Notícia
Robalo ao vapor no primeiro almoço oficial de Marcelo
Marcelo oferece um almoço em Belém, onde entrou esta quarta-feira, 9 de Março, pela primeira vez como Presidente da República. Antes passou pelos Jerónimos, onde depositou flores nos túmulos de Camões e Vasco da Gama.
É cerca da uma da tarde quando Marcelo Rebelo de Sousa sobe, pela primeira vez como Presidente da República e sem a companhia da família, a rampa que dá acesso ao Palácio de Belém, onde o espera o seu primeiro almoço oficial. Lá fora, um grupo de algumas centenas de pessoas aplaudiu, o batalhão presidencial tocou o Hino Nacional e Marcelo passou revista às forças militares. Choveu um pouco, mas ninguém abriu um chapéu-de-chuva ao novo chefe de Estado.
A manhã estava prestes a encerrar. Uma manhã muito intensa, que começou na Assembleia da República, onde o novo chefe de Estado prestou juramento e onde chegou a pé, descendo a Calçada da Estrela sozinho com os seus seguranças. Uma decisão inesperada e, contudo, pouco surpreendente vinda de Marcelo Rebelo de Sousa.
A seguir estava prevista uma passagem pelo Mosteiro dos Jerónimos, onde seriam depostas coroas de flores nos túmulos de Camões – como de costume nestas cerimónias – e no de Vasco da Gama – uma novidade nesta tomada de posse.
À entrada do Mosteiro, João Soares, ministro da Cultura, o prior de Santa Maria de Belém, José Manuel dos Santos Ferreira, e a directora do Mosteiro, Isabel Cruz Almeida, aguardavam a comitiva. Lá fora, algumas dezenas de pessoas esperavam também pelo novo Presidente. A maioria turistas apanhados desprevenidos e que nem sabiam bem o que iria acontecer. Alguns, poucos, portugueses deslocaram-se especialmente para assistir, ainda que à distância, à chegada de Marcelo.
Uma senhora do Zimbabwe, de visita a Lisboa, comenta: "Vai ser abençoado pela igreja, não é?". Na verdade não é bem isso. Marcelo aproxima-se dos túmulos, onde previamente duas sentinelas depositaram as coroas de flores, e ajeita as fitas com as cores da República. Depois fica alguns minutos em silêncio, de pé no meio da igreja, tudo em linha com o protocolo.
A cerimónia prossegue com uma breve visita pelo Mosteiro e, nos claustros, o Presidente assina o livro de honra, debaixo dos cliques das máquinas fotográficas que o seguem e disparam incessantemente. A ideia era que apenas assinasse, mas Marcelo escreveu durante alguns minutos. É católico e a passagem pela Igreja de Santa Maria de Belém há-de ser, para si, um dos momentos mais intimistas da cerimónia.
Segue-se o Palácio de Belém, onde decorrerá o almoço. Há convidados de honra, como o rei de Espanha, o presidente moçambicano, Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia. Estão também presentes António Costa, os presidentes dos supremos tribunais e do Constitucional, o ministro dos Negócios Estrangeiros, o ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso. São 24, contando com Marcelo.
Na cozinha há alguma afobação, mas nada que deixe em nervos o pessoal, habituado a eventos do género. À entrada serve-se creme de espargos com pinhões torrados e, como prato principal, robalo ao vapor. Com aromáticos e couve-flôr.
Uma refeição leve, em que só nas sobremesas se apostou um pouco mais. Há gelado de iogurte, "coulis" de frutos vermelhos, telha de arroz doce, praliné de frutos secos e laranja com casquinha. A acompanhar, vinho branco Meruge, do Douro.
Aqui as portas fecham-se aos jornalistas. Já só é permitida a recolha de imagens a partir do jardim, de um lado o Tejo, do outro a varanda onde Marcelo se desdobra em conversas com os convidados que tomam um beberete antes da refeição.
Até meio da tarde, o novo Presidente fica em Belém. Depois segue para a Mesquita de Lisboa, onde está prevista uma cerimónia ecuménica, com representantes de várias confissões religiosas. O dia está ainda longe de terminar, que o protocolo é longo e pesado. Marcelo Rebelo de Sousa, aparentemente, já está mais do que habituado a ele e move-se com o à vontade que lhe é habitual.
Será um bom Presidente? Ana Gaivéu, uma setubalense que veio a Lisboa com duas amigas francesas que estão cá de férias, diz que "ainda é cedo para saber". "Não votei nele, mas gosto dele como pessoa. Gosto do discurso dele. Mas falam todos tão bem, não é?".