Ainda assim, não se desmotiva. Vem visitar o Palácio por causa de Marcelo. "Sempre desejei que ele chegasse a Presidente", confessa.

Apesar do optimismo em relação ao desempenho do mandato presidencial, a lisboeta deixa espaço para alguma reserva. Afinal, Marcelo ainda agora chegou. "A princípio também gostei do Cavaco", lembra, mas "não tanto como desta vez gosto do Marcelo".

Para agradar, basta-lhe andar

Marcelo é Presidente há quatro dias mas os portugueses aqui presentes já estão convencidos. E para o conseguir o antigo comentador político nem precisou de fazer muito. Bastou-lhe caminhar. Pelo menos essa é uma das conclusões que se retira entre as conversas de algumas pessoas que recordam a cerimónia de tomada de posse, quando Marcelo Rebelo de Sousa chegou à Assembleia da República a pé. "Parecia-me um noivo, quando vai para o casamento e sai de casa dos pais. Assim foi ele. Achei uma coisa muito bonita", partilha Maria da Glória de 72 anos, ao lado de Maria de Lurdes. Apreciam a simpatia, proximidade e simplicidade do novo Presidente, contam.

"Com o Cavaco eu não vinha aqui de propósito", deixa escapar uma outra popular. "Este dá mais luta", conclui Manuel Pinto, outro lisboeta presente.

Se as eleições fossem hoje, Marcelo conquistava ainda mais votos

Tão positiva é a avaliação que são vários os que confessam que não votaram Marcelo nas eleições presidenciais do dia 24 de Janeiro, mas asseguram que o seu curto mandado as faria hoje mudar o seu voto. "Só pela revolução que ele fez, pela alegria que ele deu ao povo, eu votava nele. Sem dúvida nenhuma. Tenho esperança que ele possa efectivamente fazer alguma coisa por Portugal", explica Manuel Pinto. "Se as eleições fossem hoje ele não ganhava com 50%. Ganhava com 70%", analisa o reformado lisboeta. "Fez uma campanha inteiramente só. A presidência é só dele, não é dos partidos. Não deve nada aos partidos, só deve a si próprio. Embora não tenha muitos poderes enquanto Presidente, ele tem enquanto Marcelo um grande poder", conclui.

Caminhamos um pouco mais e encontramos Ivone Leonor, de 67 anos, com o marido junto às portas do Palácio, prestes a entrar. É de Lisboa, mas só veio porque o Presidente é Marcelo. "Se fosse ‘o outro’ não vinha cá", atira o marido. "Não fales assim", responde-lhe a esposa, para logo a seguir encolher os ombros e confessar que o anterior Presidente "não criava empatia".

O tempo passa, o sol queima e há chapéus-de-sol improvisados de cachecóis. Rigoroso cumpridor do programa, o Presidente da República chega ao Palácio de Belém quando faltam cinco minutos para as 11:00. Os populares gritam "Marcelo" e ouve-se um "Presidente do povo" entre os presentes, onde se espreita uma bandeira portuguesa.

Depois do hino um "vamos lá então" e Marcelo sobe pela rampa da porta principal do Palácio de Belém até ao Pátio dos Bichos. A agitação acentua-se e o entusiasmo espalha-se.

Já nos jardins do Palácio e enquanto Marcelo assiste durante uma hora ao render da Guarda Nacional Republicana, Miguel, de oito anos, vai acusando algum cansaço. Nas mãos guarda um livro de História que data aos tempos em que se chamava primeira classe ao primeiro ano do ensino básico. Uma edição especial, presente do Verão passado, conta a mãe de Miguel que espera ver o seu livro autografado pelo Presidente. É a primeira vez que vem ao Palácio e a paixão por história empurrou-o para conhecer o antigo professor de Direito, acreditando que "vai ser um bom presidente".

"Vá jovem, vamos embora"

É o próprio Presidente da República quem marca o ritmo de entrada na Sala das Bicas do Palácio, onde cumprimenta os visitantes junto ao pórtico no cimo das escadas. Quando a fila abranda, e abrandou muitas vezes, Marcelo não perde tempo a apressar os mais distraídos. "Vá jovem, vamos embora", diz a um. Entre abraços e muitos beijos, a fila anda ao compasso das fotografias que todos querem levar no telemóvel e até os membros da Guarda Nacional Republicana dão uma ajuda. Por várias vezes, os agentes acedem aos pedidos das famílias e servem de fotógrafos a quem quer levar uma recordação do Presidente. Sem negar nenhuma foto, para rejúbilo de quem o cumprimenta, Marcelo vai agradecendo e encaminhando quem chega. "Muito obrigado por ter aceitado o convite", repete a cada português. Há cumprimentos emotivos, palmadas nas costas do novo Presidente e nem os bebés escapam aos beijos do Presidente.

Questionado sobre o peso da esperança que se sente nas paredes de Belém, o Presidente da República sublinha que reintroduzir esperança é uma missão de grupo. "Não podemos cair em desespero, em depressão, em angústia. Temos todos de contribuir para essa esperança. Por isso é que eu disse que não há D. Sebastiães na democracia. Não é o Presidente da República nem é o Governo que tem o poder. São os portugueses que vão trabalhar pelo país", afiançou.

A cada português para Cavaco houve dois para Marcelo

Uma esperança para já testemunhada, de acordo com o gabinete do novo Presidente da República, até às 12:30 por cerca de 1.500 pessoas, um número duas vezes superior ao registado nas duas últimas visitas ao Palácio de Belém, durante o mandato de Cavaco Silva.

Para Marcelo Rebelo de Sousa esta é uma altura em que as pessoas se devem sentir "próximas dos símbolos da pátria", citando a "bandeira, o hino, o Presidente e o Palácio de Belém". Mas, "fundamentalmente é preciso que as pessoas se sintam mais próximas umas das outras", asseverou. "A unidade é mais importante do que a divisão dos portugueses", concluiu.

Durante o dia, uma bandeira de cor verde com o escudo nacional - o estandarte presidencial – esteve hasteada no palácio indicando a presença do Presidente. Os portugueses deverão agora ficar atentos à varanda de Belém, uma vez que, segundo Marcelo Rebelo de Sousa, as portas de Belém se deverão abrir "periodicamente", durante os próximos cinco anos do seu mandato, uma vez que quer "momentos de proximidade com os cidadãos".

À saída, o ambiente era de satisfação e destacava-se a "simpatia" e o sorriso constante de Marcelo. "Nunca tivemos nenhum Presidente como ele", ouviu-se.

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